O início de tudo (parte 1)

Como começou sua vida gamística?

A minha foi a muito tempo atrás, com o Odyssey 2.

Minha mãe voltava de viagem, lá pelos idos de 1984, trazendo um presentão. Uma caixa enorme, em que vinha o tal videogame. Com ele, vieram vários cartuchos, senão me engano uns 15 ou 20. Pois é, na época minha mãe tinha boas condições financeiras, e isso me possibilitou experimentar muita coisa que pra época, seria um verdadeiro sonho para muitos garotos da minha idade. Apesar de ser bem novinho, eu me lembro bem dos joguinhos.

O Odyssey 2 e seu “Didi Na Mina Encantada“, que na verdade só se aproveitou do sucesso dos trapalhões, lá fora era um tal de “Pick Axe Pete”. Também havia um come-come, que nada tinha a ver com o da Namco, era na verdade uma cópia, provavelmente ilegal, mas que divertia muito. Aqui no Brasil era “Come-Come” 1 e 2, lá fora o game tinha o nome de “K.C. Munchkin!“.

Fiquei me divertindo muito tempo com o Odyssey 2. O troço fazia tanto sucesso, que até adultos se interessavam. Perdi várias horas jogando com meu padrasto, e até meu pai quando vinha me visitar gostava de jogar o “K.C. Munchkin!”. Meu irmão mais velho então, sempre que podia me tirava da frente do videogame pra ficar no meu lugar. Lembro que ele gostava muito de um jogo de fliperama, que vendo hoje é totalmente ridículo, mas pra época era demais.

O Odyssey 2 foi ficando velho com o tempo, e saiu a grande novidade da época, o Atari 2600, da Polyvox. Sim, no Brasil ele foi lançado meio que na surdina, graças à reserva de mercado, as empresas desciam o cacete na pirataria “legal”. Ou seja, uma indústria copiava um console que saiu lá fora (Atari 2600), e vendia por aqui sem pagar nenhum direito à Atari. Isso aconteceu também com todos equipamentos de informática, como MSX, ZX Spectrum, etc… Mas falava do Atari 2600.

Todo moleque que se prezava tinha que ter um videogame daqueles. Não demorou muito, eu ganhei o meu. Infelizmente, o Atari 2600 da Polyvox tinha síndrome de Xbox 360, e de vez em quando queimava. Tinha que levar na autorizada, lembro bem do meu avô me levando lá pra arrumar o videogame. Depois de uns dias funcionando novamente, voltava a dar pau. Parece que a fonte não aguentava, sei lá. Também ninguém mandava ficar o tempo todo no videogame. Os jogos que mais me fascinaram na época foram “Fishing Derby” (foi com ele que senti o cheior de queimado a primeira vez), além de “Frontline”, pra época um jogaço.

Minha mãe viajou para os Estados Unidos e trouxe alguns presentes, entre eles um cartucho sensacional. Foi alí que percebi, mesmo criança, como os produtos americanos davam de 20 a 0 em qualquer outro nacional. O cartucho em questão era “Adventure“. Vinha com um gibi original da Atari, com histórias e tudo mais, além de um manual enorme, com figuras lindíssimas, que nada tinha a ver com o jogo. O game você era um PIXEL QUADRADO AMARELO, mas com a ajuda do manual, você acabava imaginando que era um guerreiro entrando em um mundo fantástico e tinha que invadir um castelo pra matar um dragão.

Adventure consumiu boa parte das minhas horas diárias. O dragão, que hoje olhando com um olhar crítico, mais parece um pato desengonçado, era meu terror. Correndo com o pixel pelos limitados labirintos, me sentia realmente inserido na ação. Coisa de louco.

É claro que toda essa aventura diária só fazia com que meu videogame se auto-destruísse, como hoje acontece com meus X360 (já foram 2 pro saco). Então eu tinha que me controlar pra jogar menos, e assim que sentisse o cheirinho característico de queimado, voltava pra meus GI JOEs que era outro sucesso da época. O Odyssey 2 então coitado, nem me interessava mais. Ficava literalmente relegado aos fundos do armário.

Devido a rivalidades que persistem até hoje, meu irmão não deixava que eu entrasse no quarto dele. Ele tinha uma pequena maravilha tecnológica lá, um MSX, que até então eu nunca havia visto ligado. Foi melhor pra mim assim, pois o impacto que tive com outro microcomputador na época ecoa até hoje em meu cérebro.

Um dia viajei pra fazenda de uma tia/prima. Lá meu tio, irmão da minha mãe me mostrou um aparelho que simplesmente mexeu comigo e até hoje graças aquilo, estou nesse ramo. Ele tinha comprado um TK 90x, o ZX Spectrum brasileiro (mais pirataria legalizada, pois é).

Simplesmente os jogos do ZX abalavam qualquer coisa vista na época. Veja bem, os jogos pra Odyssey 2 era bem feinhos, apesar de divertidos. Os do Atari 2600 já eram um pouco mais aperfeiçoados, com mais linhas na tela e detalhes que chamavam a atenção…

O ZX Spectrum tinha sprites que se movimentavam na tela, com animações, rudimentares, mas que brilhavam os olhos de qualquer ser dos anos 80. Veja abaixo uma imagem de um jogo do ZX Spectrum.

Hoje pode ser tosco, mas na época era o terror. Personagens bem construídos, jogabilidade gostosa, até porquê a maioria dos jogos 8bits antigos, dos Ataris e Odysseys da vida eram sofríveis, problemáticos, você passava muita raiva com aquilo, mas no final até que divertia. Mas jogos com o acima, no caso KnightLore, destruíam tudo que havia até então, e sua mente começava a pensar que o futuro era ali, agora… Não havia como evoluir mais.

Obviamente pedi para minha mãe um computador igual, mas acabei ganhando um TK95, que era mais “profissional” 😀

Na verdade era a mesma coisa, só o teclado mudava, ao invés de teclas de borracha (isso mesmo), ele tinha teclado igual dos PCs da época, que nessa época eram uma merda, só funcionavam com monitor fósforo verde e rodavam só aqueles troços chatos de planilhas de cálculo, etc…

O que eu queria era jogar! E jogos o TKzinho tinha demais. Vale lembrar que nessa época, indústria de games no Brasil era uma coisa de louco. A pirataria imperava em todos os cantos, não havia sequer uma distribuidora oficial. Graças claro, à reserva de mercado que o Collor fez o favor de acabar.

Os jogos eram carregados em fita cassete. Cada joguinho, como o acima demonstrado, levava de 10 a 15 minutos pra carregar. Ou seja, ao contrário dos cartuchos que eram instatâneos, os jogos pra computadores precisavam de tempo. Era o preço a pagar por jogos muito mais bem elaborados. Fazer o quê?

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O ZX Spectrum tinha apenas 8 cores. Isso não refletia em nada, os gráficos melhores elaborados além da boa biblioteca de títulos supria a minha necessidade gamística. Fui muito feliz com esse micrinho… Mas tinha coisas melhores.

Aproveitei que meu irmão tinha ido morar uns tempos nos Estados Unidos, e enfim tive acesso ao quarto do sacana. Claro que em minha fúria de curiosidade, me apossei de seu MSX. Meu tio claro, foi cúmplice, afinal meu irmão nem ligava o bichinho.

O MSX também era o mesmo esquema na época, por fita cassete. Um dos primeiros jogos que vi rodando foi “GangMan“, um joguinho tosco da Hudson Soft, em que você devia prender bandidos que acabaram de assaltar um banco. Era legalzinho mas enjoava rápido. O que realmente me fez apaixonar pelo MSX foi um jogo da Konami, muito especial, Knightmare.

O jogo apresentava um viking de azul correndo por campos cheios de inimigos como morcegos e monstros. No final da fase um confronto contra a Medusa. Claro que não entendia lhufas do que se tratava a história do jogo, mas adorava assim mesmo. Um tempo depois tive contato com um manual traduzido que contava a história de Popollon que deveria libertar Afrodite das trevas. Bem, aí sim tive ainda mais tesão pelo game, e corri atrás de terminá-lo. Utilizando as poderosas SELECT+Y+N conseguia vantagens que nos videogames da época não existiam. Ou seja, podia de certa forma, trapacear, mas por uma boa causa. Terminei o game, mas depois de acabar vinha uma segunda rodada ainda mais difícil. Aí larguei.

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O jogo além de ter gráficos coloridos, boa história, jogabilidade viciante, personagens carismáticos ( 🙂 ) tinha um som fenomenal pra época, em estéreo! Pra melhorar as coisas o Expert (MSX brasileiro que eu roubei do meu irmão) tinha uma caixa de som embutida, que em conjunto com o som via TV, produzia um efeito muito legal, pra época claro.

Bom foi assim que tudo começou. Depois disso tive contato com o MSX2 com jogos ainda mais violentos, e o encontro que mudou definitivamente minha vida gamística caseira: o Commodore Amiga. E isso muuuito tempo antes de colocar as mãos no Mega Drive, Super Nintendo e logo depois 3DO. Isso vou deixar pra outro post.

Vida longa aos 8 bits. Fui privilegiado por ter tido contato com essa tecnologia desde cedo. Na época era feliz e não sabia.

E veja abaixo um fã brasileiro maluco acabou fazendo uma versão caseira pra Atari 2600 do “Knightmare“. Esse é doido varrido mesmo! Ele teve as manhas de fazer até o confronto com a chefe Medusa!

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Sammy Anderson

Fundador do GameHall e produtor do programa Versus.

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