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No Man’s Sky

Revelado ao mundo na E3 de 2014, No Man´s Sky foi usado pela Sony como um de seus “games de vitrine” para o Playstation 4 desde então. O jogo da pequena Hello Games prometia um gameplay praticamente infinito, focado na exploração de planetas únicos ao redor de uma galáxia inenarravelmente gigantesca.

Para o cumprimento de tal promessa o jogo trabalharia com criação de conteúdo procedural, o que, em teoria, garantiria experiências únicas e virtualmente ilimitadas para cada jogador.

A cada nova apresentação do game, tanto Sony quanto Hello Games aumentavam mais ainda o hype do produto. Infelizmente, No Man´s Sky apesar de entregar boa parte das promessas, não consegue se sustentar enquanto um bom game.

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As primeiras horas de No Man´s Sky são arrebatadoras. O game consegue transpor o quão pequeninos somos dentro do enorme universo proposto. Os primeiros planetas a explorar enchem os olhos e são absolutamente diferentes entre si, a exploração é simples e aparentemente compensadora. Tudo parece incrível e à primeira vista No Man´s Sky consegue ser tudo o que prometeu.

Infelizmente, após essa primeira boa impressão o game começa a mostrar que apesar de realmente proporcionar um vasto universo e de a criação dinâmica e procedural realmente funcionar, há muito pouca variação de conteúdo interativo.

Sendo o foco do jogo a exploração para obtenção de itens necessários para o prosseguimento no game e descobrimento de novos planetas e espécies animais e vegetais, me surpreende o como são pouco variadas as formas de exploração dos planetas, bem como a facilidade em que se consegue todo e qualquer item de que se necessite.

Se há pouca variedade de exploração em um game que se foque na mesma, rapidamente esse elemento se torna monótono. Se não há desafios reais para a obtenção de itens importantes para o prosseguimento da jornada, parte da finalidade e diversão dessa busca se esvai. Se um jogo não desafia o jogador e é monótono, esse jogo fracassou em ser um competente produto de entretenimento eletrônico. Simples assim.

Dada a somatória dos fatores acima expostos, jogar No Man´s Sky se torna rapidamente tão somente um passeio pelo enorme universo oferecido pelo jogo e isso não é muito divertido.

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Poderiam quebrar essa falta de variedade e a monotonia as seções de combate. Infelizmente, no solo ou no espaço, os combates do game são absolutamente simplistas, não proporcionando nenhum desafio real.

Ninguém aqui está considerando que o game tinha de se sustentar em tiroteios, afinal de contas a proposta de No Man´s Sky nunca foi ser um FPS. O que está sendo considerado aqui é que tal elemento poderia ter auxiliado que o game fosse um produto superior se fosse melhor trabalhado. Assim como a exploração, o tiroteio é superficial e pouco variado.

O visual do game é competente quando analisado artisticamente. Os tons pasteis prioritariamente utilizados ajudam bastante na imersão do game e a construção de planetas e personagens não deixam a desejar. Infelizmente a falta de variedade ataca esse setor também.

Como já dito, o game constrói absolutamente todos os planetas de maneira procedural e é isso que possibilita o suposto infinito universo. Entretanto as construções se utilizam dos elementos isolados disponíveis, como partes de fauna e flora, entre outros. Ou seja, ao longo da jogatina o jogador vai se deparar com muitas construções extremamente parecidas com outras já vistas, o que quebra um pouco com a ilusão muito bem criada pelo próprio game de um universo inexplorado.

A criação procedural cria alguns outros problemas, como construções bizarras de animais. O jogo junta partes de diversos animais pré-existentes diferentes e “cria” um bicho novo. Espécies novas e criativas de animais sempre são bem vindas, mas em No Man´s Sky isso não funcionou muito bem, trazendo muito mais estranhamento do que criatividade nesse quesito.

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Outro problema com relação aos animais dos planetas é a fraquíssima I.A. De que adianta o game possuir “n” espécies distintas se todas se comportam exatamente das mesmas maneiras?

Problemas de I.A. também são claramente encontrados nos poucos inimigos do jogo oferece.

Um fato estranhíssimo é dar de cara com dois NPCs de aparência idêntica em lado opostos do universo. Não é possível que com as inúmeras opções de criação o game conseguiu criar dois personagens idênticos.

O design de menus é estiloso e lembra um pouco a estética usada pela Bungie em Destiny. Apesar da boa aparência, o inventário é inexplicavelmente tenebroso. Como ainda conseguem errar a mão em aspectos como gerenciamento de itens a essa altura do campeonato me é inexplicável.

Infelizmente não há linha narrativa para dar liga à exploração, o que faz com que o todo se torne bem vazio. É compreensível imaginar que isso dê ao game um tom abstrato que seria relevante ao conceito do jogo, mas dado o gameplay que sozinho não segura as pontas, seria interessante ter algo a se acompanhar.

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A trilha sonora, assinada pela 65daysofstatic, é possivelmente o único acerto inquestionável de No Man´s Sky. Ela cria o ambiente necessário para uma aventura interplanetária solitária e épica.

Lembro-me nas apresentações do game, desde a E3 2014, de os produtores dizerem que o game seria tão vasto que dificilmente um jogador se encontraria com outro ao longo da jornada. Esse tipo de informação implícita que o game possuiria multiplayer online, o que decepcionantemente não ocorre.

Dada a proposta do game era possível imaginar boas e inusitadas maneiras de se criar conteúdo online cooperativo e até mesmo competitivo. Infelizmente, assim como basicamente em todos os outros aspectos do game, encontramos aqui mais um desperdício.

Dado o produto final, não sei se No Man´s Sky foi realmente inicialmente concebido para ser um game AAA ou se somente um indie ambicioso que ganhou status de “game grande” por conta da Sony. Ironicamente, imagino que se o game tivesse sido lançado sem o enorme hype que o envolveu desde 2014 e a um valor mais acessível, como ocorre usualmente com indies, ele teria se dado muito melhor.

Não consigo identificar nada de superlativo, além da tecnologia da construção procedural, em No Man´s Sky. É um game com conceitos e ideias incríveis, mas que foram absolutamente desperdiçados devido a pobre execução de cada uma de suas instâncias.

No Man´s Sky está disponível para Playstation 4 e PC.

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Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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