Análises

Red Alert 2

Red Alert 2

A franquia Command & Conquer é uma velha conhecida dos fãs de games do estilo RTS (Real-time Strategy – Estratégia em tempo real), rendendo vários games excelentes, como a saga Tiberium, Generals e Red Alert. Red Alert 2 conta uma versão alternativa da Guerra Fria, onde a Rússia invade os Estados Unidos e da início a um conflito de escala global – diferentemente da verdadeira, que foi uma corrida armamentista e tecnológica entre Rússia e EUA. Como era de se esperar do estúdio Westwood (criador dos games da série C&C), Red Alert 2 superou em todos aspectos seu antecessor e entregou um excelente game para os amantes dos games de estratégia, com uma boa dinâmica de jogo, rápido aprendizado, gráficos de ponta e uma trilha sonora de ponta; como já era possível presenciar nos games anteriores da série.

Modo campanha divertido e bem feito

Após a frustrada tentativa de conquistar a Europa, a União Soviética esta em decadência, com seu principal líder, Joseph Stalin, morto e sua força militar enfraquecida. Apesar da vitória, os Aliados temem que uma dissipação imediata da União Soviética cause um grande tumulto entre seus seguidores, então, nomeia Alexander Romanov, parente distante de Czar Nicolau, ao cargo de Premier, a fim de estabilizar e ganhar controle político de toda região antes controlada pela U.R.S.S. Romanov, renova a força militar para “fins de defesa e controle da ordem”, no entanto isso não passa de uma fachada para reunir exército que ruma aos EUA através do México. Com o ataque surpresa e totalmente desprevenido, os Estados Unidos tentam revidar a ameaça de invasão com misseis nucleares, porém a tentativa falha após Yuri, líder da Soviet Pysich Corps e principal assessor do Premier Romanov, usar seus poderes psíquicos para controlar os encarregados dos lançamentos dos mísseis nucleares americanos, que explodem todos ainda dentro dos silos.

O modo campanha de Red Alert 2 era divido em dois, Aliados e Soviéticos, e a histórias das campanhas eram bem diferentes entre si, repetindo somente a introdução acima. Como de praxe nos jogos da série C&C, muito da história era contada com atores reais em pequenas filmagens entre as campanhas e sempre deixando subtendido que o Commander (jogador) está presente nessas filmagens, recebendo instruções e acatando as ordens de seus superiores. As filmagens são bem feitas, mesclando humor, momentos de tensão e reviravoltas na história, com diferentes atores contracenando nas duas campanhas do game, sendo alguns velhos conhecidos dos fãs da série, como ator Barry Corbin que interpreta General Carville, figura presente nos games anteriores da série. Vale a pena conferir os vídeos, que além de terem seus momentos engraçados, contam uma boa história e trazem figuras ilustres, como Dr. Einstein, sem contar as inesquecíveis aparições de Tanya, que protagoniza momentos interessantes no game.

Além de uma história bacana e as cenas com atores reais, as missões durante as duas campanhas são muito gratificantes, desafiantes e divertidas, outro ponto que sempre foi muito característico dos games da Westwood. Durante a campanha, o jogador passará por diversos locais do globo, seja pelos Aliados ou na pele dos frios Soviéticos, em várias missões bem variadas e com diferentes meios de abordagem, onde por vezes o jogador poderá contar somente com algumas poucas unidades para ter sucesso na campanha ou com recursos limitados e tecnologias bloqueadas.

As missões foram feitas não somente para se adequar a história, mas para fazer o jogador usar a cabeça e sair da mesmice, ou seja, a missões onde você contará somente com unidades de infantaria, ao passo que o inimigo possui artilharia pesada, em outros casos o jogador terá recursos limitados ou já herdará uma base sobre forte ataque e com pouco tempo e recursos para “botar ordem na casa”. Com essas excelentes tacadas, o modo campanha é extremamente gratificante além de muito divertido, com dificuldade progressiva e que exigirá cada vez mais do jogador, sem permitir que se entre na manjada jogada de “apelar para as unidades mais fortes”, já que além dos recursos escassos, as bases e unidades somente vão sendo liberadas conforme o progresso na campanha.

Aos novatos e jogadores casuais, sem desespero, é possível mudar a dificuldade do game para adequar-se ao estilo de jogatina; após finalizar a campanha, é possível brincar no modo Skirmish, partidas contra o computador que conta ainda com um editor de mapa randômicos, ou partir para o excelente modo multiplayer. Talvez seja hora de muitos estúdios por ai olharem para um passado não tão longínquo e inspirarem-se novamente na criação de campanhas Single Player divertidas e que realmente exijam mais do jogador do que apenas seguir o script e sair correndo por ai esmagando botões sem dó.

Complexidade dentro da simplicidade

Seria impossível fazer um modo campanha que fosse divertido e desafiador se na hora de botar o jogador no controle o game falhasse, e, felizmente, isso nunca foi um problema nos trabalhos da Westwood. Red Alert 2 funciona praticamente da mesma forma como em todos os games da franquia C&C, câmera isométrica em cima levemente inclinada e com maioria das ações podendo ser executadas somente com cliques do mouse. Com poucos cliques é possível selecionar unidades, iniciar construção de bases, armar estratégias e dar ordem para seus soldados, sejam elas para atacar ou defender uma posição. Isso é possível devido à interface do game ter rigorosamente tudo que o jogador realmente precisa, sem poluir a tela com indicações e botões desnecessários. Você possui a paleta de controle da sua base no canto direito, onde tem alguns botões padrões, como menu de opções do game, botão de comandos diversos (para formar alianças, entre outras funções), o mapa, indicação da energia da base e dinheiro além dos botões com diferentes tipos de base (suporte, defesa e militar) e acesso a recrutamento de unidades; botões de reparo e venda completam a lista.

No canto inferior da tela, uma pequena barra de comandos avançados aloja alguns botões preciosos, tais como Type Selection, que permite selecionar rapidamente um determinado tipo de unidade espalhadas na tela ou no mapa e Way Points, que permite criar rotas específicas para suas unidades seguirem, sem que o jogador tenha que ficar coordenando manualmente às mesmas e podendo dar atenção a outras atividades. Com isso, a tela fica livre para o jogador sem ter nada gritante ou fora de lugar tirando a concentração do que é realmente importante, as batalhas e gerenciamento de suas unidades e base.

O game possui vários tipos de unidades, seja de infantaria, naval, tanques e aeronaves e diferentes tipos de base, desde coleta de recursos – que são somente ouro e diamante – há construções para disponibilizar novas tecnologias e vantagens diversas, como Clone Vats, que garante uma unidade extra sempre que a mesma é criada nas barracas dos Soviéticos, além, é claro, das bases de defesa e Armas Especiais. Existem ainda algumas bases neutras no mapa, como Oil Derrick, que rende recursos extras, entre outras construções que garantem vantagens atraentes aos jogadores e podem ser capturadas facilmente com os Engenheiros. Manter e vigiar essas construções pode dar uma vantagem significativa em uma partida como também podem ser bem inúteis, tudo cabe ao uso que o jogador dará a elas.

Com a diversidade e gama de opções que o game oferece ao jogador, é possível abordar seus inimigos de várias maneiras diferentes, principalmente no modo multiplayer, com várias estratégias conhecidas dos veteranos da série, como o Rush com Rocketeers ou usar um veículo rápido de transporte e soltar vários Engineers (Engenheiro) na base inimiga para capturar suas bases. Mesmo o jogo sendo simples – qualquer um pode aprender em poucas horas de jogatina já que tudo é muito prático e intuitivo além de ter um tutorial ensinando os comandos básicos – existem recompensas àqueles com criatividade e que investem um esforço a mais, proporcionando vários meios de chegar à vitória assim como disse acima, bastando apenas ao jogador decidir e investir naquilo que acha melhor; para provar isso, já consegui inverter uma situação de supremacia inimiga com apenas dois cachorros e um engenheiro, o que mostra que não se deve jamais subestimar as unidades do game, por mais “frágeis” que aparentam ser.

Some ao leque de opções as “Armas Especiais”, que possibilitam novos meios criativos de atacar seu adversário, seja diretamente ou indiretamente; como o Chronosphere, uma das armas especiais dos Aliados que permite teletransportar unidades para qualquer localidade do mapa, contanto que seja visível para o jogador, com isso é possível, por exemplo, jogar os caminhões de ouro inimigos, que coletam ouro e diamantes, em um rio ou lago próximo, ou fazer o inverso e jogar um navio inimigo no meio da base adversária, tudo depende de sua criatividade.

Não é suficiente? Então some um pouco mais ao nosso leque de opções as unidades únicas de cada nação que representam os Aliados e Soviéticos e você terá algumas outras opções interessantes para investir em suas partidas. Outro aspecto bacana presente no game é a promoção das unidades, que se tornam mais fortes e resistentes; para conseguir isso, basta que suas unidades sobrevivam às batalhas, após um determinado número de inimigos derrotados elas ganham promoções, lembrando que as promoções são individuais para cada unidade. Sim, ainda tem mais, como as caixas bônus que são geradas aleatoriamente no mapa, e conferem ao jogador unidades extras, dinheiro ou até a salvação, com um MCV para poder recomeçar sua base. Vale ressaltar também as diferenças entre os Aliados e Soviéticos, com o primeiro tendo acesso a tecnologias avançadas e o segundo apelando à força bruta.

Game acessível e trilha sonora excelente.

Os gráficos do game são uma grande evolução em comparação com seu antecessor. Apesar de ser um falso 3D, com a jogada da câmera isométrica que simula um ambiente 3D, o game mostra muita competência com vários efeitos visuais bacanas e unidades muito bem detalhadas. Cada tanque, soldado e base recebeu grande cuidado para não só parecer ser possível de replica-las na realidade como também serem únicas e bem distintas entre os aliados e soviéticos, ainda que tenham o mesmo proposito; portanto, por mais absurdo que seja ver um tanque se transformando em árvore ou soltando raios lasers, você ainda terá a sensação de que está controlando algo que pode vir a existir. As unidades, construções e os vários elementos do cenário, como prédios abandonados e construções famosas possuem um cuidado digno, com vários detalhes e modelagens muito bem feitas, que mudam conforme a “saúde” dos mesmos, ou seja, um prédio com baixa vida mostrará chamas e destroços caindo. As texturas dos cenários são muito boas também e representam com fidelidade os diferentes tipos de terrenos, como terra e neve, pontuam belos lagos e rios e embelezam as montanhas e picos presentes no game.

Outro ponto de destaque, os cenários possuem grande diversidade, passando desde paisagens paradisíacas a locais urbanos, com vários prédios e ruas, sempre pensados para favorecem as intensas batalhas e proporcionar ao jogador vários meios de chegar à base inimiga. Alguns outros efeitos fecham com chave de ouro a parte gráfica do game, como explosões, raios de laser e elétricos, todos bem convincentes e bonitos. Maior mérito do estúdio aqui, é que mesmo numa época onde o trabalho era bem mais difícil, devido às limitações da tecnologia da época, o game apresentou gráficos muito bonitos sem exigir que os jogadores tivessem máquinas de ponta para poder aproveita-los, sendo bem acessível e optimizado, apesar de alguns lags em computadores mais modestos na época; só para se ter noção, o game exigia apenas 2 MB de vídeo dedicado e 64 MB de memória RAM, além de um processador de 266 MHz, se levarmos em consideração que o Pentium 4 saiu em 2000, essas exigências de hardware eram bem generosas com os jogadores.

A parte sonora do game é um show a parte, com todas as unidades tendo suas respectivas falas de ação, seleção e movimentação. Cada unidade emite diferente tipo de som, conforme suas características e os demais efeitos sonoros são muito bem feitos, desde explosões ou sons emitidos pelas bases, como barulho característico das Torres Primas (Prism Tower) e armas especiais. Porém, o destaque maior é a trilha sonora, que encaixa várias composições com diferentes ritmos e batidas eletrônicas, sendo algumas já clássicas da série Red Alert, como a faixa Hell March 2. O compositor Frank Klepacki realmente fez um excelente trabalho na trilha sonora de Red Alert 2, como também em vários outros games de Command & Conquer, com várias composições excelentes que receberam as devidas premiações. Portanto, não deixem de deliciar-se com as belas trilhas de C&C; inclusive fiz a análise escutando a trilha sonora de Red Alert 2. 

Multiplayer

Depois de finalizar a campanha e investir algumas horas no modo Skirmirsh (partidas contra computador), é possível encarar diversos jogadores espalhados pelo mundo no modo multiplayer On-Line ou partir para jogos em rede local (LAN). Existem vários modos de jogo, desde Co-op Play (modo cooperativo) onde você se junta a outro jogador e participa de cinco campanhas curtas, ao Naval War – nesse modo cada jogador nasce em uma pequena ilha com espaço limitado para expandir. Há vários outros modos divertidos e interessantes, como Land Rush e Meat Grinder, além das tradicionais partidas Free-for-All e batalhas em equipe.

Um modo de jogo que merece destaque é o World Domination Tour. Aqui, o jogador decide que lado deseja atuar, seja dos aliados ou soviéticos, e além de posicionar-se a favor de uma das facções, poderá escolher os diversos países disponíveis em um mapa global. Os jogadores vão disputando partidas nos vários territórios e no fim do dia é calculada qual facção teve maior número de vitórias em determinado território, que passa a ser controlado pelo vencedor. Exemplo, vamos supor que tiveram 10 partidas no Egito, com os Aliados ganhando 6 partidas e os Soviéticos 4, dessa forma o controle do Egito no fim desse dia passa a ser dos Aliados e cabe aos Soviéticos tentar retomar o controle do local no dia seguinte.

Para completar o multiplayer, além de menus com estatísticas e lista de amigos, Red Alert 2 era um game que apoiava o conteúdo criado pela comunidade, assim era possível encontrar vários mods e mapas criados por fãs, o que aumentava e muito a vida útil do game.

Westwood fechado. C&C Tiberian Twilight 4 e Red Alert 3, que grandes decepções, não acha dona Eletronic Arts?!

Westwood foi um estúdio criado em 1985 e concebeu excelentes títulos da franquia C&C, porém em 1998 foi comprado pela atual gigante EA, e logo após lançar o ótimo Command & Conquer Generals, em 2003, o Westwood foi fechado e seus funcionários foram realocados em diferentes estúdios da empresa norte-americana (EA). Essa decisão é COMPLETAMENTE questionável, tendo em vista o excelente trabalho da equipe da Westwood e o entrosamento que só se consegue durante muito tempo trabalhando juntos. É bem verdade que Tiberium Wars foi um excelente game da série C&C desde que a Eletronic Arts assumiu a franquia, porém foi o único, já que suas expansões e Command & Conquer 4: Tiberian Twilight foram muito ruins, sem contar o fiasco que foi Red Alert 3.

Não da para entender, como um estúdio pega uma série consagrada como Red Alert, e mesmo com orçamento MUITO maior que a Westwood tinha na época, sem contar os avanços tecnológicos e facilidades atuais consegue fazer um jogo muito inferior a seus antecessores, sem nem conseguir manter o alto nível da franquia. Red Alert 3 não só perdeu sua identidade, como teve todo trabalho construído ao longo dos anos ignorado e o resultado disso foi um jogo chato, com unidades bizarras e sem graça alguma, uma campanha entediante sendo a única coisa que se salvou foram as cenas de corte das campanhas, não pelo trabalho na história ou atuação dos atores, mas pelos exageros que acabaram dando uma cara meio charmosa não intencional as cenas, parecendo muito com os Filmes B de Hollywood.

Isso prova que não basta ter alto orçamento, acesso a novas tecnologias e bons profissionais, já que assim como é com qualquer equipe em qualquer ramo no mundo, um amontoado de bons profissionais não significa ter um excelente time capaz de trazer excelentes resultados. Entrosamento entre os integrantes, a “química”, só existe com tempo de convivência e trabalhos juntos, além de ser um dos principais fatores para gerar grandes frutos; exemplos disso existem aos montes, como a Criterion Games, Valve Software, Rockstar, entre muitos outros. Ponto negativo na conta da Eletronic Arts pela decisão precipitada.

 

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