Análises

Ninja Gaiden Sigma

“Uma letrinha do alfabeto grego faz uma diferença…”

Ninja Gaiden, por certo, foi um dos melhores, se não o melhor remake de um sucesso das antigas, no período de tempo que engloba as últimas três gerações de consoles. Na verdade, o simples fato de um remake ser bom já é digno de alegria, pois são na maioria das vezes, bombas destruidoras de corações gamers. Se assim o é, o que dizer de um game que não só é bom, mas também um dos melhores games de uma geração inteira?

Felizes e orgulhosos foram os detentores de um Xbox, uma vez que era o único console que conseguia rodar Ninja Gaiden, devido ao seu, comprovadamente, mais poderoso hardware de sua geração. Desejosos, e até mesmo invejosos, eram os possuidores tão somente de outro console, pois não poderiam desfrutar de Ninja Gaiden. Digo isso por experiência própria.

Um sequência de Ninja Gaiden para a nova e poderosa geração vindoura de consoles já era esperada, e pouco tempo mais tarde anunciada, tão somente para o Xbox 360. Mas eis que a Tecmo, para a alegria dos possuidores de um Playstation 3, anuncia que um Ninja Gaiden estava em desenvolvimento para o console da Sony, não a nova encarnação de Hayabusa, mas sim uma versão de luxo, com adições e melhorias, tanto no visual, quanto no gameplay e storyline, do sucesso da geração passada. Até mesmo o título do game ganhou uma adição. Surge assim Ninja Gaiden Sigma.

A primeira, mais notável e mais óbvia adição de Ninja Gaiden Sigma com relação ao original se dá no salto de qualidade visual. Não somente pelo fato de estar rodando em qualidade HD a 720p, mas também por ter ganhado um melhor tratamento estético.

Os personagens, aliados e inimigos, ganharam mais detalhes visuais tridimensionais do que o possuíam, e de quebra, tiveram todos os detalhes que antes não passavam de texturas bidimensionais simulando alto relevo, substituídas por efetivos detalhes com diferenciação de relevo tridimensionais. Esse “perfumaria” visual permitiu que todas as cut-scenes, antes em CGs, fossem substituídas por cenas apresentadas usando a própria engine gráfica do jogo.

Os cenários ganharam uma perfumaria similar aos personagens, no entanto ainda passam a sensação de que poderiam apresentar mais detalhes e mais vida, ainda assim, graças a uma grande melhoria do sistema de iluminação em tempo real, alguns cenários impressionam como é o caso do dojo em chamas na segunda fase do game.

Apesar das melhorias no visual, os personagens ainda possuem um aspecto muito límpido e liso, o que os deixa um pouco artificiais. Ninja Gaiden para Xbox possuía também tal aspecto artificial nos personagens, mas não dá para usar essa desculpa como justificativa em Ninja Gaiden Sigma, afinal, a diferença entre os hardwares de Xbox e PS3 são abismais. Aliás, tal fato parece ser simplesmente uma escolha da Tecmo para os games da série, já que todos os outros games de Ninja Gaiden possuem esse mesmo “defeito”.

Para compensar tal artificialidade, o game continua, como era de se esperar, com uma direção de arte fantástica, que faz nossos olhos pararem de reparar qualquer singular malquerença visual e apreciar o contexto geral, que é digno de aplausos.

Ninja Gaiden Sigma também herdou do game original as fabulosas e fluentes animações dos personagens enquanto a ação se desenrola. É realmente compensador eliminar hordas de inimigos enquanto contempla os belos movimentos, esteticamente falando, sendo executados por Hayabusa. Os inimigos também prezam por essa fluência de movimentos, o que faz das batalhas um deslumbre visual.

Na verdade, Ninja Gaiden Sigma no quesito visual, em 85% do tempo, dá a impressão de que estamos jogando a versão de Xbox em alta definição, pois as melhorias aplicadas não alteraram tanto o seu aspecto geral. Nas cut-scenes é que o jogador tem a noção de o como o game está mais belo do que o original. Tal fator não é algo necessariamente ruim, mas deixa claro que a intenção de Tecmo com Sigma não era, nem de perto, forçar o Playstation 3 assim como forçou o Xbox. Mesmo porquê, não poderia, afinal, o Playstation 3 estava apenas engatinhando na época do lançamento do game.

Por falar em batalhas e na ação do game, Ninja Gaiden Sigma manteve inalterado o sistema de batalhas do game original. O mesmo esquema de “mira”, a mesma velocidade e o mesmo perigo durante as batalhas. Os mesmos movimentos acrobáticos, que somente um ninja como Hayabusa poderia realizar, e o mais importante, a mesma sanguinolência e decapitações da versão para Xbox. Isso significa que o jogador estará diante de um dos melhores sistemas de batalha da história dos games, ao mesmo passo em que estará diante de um dos games mais intolerantes à incompetência de um jogador com o controle na mão das últimas gerações de consoles.

É incrivelmente simples realizar as sequências de golpes assassinos e todos os movimentos acrobáticos de esquiva de Hayabusa. Mesmo um jogador inexperiente pode pegar o controle e aplicar belos e destruidores golpes, no entanto, os inimigos em Ninja Gaiden Sigma são atuantes e nervosos, atacando com muito vigor a todo o momento. É possível, em um único momento de distração, ser atingido mortalmente pelo mais simplório inimigo do game. É necessário estar em constante concentração e conhecer bem as forças e habilidades de Hayabusa para sobreviver às batalhas mais intensas.

As lutas contra os chefes chegam ao limiar da covardia. Existem chefes que são tão apelões a ponto de, com somente dois golpes, matar o Hayabusa. E não pense você que os chefes aqui são seres com poucos ataques e passivos. Em Ninja Gaiden Sigma, se você tentar fugir dos chefes, eles lhe seguirão e lhe baterão até não sobrar mais nada de seu ninja.

É preciso aprender a usar correta e velozmente, todo o arsenal de golpes de Hayabusa para ter uma chance no game, ou então morrerá em demasia, mas acredite, é ai que está grande parte da diversão. Ninja Gaiden Sigma tem algo que desde a era 16 bits pouco se vê em um game, dificuldade.

Mais importante ainda do que saber atacar é saber se defender. Com somente um toque no botão correspondente Hayabusa executa sua defesa, que o permite defender não somente ataques físicos dos inimigos, mas também projéteis quaisquer durante o jogo. Com esse mesmo botão, ativávamos a esquiva, que não o deixa invulnerável durante a mesma, ou seja, é necessário executá-la no momento correto de verdade.

Muito se reclama da dificuldade de Ninja Gaiden Black e Ninja Gaiden Sigma, mas a verdade é que os jogadores da época pós-playstation ficaram muito mal acostumados com facilidades demais nos games. Antigamente a coisa era feia, tão feia quanto o é em Ninja Gaiden Sigma. É divertido “sentir ódio do game” por não passar pela trigésima vez a mesma fase, pois é extremamente compensador quando, na trigésima primeira vez, conseguimos passar.

Como adições à Ninja Gaiden, Sigma possui novas armas a disposição de Hayabusa, o que aumenta o leque estratégico e destruidor do ninja da Tecmo. Além disso, sua deliciosa / voluptuosa / gostosa companheira de batalhas do Ninja Gaiden original Rachel, aqui retorna não somente fazendo pontas nas cut-scenes, mas fazendo parte também da ação.

Em Ninja Gaiden Sigma, Rachel ganhou seus próprios estágios para eliminar demônios se utilizando de sua enorme foice (para mim aquilo é uma foice), e o resultado é muito bom. Os ataques de Rachel são mais lentos que os de Hayabusa, mas como a arma de “loirona” é muito maior e mais ignorante do que as armas padrões do ninja, seus golpes são muito mais fortes e devastadores. Devido a essa diferença de velocidade, a dinâmica das batalhas travadas com Rachel é diferente, mas igualmente gratificante e difícil.

Hayabusa e Rachel tem seus próprios Ninpos, que não mais são do que poderes que podem ser usados para aniquilar um ou mais inimigos de forma mais rápida e efetiva. Enquanto Rachel tem somente um Ninpo o game todo, Hayabusa possui vários, que podem ser selecionados no menu e opções assim que adquiridos, seja encontrando os scrolls das técnicas durante a jornada, seja comprando.

Entretanto nem tudo são flores, pois o esquema de posicionamento e dinâmica da câmera também se manteve igual ao game original, o que ocasiona, não poucas vezes, momentos de ponto cego com relação aos inimigos. Em um game difícil e movimentado como é Ninja Gaiden Sigma, poucos momentos não vendo onde estão os inimigos pode significar morte certa. Apesar deste sério, mas corriqueiro problema em se tratando de games de ação ou aventura tridimensionais, o sistema de câmera tem seus bons momentos. O melhor deles é um zoom que a câmera aplica em momentos de maior tensão, ou mesmo em ataques de maior impacto, o que aumenta a importância do momento.

A trilha sonora de Sigma segue o padrão deixado pelo game do Xbox. Instrumentos como guitarra e bateria, música eletrônica e até mesmo instrumentos de corda orientais se mesclam, fazendo o jogador entrar no clima, tanto de estar controlando um ninja, o que por si só é uma “experiência nipônica”, quanto de estar destruindo a todos e sendo o “fodãozãozalhão!”. É uma trilha bem variada e competente, mas não possui uma música sequer que ficará em sua mente após as partidas, faltou na trilha sonora de Sigma, uma música de proporções épicas. Seria fantástico…

Quanto ao enredo do game, deixa pra lá. É bobinho, clichê, sem inspiração e só serve mesmo como desculpa para a ação rolar. Games de ação não costumam mesmo possuir bons enredos, sequer considero isso um demérito em Ninja Gaiden Sigma.

Ninja Gaiden Sigma com certeza não causou o mesmo impacto que Ninja Gaiden para Xbox. Por certo Sigma não tem a mesma importância histórica no mundo do entretenimento eletrônico que o original possui. Mas é certo dizer que Ninja Gaiden Sigma é a versão definitiva deste fantástico game de ação, que trouxe de volta o ícone dos 8 bits, Ryu Hayabusa.

Se você ainda não teve a chance de experimentar Ninja Gaiden em todo o seu poder no Xbox, comece por Sigma, pois por certo é a melhor forma de adentrar ao mundo de ninja da Tecmo. Caso já tenha jogado o game no console da Microsoft e tenha apreciado, dê uma chance a Ninja Gaiden Sigma, pois as adições, se não revolucionam o original, melhoram tudo o que o original possuía de bom, e de quebra, melhoram alguns aspectos que possuía de ruim.

Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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