Análises

Parasite Eve

Parasite Eve

Como a maioria já deve estar ciente, Aya Brea está regressando ao mundo dos games após tanto tempo sumida. Será um game com muita ação para fazer ferver seu PSP. Aproveitando esse momento decidi repassar aqui as duas prévias aparições de Aya Brea no mundo dos games, sendo a protagonista em ambos. Darei inicio a esse meu “ode” a uma de minhas personagens favoritas realizando a análise de sua primeira aparição.

Após Final Fantasy VII, marco global, e porque não galáctico, dos RPGs no mundo dos games, era bastante esperado o qual seria o próximo grande projeto da Square. Obviamente muita gente torcia para o anuncio de um próximo Final Fantasy, já outros torciam para um grande projeto diferenciado, mas com o mesmo peso e qualidade de Final Fantasy VII.

Nesse contexto é revelado Parasite Eve e a Square não poupou esforços para fazer um grande “auê” em torno do game. A produtora prometeu ao jogadores um sistema de combate superior em ação à Final Fantasy VII e com a mesma qualidade de estratégia, prometeu um visual superior, uma história mais intrigante e adulta, além de CGs mais belas e abundantes do que Final Fantasy VII. Promessas audaciosas, mas que a Square fez questão de fazer e manter. Se tais promessas foram cumpridas, total ou parcialmente, é o que tentarei passar a vocês.

Prólogo

É véspera de Natal. Toda Nova Iorque está enfeitada devidamente para a festiva data. Uma cena rápida em CG mostra alguns pontos turísticos da cidade e da Ilha de Manhattan, o que inclui a Estátua da Liberdade. Dentre as regiões mostradas está o Carnegie Hall, um gigantesco anfiteatro para apresentações teatrais. Naquela noite uma apresentação inesquecível está prestes a começar. Uma limusine se aproxima à entrada do Carnegie Hall e assim a CG se encerra.

De dentro da limusine sai uma bela loira, com um vestido tubo preto, o que acentua as belas curvas da mulher. Essa mulher é Aya Brea, uma detetive do 17º Distrito da N.Y.P.D. Ela se encontra com seu acompanhante e ambos adentram ao Salão de apresentação para apreciar a peça.

Em dado momento da peça, Melissa, a atriz principal da peça, inicia seu ato musical, cantando uma bela ópera. Durante a execução de seu ato Melissa olha profundamente para os olhos de Aya, seus olhos tomam um “ar” estranho e imediatamente um dos atores que estava no palco começa a sofrer auto combustão, ficando completamente envolto em chamas. E assim esse ato, envolto por uma bela ópera, termina em tragédia. Todos os expectadores começam a espontaneamente pegar fogo e morrerem desesperadamente em chamas, todos menos um: Aya Brea.

O fim deste trágico ato se dá com todos e tudo em chamas, enquanto Melissa continua a cantar em meio ao fogo. Sem saber o porque de tudo aquilo estar acontecendo, ou mesmo o porque de ela ter sido a única a não ter sido consumida por chamas, Aya Brea se levanta de seu lugar, de arma empunhada, olhando para Melissa que continua a cantar.

Não mais que depressa Aya vai de encontro a Melissa. Ao ver Aya, Melissa diz coisas até então sem sentido sobre Aya, sobre mitocôndrias, sobre combustão e começa a atacar Aya com poderes inexplicáveis para a policial. Em dado momento da batalha Aya sente seu corpo em um alto calor interno. Nessa momento Melissa diz algo sobre o acordar de Aya e foge para atrás do palco. Aya a segue, sem compreender muita coisa, para não dizer nada, do que aconteceu ali.

Atrás do palco se encontra um buraco que dá acesso a parte inferior do Carnegie Hall, onde se encontram os camarins e afins. Nesse momento a polícia chega no local, tendo a visão de um espetáculo de terror. Assim começa Parasite Eve, uma introdução de game que, para quem aqui vos escreve, é uma das introduções mais “excitantes” e instigantes criadas até então para um RPG. Muitas perguntas no ar e uma estética muito impactante.

Personagens Principais

Aya Brea: É a personagem principal do game e a única que o jogador controlará durante todo o jogo. É uma detetive do 17º Distrito da N.Y.P.D., atuante nesse distrito somente a seis meses. Depois de ir apreciar uma peça do Carnegie Hall na véspera do Natal, e participar do terrível desastre que ali ocorreu, Aya nunca mais será a mesma. Descobrirá segredos de si mesma inimagináveis.

Daniel Dolls: É o instrutor e parceiro de Aya no 17º Distrito da NY.P.D. Um homem justo e até certo ponto sábio, tem como única pessoa para chamar de família seu filho Bem, de somente oito anos.

Hans Klamp: Um brilhante cientista, de talento indubitável, reside por vontade própria no Museu de História Natural Americano, localizado em Manhattan. Seus trabalhos e pesquisas sobre as mitocôndrias começam a ganhar notoriedade devido a seu conteúdo. É um personagem chave para desvendar, dentre outros, o mistério acerca do ocorrido no Carnegie Hall.

Kunihico Maeda: Sempre vestido em farrapos e sem interesse em absolutamente nada que não seja científico, Maeda trabalha em uma faculdade japonesa no setor de departamento farmacêutico. Depois de um incidente misterioso com um ser chamado Eve, ele orientou todos os seus esforços no estudo e compreensão sobre as mitocôndrias.

Melissa: Uma cantora de ópera que atua em peças de teatro. Muito talentosa, espera ansiosa pela chance de ter seu próprio solo em uma peça importante. Nas semanas que antecediam o espetáculo no Carnegie Hall, Melissa se sentia muito mal, tomando muitos medicamentos para “se manter”. Estava escalada para ser a substituta da atriz que atuaria na peça, no entanto, a atriz faleceu pouco antes da apresentação, fazendo com que Melissa conseguisse sua chance de brilhar. Quando pequena, Melissa ia frequentemente ao hospital e sempre trazia consigo algum tipo de medicamento.

Eve: É o “ser” que se apossou do corpo de Melissa e que criou todo o espetáculo de horror visto no Carnegie Hall. Tem o poder de controlar as Mitocôndrias dos seres ao redor de si, fazendo-os entrar em auto combustão. Toma mais de uma forma ao redor do jogo e é a antagonista do game.

Esses são os personagens principais do jogo, detalhados o tanto quanto o achei possível, não contendo spoilers muito importantes.

Visual

Seguindo o padrão “Final Fantasiano”, Parasite Eve possui personagens construídos tridimensionalmente, processados em tempo real, e cenários pré renderizados, para dar a eles o clima de CGs paradas. Lembremo-nos que este game é pré Final Fantasy VIII, tendo isso em vista, analisarei o visual de Parasite Eve.

As CGs são as melhores desde Final Fantasy VII. Mas são muito melhores do que Final Fantasy VII.

A cena que mostra o horror ocorrido durante a apresentação no Carnegie Hall é toda em CG e é de tirar o fôlego. Todas as CGs aqui, ao contrário do que ocorreu em Final Fantasy VII, tiveram um tratamento de luxo. Todas muito bem produzidas, dando todo um clima hollywoodiano às mesmas. Algumas das cenas ficaram na história dos games, como a própria cena do Carnegie Hall e a transformação do rato, logo no começo do game (quem jogou com certeza se lembra).

O visual processado em tempo real é tão bom quanto o possível o era. Todos os personagens com proporções reais, ou seja, nada de Supr Deformed aqui. Todos interagem bem com os cenários pré renderizados. Os personagens possuem muito serrilhado, é verdade, mas isso não chega a ser algo tão gritante a ponto de estragar a experiência que o game proporciona.

Um destaque a ser citado aqui é o design dos personagens. Da simplicidade de Aya, ao visual imponente de Eve e os monstros inspirados e criativos, o Caracter Designer de Parasite Eve deve ser elogiado. Não que este já não esteja acostumado com isso, afinal, tal função ficou na responsabilidade de ninguém menos de Tetsuya Nomura. Sejamos honestos, um homem que assinou essa mesma função em Final Fantasy VII é mais do que confiável para qualquer outro serviço nessa área.

Em Parasite Eve Nomura mostrou estar muito a vontade para trabalhar em um ambiente urbano e contemporâneo. Foi mais um passo bem sucedido para que ele se tornasse o que se tornou, liderando uma franquia de sucesso absoluto mais a frente em sua carreira: Kingdom Hearts.

Trilha Sonora e Efeitos Sonoros

Ninguém melhor do que a Square para saber que a Trilha sonora correta é uma das, se não for a maior das chaves, para o sucesso do clima desejado para um game. Logo ela não deixaria a bola cair em Parasite Eve.

A cena inicial do Carnegie Hall é épica nesse sentido. Uma bela ópera cantada em contra posição a tudo o que ocorria no salão de apresentação, deu o clima ideal para a cena. É fantástico. As músicas in game são competentes e misturam ópera com música eletrônica e música instrumental. Destaques para “Primal Eyes”, que é a música de apresentação do game e “Femme Fatales”, que é a música do embate entre Aya e Melissa / Eve.

Outro destaque no quesito musical é a musica tema de Parasite Eve em versão instrumental. É linda de morrer! Os efeitos sonoros do game seguram muito bem a onda, com representativos até mesmo nos menores detalhes. Os passos produzem um som diferente a cada tipo de piso, cada arma tem o seu som diferenciado para o tiro, e por ai vai.

Como o usual para RPGs da Square na geração Playstation, o game não contém uma só fagulha de voz. Algo que por certo dá uma sensação de vazio aos não iniciados nos RPGs Old Schools, mas que com o tempo passa.

Como nem tudo é perfeito, em certos momentos a trilha sonora é inexistente. É possível argumentar que isso tem sim uma função no game, mas a verdade é que em um game que não contém voz, muito tempo em um cenário sem uma trilha, por mais “introspectiva” que seja, é um porre!

Além disso, o som para as magias executadas por Aya, são pouco inspirados e acabam não ajudando a causar o impacto que poderiam causar.

Jogabilidade

O grande diferencial de Parasite Eve com relação aos prévios RPGs da Square está na sua jogabilidade. Muito mais focado na ação, em Parasite Eve a jogabilidade é muito mais “livre” do que nos RPGs convencionais da época.

O sistema de exploração mudou um pouco em relação a Final Fantasy VII, pois aqui todos os cenários são proporcionais. Nada de entrar em uma casa pequenina e ela na verdade ser uma mansão com 2000 cômodos. É mais realista e ajuda a fazer o jogador entrar mais no clima. Já o mapa geral, que aqui é um mapa de Manhattan, é desproporcional como os mapas mundi de Final Fantasy, com a diferença de que em Parasite Eve não se explora esse o mapa livremente.

O sistema de batalhas do game é o maior de seus charmes. As batalhas ainda ocorrem por “encontrões”, no entanto, quando isso ocorre, o cenário não se altera, os inimigos aparecem ali mesmo e a batalha tem início. O caminhar é livre, podemos locomover Aya para desviar dos ataques, ou se posicionar melhor para atacar. Não podemos executar ações até que a barra de ATB se encha. Assim que cheia podemos acessar o menu de ações, que contem o padrão: ataques, magias, usar itens, etc.

Para atacar, é necessário que o inimigo esteja no raio de alcance da arma que estiver utilizando, caso contrário terá de se reposicionar para atacar. Lembrando que em Parasite Eve é possível mudar de arma no meio da batalha, mas isso conta como uma ação efetiva em campo, assim sendo, ao se alterar a arma usada será necessário aguardar a barra de ATB se encher novamente para executar uma nova ação.

As armas usadas no game não são katanas mágicas, ou luvas de super força alienígenas Aqui o foco são em armas de fogo usadas no mundo real, o que combina para um clima mais realista. As magias usadas provém da capacidade de manipulação das Mitocôndrias de Aya. Em Parasite Eve usamos a chamada Parasite Energy, que tem as mesmas funções das Magics de Final Fantasy. Elas vão de funções de cura a revival, à ataques indiretos ou diretos aos inimigos.

Para executarmos as habilidades de Parasite Energy temos de ter Parasite Energy o suficiente, o que nos é indicado por uma barra verde logo abaixo da barra de ATB. É uma barra de MP com nome diferente. Infelizmente, as Parasite Energy são visualmente falando, muito mal aproveitadas.

Como as batalhas rolam em tempo real, ou seja, durante a exploração regular de cenários, os cenários pré renderizados não permitem firulas de câmeras e devido a isso as magias são executadas sem “brilho” algum, servindo exclusivamente para estratégia em batalha. Pode ser algo que, de repente, ajuda para o clima de realismo que o game tenta alcançar, mas que dá aquela sensação de faltar algo.

Fechando a conta e passando a régua!”

Parasite Eve veio ao mundo prometendo muito e tendo a responsabilidade de dar sequência a um trabalho primoroso da Square que o precedia: Final Fantasy VII. Haja responsabilidade!
Em partes Parasite Eve cumpriu com muito do que prometeu. Um clima mais sério e um roteiro mais “real”, tanto é que a Square não considera Parasite Eve um RPG, mas sim um “Cinematic Adventure Game”.

Foi um game que realmente elevou as CGs a um nível estratosférico, sendo batido somente com o lançamento posterior de Final Fantasy VIII. O visual realmente é superior ao de Final Fantasy VII.

Apesar disso tudo o game não conseguiu cumprir com outras de suas pretensões, como ter um sistema de batalha mais estratégico do que o de Final Fantasy VII e ter uma história mais adulta do que a do mega sucesso da Square. Ambos os games são adultos, mas Final Fantasy VII tem uma história muito mais elaborada e complexa. Apesar de eu ser fã fervoroso do enredo de Parasite Eve, a verdade deve ser dita.

No fim das contas, Parasite Eve é um game muito bom, acima da média com certeza, mas que não consegue ser tudo o que a própria Square cantou. De repente por isso ele não foi o sucesso que muita gente esperava, se tornando um game Cult, mais cultuado depois de seu lançamento do que na época em que era novidade. Talvez com um pouco mais de tempo de desenvolvimento a Square conseguiria atingir tudo o que queria com Parasite Eve.

Parasite Eve “original”

Pouca gente sabe, mas o game da Square na verdade é baseado em uma obra literária japonesa fantástica: Parasaitu Ivo. O game adaptou muita coisa do livro, tendo praticamente da obra original somente o “grosso” do enredo e alusões a eventos ocorridos no livro. O game seria uma continuação não direta da história do livro na verdade

Não é uma obra fácil de ser encontrada, tendo de apelar a E-comerce (compras online) para conseguir adquiri-lo. Outro detalhe é que não existe uma versão traduzida para o português, somente para o inglês. Ou seja, é necessário saber inglês para aproveitar o livro. Não tenha esperanças de uma tradução chegar por aqui tão cedo, afinal, foram quase 10 anos para o livro ser traduzido do Japonês para o Inglês.

Pode-se encontrar uma versão para se comprar em inglês por R$40,00, sendo que a versão “de luxo” não sai por menos de R$80,00. Caso você não tenha problemas com o inglês, goste de uma boa leitura e tenha um dos dois valores disponíveis para a compra, recomendo muito a aquisição do livro, que considero muito superior ao jogo no que cerne o enredo.

Uma outra curiosidade sobre Parasite Eve é que existe um filme baseado nos eventos do livro. É uma produção japonesa de mesmo nome. Infelizmente o filme, que eu saiba, nunca saiu do Japão, sendo assim, terá de o conseguir por meios outrem, legendado em português, para assisti-lo.

Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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