Resident Evil 6

por Márcio Alexsandro Pacheco

Após cinco meses de seu lançamento no PS3 e Xbox 360, “Resident Evil 6” chega para os jogadores de computador (PC), em uma produção ambiciosa que é considerada a maior da história da série, e até mesmo da própria Capcom. Personagens clássicos (e alguns novos) estão de volta, estourando os miolos de zumbis bem diferentes daqueles que vemos na televisão, como em “The Walking Dead“, sendo eles resistentes, rápidos e até armados.

Claro que essa tendência “rápida e furiosa” da série, que começou desde “Resident Evil 4“, ganhou sua própria legião de fãs, mas por outro lado afastou os mais tradicionais ligados ao “survival horror”, estilo que a própria franquia foi uma das pioneiras, e que agora está cada vez mais se distanciando. “Resident Evil 6” é um bom jogo de ação, com uma grande quantidade de inimigos, armas e golpes, mas se você espera uma aventura de terror e tensão aos moldes antigos, pode acabar se decepcionando.

Caos zumbi global

O ano é 2013 e o presidente dos Estados Unidos, Adam Benford, decidiu revelar a verdade por detrás do que aconteceu no incidente de 1998 na cidade de Racoon, com a esperança de acalmar o atual ressurgimento de atividades bioterroristas. Junto a ele está o seu amigo pessoal e sobrevivente do incidente de Racoon, Leon S. Kennedy, junto com a sua nova companheira, Helena Harper, mas quando o local onde se encontram sofre um ataque bioterrorista, Leon é forçado a confrontar um presidente transformado e transfigurado.

Entretanto no estado da Europa de Leste de Edonia, Jake Muller, filho do geneticista, virologista e bioterrorista Albert Wesker, foge das autoridades durante um ataque bioterrorista. Durante a aventura de Jake, este torna-se companheiro de Sherry Birkin, filha do falecido Dr. William Birkin – um companheiro de pesquisa de Albert.

Enquanto isso Chris Redfield, membro da Bioterrorism Security Assessment Alliance (BSAA), chega à cidade fictícia de Lanshiang (baseada em Hong Kong) ao lado de seu parceiro Piers Nivans, também sob a ameaça de um ataque bioterrorista, que de alguma forma, está interligada com Ada Wong, uma agente da Neo-Umbrella, que mata a maior parte da equipe BSAA usando um dispositivo que injecta o novo Vírus-C, transformando-os em monstros.

Nenhum país está protegido contra estes ataques e aos surtos que se seguiram, a população de todo o mundo está unida por um medo comum: a falta de esperança.

Pau na zumbizada!

O jogador pode escolher entre quatro campanhas diferentes: são três duplas (Leon/Helena, Jake/Sherry, Chris/Piers) e Ada Wong em uma aventura solo. As duplas podem ser jogadas com parceiros locais, online ou ainda via IA (podendo uma pessoa entrar ou sair a qualquer momento). As histórias se passam em datas e locais totalmente diferentes, apesar de todas estarem interligadas no contexto geral.

Se você faz parte do grupo que torce pelo retorno do “survival horror” na série, ficará bem satisfeito com a campanha de Leon, que entre todas é a única que mais se aproxima dos primórdios da franquia. Aqui você vai encontrar áreas escuras e sombrias, progressão de forma mais lenta e tensa, como podemos perceber toda vez que Leon abre uma porta com o maior dos cuidados.

Os cenários com luzes piscando, ou quase completamente na escuridão, com sombras de zumbi se movendo ao redor, juntamente com os ótimos efeitos sonoros de grunhidos e coisas se arrastando, complementam de forma épica a imersão tensa em que o jogador passa com os heróis da campanha. As munições são escassas, e os grupos de “mordedores” bem numerosos, forçando o jogador a escolher entre usar balas preciosas, encarar no mano a mano ou mesmo fugir com o rabinho entre as pernas (isso em todas as campanhas, não apenas na de Leon). Mesmo assim, podemos encontrar zumbis ferozes que se movimentam rápido, que pulam sobre você e ainda usam armas como machados, porretes, garrafas de cachaça (zumbis bêbados??) e outros cacarecos para atacar. A jogatina com a gatinha Ada Wong (ela agachada andando nos dutos de ventilação é um dos melhores visuais do game!) também se dá de maneira mais lenta e com base nos quebra-cabeças, se comparada com as campanhas de Chris e Jake. 

Mas se na campanha de Leon é normal encontrar “zumbis bêbados“, já nas outras vamos encontrar zumbis (e outras mutações como os J’avos) velozes, inteligentes, poderosos e armados com metralhadoras, machetes e bazucas. E é justamente o restante do jogo que sofre as maiores críticas dos fãs, pois em nada lembra os elementos que fizeram da série um sucesso. São tiros, explosões e ação intensa por todos os cantos, seguindo a fórmula dos trocentos games de tiro em terceira pessoa já existentes no mercado. Isso resultou na perda de identidade da série? Sem dúvida! Mas isso não quer dizer que seja um jogo de ação ruim.

Pelo contrário, para quem gosta do gênero, “Resident Evil 6” é um prato cheio, com um pacote completo cheio de opções para os jogadores. A jogabilidade é excelente, e no teclado e mouse funciona ainda melhor que nos controles dos videogames, com uma ação mais fluída e instintiva. E jogabilidade é um item primordial aqui, pois a ação ocorre de maneira rápida e furiosa, com o jogador tendo que se movimentar constantemente, trocar de armas, utilizar itens, mirar, atirar e correr muito (inclusive tudo ao mesmo tempo, se quiser, sem aquelas paradas problemáticas de “Resident Evil 5”). O que pode atrapalhar é a movimentação da câmera, nada prática e cabendo ao jogador movimentá-la o jogo inteiro, buscando os melhores ângulos seja para matar os inimigos, ou para vasculhar os cenários em busca de itens valiosos. Mas dominando-se o uso da câmera, o resto fica fácil. Algumas cenas de ações QTE são apresentadas com comandos na tela, que precisam ser realizados no teclado antes do marcador de tempo terminar.

Há uma infinidade de habilidades que podem ser desbloqueadas para a evolução dos personagens, além de um arsenal generoso que pode ser encontrado pelo caminho, como pistolas, metralhadoras e granadas. A “zumbizada” aqui é osso duro de roer, os bichos são resistentes e precisam levar vários tiros até morrerem, mesmo que você mire na cabeça.

Mas no geral, “Resident Evil 6” não é um jogo difícil, há muitos itens de cura que irão garantir sua permanência no combate, mesmo que chegue a cair sem vida no chão. Objetivos devem ser concluídos para se progredir na história, mas não se preocupe, textos nas telas e as conversas dos próprios personagens são dicas mais do que suficientes para saber que caminho seguir ou o que se deve fazer. Além do mais, há uma ferramenta que mostra na tela aonde se deve chegar, o que deixa as coisas bem mais fáceis, ainda mais que os cenários possuem um design em sua maioria linear, deixando o fator exploração em segundo plano.

Graficamente, RE6 não faz feio, com texturas bem variadas, bom uso de efeitos de luz e sombras e animações. Mas está longe de impressionar, mesmo rodando em configuração máxima, há outros jogos, até mais antigos, que se apresentam muito mais bonitos na tela. Algumas áreas são feinhas e sem criatividade, e alguns NPCs são tão mal feitos que não tem como fazer vista grossa, especialmente quando comparados aos perfeitos designs dos personagens principais. Porém, ele dá conta do recado, os cenários em sua maioria são bem produzidos, o design dos personagens está impecável e os zumbis são bem variados, apesar de não serem lá muito originais (se comparados com outros games com monstros/criaturas). Há uma grande quantidade de belas cutscenes cinematográficas, de fazer inveja a grandes produções hollywoodianas, que ajudam a detalhar a narrativa, complexa e intricada, e deixar o jogador na expectativa para entrar em ação novamente.

A trilha sonora é ótima e a dublagem está perfeita, com excelente interpretação dos atores, colocando os sentimentos necessários em cada situação. Destaque também para os efeitos sonoros, variadíssimos, contando desde grandes explosões barulhentas, até singelos sons de coisas se arrastando pelos cantos escuros. Além disso, há uma quantidade bem considerável de modos extras, que ajudam a prolongar a vida útil do jogo e manter o interesse dos fãs por um bom tempo, mesmo depois de ter terminado o modo principal. Resumindo, tecnicamente, RE6 é uma produção primorosa, você gostando ou não que a série tenha enveredado para a ação.

Entre as novidades exclusivas para a versão PC, temos o modo Mercenaries No Mercy, com desafios ainda maiores que no modo Mercenaries normal (um dos mais viciantes e preferidos da galera), e tendo que matar zumbis cooperativamente com outros jogadores. Sete modos (Mercenaries/Online) adicionais, que foram lançados em forma de DLC nos consoles, já vem embutido na versão PC. Outra novidade exclusiva bacana (e grátis) é o patch que será lançado em abril e permite jogar com os personagens Coach, Nick, Ellis e Rochelle, de “Left 4 Dead 2“, da Valve. Dois zumbis de L4D2, Witch e Mini Tank, também irão infernizar os jogadores de RE6, nesse crossover pra lá de legal (L4D2 também receberá personagens de RE6).

Conclusão: Mais do que nunca, “Resident Evil 6” mostra que a série passa por uma crise de identidade, tendo num mesmo jogo vários estilos diferentes e dificilmente agradando a gregos e troianos. Sem dúvida, o título mais variado de toda a saga. Os que sentem saudades dos bons e velhos tempos do survival horror, vão se deliciar com as campanhas de Leon e Ada (essa um pouco mais voltada para a ação), enquanto que Chris e Jake oferecem uma quantidade de ação sem limites absurda na tela (mas sem inovar em relação a outros games no mercado), deixando de lado totalmente as raízes da franquia, mas que provavelmente vai agradar a quem goste do gênero. No geral, é uma produção milionária, tecnicamente bem feita, com jogabilidade fluída, uma boa história (apesar de se perder em alguns momentos) e integração entre as quatro campanhas. Um bom jogo, mas muito menos do que poderia ter sido.

+ Narrativa intrigante

+ Excelente elenco principal

+ A jogabilidade é fluída e dinâmica

+ Menus simples e funcionais

+ Campanha de Leon traz de volta as raízes da série

+ Boa variedade de golpes, armas, itens

+ Modos em dupla funcionam bem

+ Boa quantidade de modos extras

 Câmera horrível

 Gráficos e visuais abaixo do esperado

 Demasiada ênfase “cópia descarada” na ação, tirando a identidade da série

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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