Análises

Prince of Persia

Quando eu era “patotinho”, um pequenino gamer, vi um game que me fez ficar maravilhado com a beleza dos movimentos de seu personagem principal e com as peripécias que eu tinha de realizar para sobreviver e prosseguir. Era como se eu visse algo mágico acontecendo diante de meus olhos Esse game foi Prince of Persia, o original, o primeiro e único!

A partir daí, muitos remixes e “novas versões” surgiram, muitas delas competentíssimas, algumas horríveis como a versão tridimensional do game para Dreamcast. Na verdade, todas muito genéricas se comparadas com a elegância e a revolução conseguidas pela versão original.

Eis que surge o Playstation 2, e Prince of Persia retorna com toda sua elegância e revolução para o mundo dos games com Prince of Persia: Sands of Time. Que jogo magnífico…

História envolvente, ambientalização soberba e a estética e veracidade plástica dos movimentos acrobáticos do Principe se tornaram referência no mundo dos games a partir daqui.

Depois de Sands of Time, assim como o ocorrido com o game original, lá da época em que eu era “patotinho”, os outros games que surgiram com o nome Prince of Persia, foram nada mais do que jogos genéricos. Não importa o que pensem, The Two Thrones é um game muito reciclado e Warrior Within é uma afronta a tudo o que a série até ali transparecia.

Eis que surge uma nova geração de consoles, e assim como na geração passada, Prince of Persia retorna, mas dessa vez, para trazer à flor da pele o sentimento “mágico” que tive ao jogar Prince of Persia quando eu era “patotinho”. Ironicamente, esse sentimento de “magia ao alcance dos olhos” voltou em um game da franquia com o mesmo nome do original, sem subtítulos, Prince of Persia.


Tem inicio uma nova jornada

Voltando de alguma de suas aventuras em busca de riquezas mil o Principe perde, ou se perde de, não importa, seu Jumento, que por acaso, carregava todos os lucros de sua última aventura. Esse é o primeiro contato que temos com o Principe em Prince of Persia, o mesmo andando pelo deserto, gritando pelo nome de seu Jumento (o que rende uma ótima e inesperada piada para quem jogou Sands of Time). Simples assim.

Durante essa procura, ele encontra, de maneira também bem inesperada e divertida, Elika, uma bela mulher que está a fugir de homens que estão ao seu encalço, para, aparentemente, fins nada bondosos. A partir desse encontro o game tem seu inicio, pois o Principe já se encontra envolvido na situação, mesmo sem saber do que se trata.

Apesar do começo simplório, e para muitos “bobo”, o game vai mostrando toda a profundidade de seu enredo pouco tempo depois desse encontro, enredo esse carregado de “por menores” morais, muito cativante e belo. Apesar de o game não ser nada novo, não vou explorar muito o enredo aqui para evitar spoilers para quem ainda não teve oportunidade de jogar o game. Vou me ater dizendo que, Prince of Persia, nenhuma relação tem com a trilogia das areais do tempo, o que, particularmente, é ótimo, afinal, já estava ficando batido.


Renovação visual

Assim que se coloca o disco do game no console, é notada a maior diferença entre este game comparado ao todos os seus antecessores, o visual. A série sempre buscou o foto realismo, em especial em suas aparições mais recentes, ou seja, na trilogia das areias do tempo, no entanto, Prince of Persia não tenta percorrer esse caminho, optando por se utilizar da técnica Cell Shading.

Para quem ainda não sabe, Cell Shading é uma técnica que faz com que o visual do game emule um desenho animado. Muito utilizada em games baseados em animes ou cartoons, como a série Dragon Ball Budokai, ou qualquer game da série Naruto por exemplo.

A técnica em Prince of Persia, entretanto, não foi utilizada tão somente para fazer com que o visual fique com cara de desenho. Sua utilização aqui tem um sentido mais próximo da utilização que Okami, ou seja, tem uma específica função artística. E não preciso me prolongar muito aqui explicando as minúcias sobre isso, basta dar uma olhada em telas do game, ou mesmo assistindo algum vídeo, desde que em alta qualidade, para perceber o teor artístico do visual de Prince of Persia. Não vejo algo artisticamente belo assim desde o já citado Okami.

Claro que somente com a utilização competente do Cell Shading o visual do game não se sustentaria. Mas não se preocupem, o usual competente time de criação da série mostra o porquê é um dos melhores do quesito design, seja de personagens, seja de cenários.


O design dos personagens é muito inspirado, em especial o do próprio Principe. Sua nova roupagem além de finalmente sair do padrão deixado por Sands of Time, sendo muito mais vivido, serve como uma extensão do próprio personagem durante suas acrobacias. É algo como o longo pano vermelho de Hotsuma, mas artisticamente mais belo e visualmente funcional. Não somente artisticamente funcional, mas também efetivamente funcional, pois a luva de metal que o Principe usa é de vital importância durante o game.

Não somente o visual do Principe é inspiradíssimo, mas também a de sua bela companheira ao longo do game e dos inimigos, em especial os não humanos. Um trabalho com certeza digno de aplausos.

No que cerne os cenários do game, esses são mais inspirados do que os personagens. Além de possuir os famosos quebra cabeças interativos, em Prince of Persia os cenários são absolutamente deslumbrantes, arte eletrônica mesmo, e possuem uma escala jamais vista na série.

O ambiente de jogo aqui é a céu aberto em boa parte do game, na verdade, quase todo o game é a céu aberto, em um cenário totalmente aberto, ao contrário do que ocorreu na trilogia das areias do tempo. O fato de o game de passar a céu aberto quase todo o tempo, permite ao jogador contemplar a grandiosidade do mesmo. Em momentos em que se está mais ao alto, ou em um local mais plano, é possível contemplar o cenário ao horizonte até onde as vistas o permitem. A escala é algo similar ao que ocorre com Shadow of Colossous, em que vemos todo o cenário, até onde as vistas alcançam, e temos a certeza de que, de alguma forma, podemos alcançar aqueles locais.


Personalidade de Sobra

Outra barreira quebrada neste game se dá na personalidade do Principe. Em Sands of Time tínhamos na tela um Principe que apesar de ser o narrador da história, e ter sim todo um carisma, era um Principe bem tímido e introspectivo. Em Warrior Within temos um Principe sem personalidade, que mais parece um “boyzinho” boca suja, revoltado e xingando o tempo todo (foi triste..). Em The Two Thrones temos um Principe que tem a personalidade mais próxima a do primeiro game da trilogia, mas sem o mesmo carisma.

Em Prince of Persia o Principe deixa sua introspecção de lado, mas sem ser o nojento grosso de Warrior Whithin, se tornando algo bem próximo de Jack Sparrow, mas sem os trejeitos do Pirata. O Príncipe é bem canastrão e “sem vergonha”, sempre com uma resposta cínica na ponta da língua para qualquer que seja o assunto, fora isso, sempre que possível aplica uma cantada em Elika, seja essa cantada sutil ou não.

Essa nova personalidade do Principe faz com que ele seja um personagem muito mais agradável e identificável por seu público alvo. Além disso, faz com que a química entre o Príncipe e Elika se torne um dos trunfos do game. A interação entre o Príncipe e Elika é intensa durante todo o game, e por isso mesmo, o fato de terem uma boa química em tela é algo imprescindível. Boa parte do carisma do game como um todo se dá devido a esse química entre ambos, e para você que acha que isso não tem a menor importância, deixo um exemplo para você refletir: Já pensou Arquivo X sem que Mulder e Dana tivessem uma boa química?


Peripécias Acrobáticas

A jogabilidade de Prince of Persia toma um caminho contrário ao que a série veio ganhando desde Warrior Within, que se focou mais na ação e menos nos quebra cabeças envolvendo o cenário e na aventura.

Em Prince of Persia o jogador passará a maior parte do tempo seguindo em frente no jogo, e resolvendo quebra cabeças bem elaborados, realizando as já conhecidas peripécias acrobáticas do que enfrentando inimigos.

Novas acrobacias foram “aprendidas” pelo Príncipe desde sua ultima aparição nos games, todas belíssimas e de simples aplicação. Graças à animação do Príncipe, que é fabulosa, tais acrobacias são de encher os olhos. Até mesmo uma breve “caminhada” de ponta cabeça é possível realizar.

As batalhas são poucas no game, lembrando muito o Príncipe da Persia original. Se enfrenta somente um inimigo por vez, o que é um outro aspecto que lembra o game original.

A jogabilidade flui bem e as respostas aos comandos efetuados são imediatas, o que torna jogar Prince of Persia extremamente agradável e fácil. Por falar em fácil, e aqui vamos a um problema do game, tudo aqui é fácil até demais.


Sem spoilers, Elika tem poderes “sobre-humanos” (sim, isso não é exatamente um spoiler), e esse fato faz com que o game se torne muito fácil. Em saltos mais longos é possível que Elika simplesmente apareça ao seu lado para te dar um impulso a mais para que possa alcançar a plataforma desejada, no ar mesmo, como se fosse um salto duplo do Príncipe. Caso ainda assim o jogador consiga cair para a provável morte, Elika salva o Príncipe, o levando até o momento prévio ao salto para tentar de novo. Isso mesmo, é IMPOSSÍVEL morrer no game, Elika não permite isso.

Tal fato, se incentiva o jogador a tentar alcançar áreas que parecem a primeira vista inacessíveis sem o risco de morrer, elimina a possível tensão de se realizar as acrobacias a metros e metros do solo, já que, caso se erre, não tem problema, Elika salva o Principe e se tenta de novo.

Ademais, as batalhas em Prince of Persia são fáceis e ainda contam com o auxílio dos poderes de Elika, o que elimina a tensão de se travar batalhas tendo a vida em risco. Se as batalhas já eram fáceis nos games da trilogia das areias do tempo, aqui isso se amplia.

Imagino, e isso é uma reflexão pessoal, que o game tenha sido concebido para ser assim mesmo, uma experiência muito mais contemplativa e imersiva, artística mesmo, do que ser um game hardcore. Compreendi o game assim, e sob essa ótica gostei bastante do game dessa forma, no entanto, fans mais ardorosos do game desde sua “depravação” em Warrior Within acharam o game um desperdício pois pouco se batalha e é muito fácil seguir em frente. Imagino que a escolha por gostar do estilo do game vai de uma compreensão contextual do game muito pessoal.


O som “das Arábias”

O aspecto sonoro da série Prince of Persia nesses últimos anos é mais um aspecto controverso e mutável. Analisemos isso.

As composições musicais dos games da trilogia das areias do tempo vão do sublime com o orquestral magistral de Sands of Time ao tétrico com a guitarra desenfreada horrível de Warrior Within. As dublagens do game são outro ponto mutável, indo das dublagens muito baixas mas muito inspiradas em Sands of Time às dublagens de um filme B bregas de Warrior Within.

Em Prince of Persia podemos afirmar que no quesito composições ele está no recheio da análise acima, enquanto no quesito dublagem é o melhor Prince of Persia desde sempre.

As músicas de Prince of Persia são belas sim, dão o clima do game sim, no entanto, são muito incidentais, mais ainda do que em Sands of Time, o que é ruim, já que esse é um game bem mais “parado” do que Sands of Time, uma música mais presente ajudaria. Com relação à qualidade das composições, nada a reclamar, mas não são melhores do que as e Sands of Time.

Quanto à dublagem, o game dá um banho. São carismáticas, de qualidade e ajudam a interação entre o Príncipe e Elika a ser tão atraente quando o é. Um trabalho superior a tudo o que já se viu na série, muito profissional mesmo.


Os finalmente”

Um dos games mais belos dessa geração devido a seu teor artístico e com o Cell Shading mais belo já visto; com uma jogabilidade competente, mas em um game muito mais contemplativo do que hardcore; com um conjunto audio-visual belíssimo; Prince of Persia é um dos games mais fantásticos dessa geração e uma das experiências mais “pacificadoras” já vistas em um game. Por certo não é um game que vá agradar a gregos e troianos, mas por certo é um game que merecer o peso do nome que carrega.

Para você, jogador que consegue compreender e gostar de games como ICO, Shadow of Colossous e Shenmue, Prince of Persia é uma experiência que deve ser vivida por vocês, pois compreenderão a profundidade do game como arte eletrônica interativa.

Para você, jogador que acha que Warrior Within é o melhor game da série até hoje, recomendo procurar um game de ação e não um Prince of Persia, pois com certeza essa não é a sua praia.

Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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