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Persona 5

Persona é, sem sombra de dúvida, uma das séries de RPG mais populares que existe, possuindo inclusive adaptações em anime, mangá e até mesmo peças de teatro. Tendo completado seu 20º aniversário em 2016, a Atlus lançou no mesmo ano Persona 5 no Japão para comemorar. Levou alguns meses, mas finalmente a versão ocidental do jogo chegou.

Devo dizer que essa é minha primeira experiência com a franquia. Esta análise, aliás, ao contrário das outras que você já deve (ou não) ter lido, foca justamente em mostrar o ponto de vista de alguém que nunca havia jogado um game da série. Sempre tive ciência da sua importância através de amigos e colegas que a jogavam desde os tempos de PlayStation 1, mas por algum motivo eu preferia focar em outros jogos. Devo dizer com sinceridade que, após passar diversas horas em Persona 5, acredito ter cometido um erro ao ignorar essa franquia por tanto tempo.

Sem dar spoilers da história, digo sem medo de errar que este é o aspecto principal do jogo. Dotada de uma narrativa espetacular, ela cumpre com maestria o papel de prender a sua atenção, graças também aos excelentes personagens. Como é possível perceber logo nas primeiras horas, o game faz bastante uso de elementos de simulação social, não focando apenas em aspectos de RPG ou em desbravar dungeons. Seu comportamento e decisões influenciam diretamente em determinados trechos da trama e na sua relação com outros personagens. Ter um bom relacionamento com eles lhe dá acesso a novas habilidades. Aliás, os jogadores mais dedicados irão muito provavelmente terminar o game mais de uma vez, apenas para ver os desfechos que ocorrem ao escolher maneiras diferentes de abordar os relacionamentos com os personagens.

O tempo no jogo segue um calendário anual escolar. Você, como bom aluno que é, se vê obrigado a ir na escola na qual estuda dentro do game, inclusive precisando responder perguntas dos professores em alguns momentos, às quais, se respondidas corretamente, aumentarão seu conhecimento. Também é necessário fazer atividades fora da escola, pois lhe dão muitos benefícios. Por exemplo, se exercitar sobe seu HP total. Ver um determinado tipo de filme aumenta sua coragem, algo necessário para pedir ao vendedor de armas que lhe mostre equipamentos melhores. Cuidar de suas plantas lhe deixa mais gentil, o que é útil na hora de abordar uma garota mais sensível e tentar aumentar sua afinidade com ela. Para comprar coisas, você não precisa depender somente do dinheiro que consegue derrotando inimigos, como também pode arrumar um emprego de meio período que lhe dará uma grana extra para gastar. Certos trabalhos também melhoram seus atributos sociais.

Esse sistema de calendário requer que você organize muito bem o que planeja executar em cada dia para aproveitá-lo ao máximo. O que fazer, ajudar um amigo com seus estudos ou auxiliar o senhorio em seu estabelecimento? Uma escolha disponível em um determinado momento pode não aparecer mais depois de ser ignorada. Embora eu não tenha tido maiores problemas em adaptar-me a isso, os jogadores menos pacientes podem acabar se irritando, pensando em fazer tudo de qualquer maneira e pagando um preço caro mais adiante no jogo. Se você se considera impaciente, não se preocupe, pois há um sistema online que permite a você ver o que outros jogadores decidiram em um determinado momento, caso esteja na dúvida em qual a melhor decisão a ser tomada.

Para os que acham que isso pode vir a ser chato, é exatamente o oposto. A maneira como a história se desenrola, juntamente com o surgimento de algumas situações inusitadas, te prende na frente da televisão de forma assustadora. Você sempre fica querendo jogar mais e mais, desenvolvendo seus aspectos sociais para saber o que vem a seguir na trama, seja na parte principal dela ou nas opcionais.

Falando das dungeons, elas chamam-se “Palaces” (Palácios). São espelhos de locais do mundo real moldados com base nas más intenções de certos indivíduos, cujos corações possuem maldade. Acessá-los lhe permite usar seus poderes especiais, invocando entidades chamadas “Personas”, que nada mais são do que manifestações físicas da alma de cada personagem, extremamente necessárias para enfrentar os perigos que existem nestes locais. Há versões menores destes lugares, chamados “Mementos”, mais rápidas de serem completadas e que são ótimas para upar seus personagens.

A jogabilidade nas lutas ocorre por turnos, onde você pode escolher atacar com suas armas padrões (espadas, chicotes, pistolas, metralhadoras, etc) ou com seus Personas. É possível utilizá-los à vontade enquanto houver SP disponível. Pense nisso como uma espécie de Mana. Descobrir o elemento que é o ponto fraco de um inimigo é imprescindível, pois desta forma você consegue atacá-lo várias vezes seguidas. Também dá para mudar as táticas de batalha de acordo com cada situação, possibilitando até mesmo deixar que o próprio jogo decida o que deve ser feito, não necessariamente significando que ele sempre tomará a melhor decisão. Existem atalhos que você pode acessar apertando certos botões no controle para agilizar os confrontos. Por exemplo, o botão Options faz toda a equipe usar ataques físicos, enquanto que R1 lhe dá acesso instantâneo a uma habilidade que é o ponto fraco de um determinado inimigo, caso você tenha ela no seu personagem.

São tantos aspectos presentes no gameplay que talvez alguns jogadores poderão sentir-se um pouco confusos com a quantidade de informações que precisarão decorar, de modo que consigam extrair o máximo de seus Personas. É possível até mesmo fundi-los para criar entidades mais poderosas. Ter uma boa relação com alguém cuja afinidade seja a mesma de um novo Persona que você está criando fará com que ele nasça mais forte. Ainda por cima, todo Persona que você obtém, uma vez registrado (ou fundido), pode ser recomprado por um determinado valor, lhe poupando o trabalho de achá-lo em algum Palácio novamente caso queira tê-lo mais uma vez consigo. Contudo, o nível do Persona readquirido é o mesmo que ele tinha quando foi registrado, significando que você terá de renovar o registro dele com uma versão igual, porém mais forte, se quiser readquiri-lo depois com um nível mais elevado.

Para obter um Persona numa batalha, você deverá conversar com ele. Ao fazer com que o inimigo em uma luta fique atordoado por ter sido atingido com seus pontos fracos (ou golpes críticos), você tem a oportunidade de executar um poderoso ataque em equipe que se não o matar, o deixará bastante machucado, ou então trocar uma ideia com ele para que lhe dê itens, dinheiro ou vire um novo Persona. É necessário escolher as palavras certas para convencê-lo a juntar-se a você.

Está achando tudo isso a respeito da jogabilidade complicado demais? Na verdade, não é. O jogo explica de maneira muito clara e objetiva o que você pode e deve fazer. Mesmo assim, caso você se esqueça de algo, todos os tutoriais estão sempre disponíveis para refrescar a memória.

Os encontros com seus inimigos não são aleatórios. Você consegue vê-los nos cenários e por causa disso pode decidir enfrentá-los ou não, pelo menos algumas vezes, já que há muitos momentos onde as lutas serão inevitáveis. Dá para chegar sorrateiramente neles, surpreendendo-os, o que lhe assegura uma vantagem no início do combate. Entretanto, a real aparência deles só é revelada na hora H, ou seja, você nunca sabe o tipo de adversário que está por vir.

Honestamente eu não ignorava nenhuma chance de confronto, não apenas para ganhar experiência e dinheiro adicionais, mas também porque a trilha sonora das batalhas desse jogo é muito contagiante. Na verdade, a maior parte das músicas que você escuta fora delas também são ótimas. São daqueles tipos que você corre para baixar em algum lugar de modo a deixá-las no seu celular ou computador para ouvi-las repetidamente.

Os visuais de Persona 5 seguem um estilo cartunesco e não diferem muito entre suas duas versões. Quem jogar no PS4, no entanto, terá resolução e filtros melhores do que aqueles que forem jogar no PS3, garantindo uma imagem mais limpa. O bom é que nenhum jogador deixará de apreciar a qualidade artística impecável do game, indo dos cenários aos personagens. Isso sem falar nos bem desenhados trechos de animação japonesa, usados para mostrar partes da história. A interface vista nos diálogos, batalhas e menus é, sem exagero, uma das melhores que já vi num jogo. Elas impressionam a todo momento com sua fluidez, fácil entendimento e cuidado artístico.

Quem está procurando por um RPG onde você passe mais tempo lutando, poderá ficar um pouco indeciso com relação se vale ou não a pena comprar Persona 5, pois boa parte das horas que você gastará no jogo será cuidando de seu relacionamento com outros personagens e de seus afazeres pessoais fora das dungeons, o que aliás é necessário para evoluir seus atributos sociais e melhorar o desempenho na hora que lutar for preciso. Para mim isso passou bem longe de ser um problema, pois graças a uma história, narrativa e personagens ótimos, torna-se uma atividade muito prazerosa investir no desenvolvimento social do protagonista com seus amigos e conhecidos.

Uma cópia digital do game para PS4 foi fornecida pela Atlus para análise.

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