Análises

Resonance of Fate

– O novo RPG da Tri-Ace aposta em um sistema de batalha dinâmico e desafiador –

Resonance of Fate (End of Destiny no Japão) é a nova aposta da produtora Tri-Ace (responsável por sucessos como Star Ocean, Valkyrie Profile e o não tão memorável Infinite Undiscovery) no estilo clássico de RPG oriental.

Para tanto resolveu deixar sua parceira de costume, a Square-Enix, de lado e deixou a Sega responsável pela distribuição do game (em sua primeira parceria na história). Lançado para PlayStation 3 e Xbox 360 e foi dirigido por Takayuki Suguro, que já trabalhou nos games Valkyrie Profile 2, Final Fantasy Tactics e Vangrant Story.

O título em japonês é uma referência à uma obra do escritor de ficção científica Isaac Asimov (grande mestre do scifi), conhecido por aqui como “O Fim da Eternidade”, que fala sobre viagem no tempo, paradoxos temporais e engenharia social (uma adaptação para os cinemas está sendo cogitada atualmente).

Mas então o game tem alguma coisa a ver com viagens no tempo? Na verdade não, mas a história se baseia em elementos scifi, mostrando uma Terra do futuro pós-apocalíptica, com uma história bastante original, personagens armados com artilharia pesada, gráficos estilizados e batalhas com cenas a la Hollywood. Não que isso (mostrar um mundo a beira de destruição, proteção do planeta, blá blá blá) já não tenha sido feito antes (Final Fantasy VI e VII), mas isso não quer dizer que o título não tenha os seus méritos.

A Torre Basel

Em um futuro muito distante, o planeta Terra está bem diferente do que nós conhecemos hoje. Por razões desconhecidas, camadas de gases venenosos permeiam o planeta, o que resultou na quase extinção do ser humano, devido a incapacidade da humanidade de se adaptar ao novo e nocivo ambiente. As poucas pessoas que sobraram construiram um gigantesco purificador de ar conhecido como Bazel. A civiliação começou a se restaurar, erguendo uma cidade em volta da torre. Porém percebe-se que as classes mais abastadas vivem no topo de Basel, em residências luxuosas, enquanto classes menos favorecidas, o povão, vivem nos diversos bairros em torno da base. E assim foi, por diversos anos, até que um dia o purificador começa a ter problemas de funcionamento.

A partir dai você conhece os protagonistas da história, composto por três personagens:

Zephyr: O mais jovem do grupo, com 17 anos de idade e personagem principal do game. Cresceu em orfanatos e creches, possui uma visão dura sobre a vida. Foi descoberto por Vashyron para trabalhar no seu grupo paramilitar (PMF) como um soldado mercenário.

Vashyron: Um homem de 26 anos de idade, ex-militar que abriu o seu próprio grupo de mercenários como um meio de ganhar a vida. Durante uma missão para reprimir manifestantes adolescentes, ele encontrou Zephyr e o convidou para entrar em seu grupo. Em seus tempos militares, servia a organização governamental Cardinal, que dita as ordens em Basel. Foi o único sobrevivente de seu esquadrão em uma batalha.

Leanne – Um linda loirinha de 21 anos de idade. Ela quase perdeu a vida em um evento no momento em que conheceu Zephyr, e se juntou ao PMF de Vashyron. Dos três, ela é a mais ágil durante os combates, com incríveis movimentos acrobáticos.

Em termos de personagens não espere nada inovador e sim os clichês clássicos dos JRPGs, como o líder experiente e com um passado misterioso,  o adolescente problemático e a mocinha meiga que exerce uma papel importante futuramente. Como antagonistas temos a organização governamental Cardinal, liderada por Rowen, que assumiu essa posição após a morte da Papa. E como toda organização do governo, esconde segredos que não poderei falar aqui.

Para um jogador experiente de JRPGs a narrativa do game e seus personagens podem ser meio previsíveis, mas ainda assim possuem o seu charme. Mas por outro lado a Tri-Ace inovou no sistema de batalhas, nada de espadas ou magias por aqui, e sim pistolas e metralhadoras e acrobacias no melhor estilo kung-fu Matrix de ser.

Um sistema de combate diferente

Apesar das batalhas serem diferentes da maioria dos RPGs, com personagens lutando com estilingues, espadinhas e bumerangues contra monstros gigantes e maus, aqui você lida com armas modernas e realistas, como pistolas, metralhadora semi-automáticas, granadas, bombas, tal qual em um Modern Warfare 2. Isso além de uma refrescante mudança no ritmo, também combina bem com o tema steampunk/cyberpunk do jogo. Mas não adianta apenas atirar nos inimigos, você deve ficar sempre em movimento, encontrar o seu ponto fraco e tirar vantagem disso.

Para tal temos o novíssimo Tri-Attack-Batlle System (TAB), que funciona como uma mistura de batalha em tempo real dividida por turnos, que variam pelo tempo de recarga das armas, velocidade de disparos e precisão, que eu já explico mais adiante.

Os danos aos inimigos podem ser classificados em dois tipos: scratch damage (dano temporário, que se recarrega com o tempo) e direct damage (dano real). Os “tiros de raspão” (dano temporário) das metralhadoras, servem de amortecedor para os danos diretos (dano real), que causam um dano maior. Ou seja, muitos dos inimigos você os “amortece” para depois mandar ver com granadas e tiros diretos de pistolas. Sua movimentação no cenário é livre, mas limitada por uma barra de tempo.

Mas o negócio não pára por aí, e o sistema fica mais complexo com o uso da barra “Hero Actions”, que pode ser meio confuso no começo. É através dele que você poderá bancar o mico de circo com acrobacias mirabolantes com as suas armas. Quando acionado, você poderá se proteger dos ataques “scratch” e ativar certos movimentos especiais, como os ataques diretos, usados para finalização e matar o inimigo. Ele também funciona como um medidor de magia. Você possui barras de energia (que aumentam conforme a evolução do personagem) para acionar um ataque especial devastador, que causa um dano considerável ao inimigo. Você vai escolher o trajeto que seu personagem irá percorrer durante a batalha, pulando por paredes, deslizando, ataques aéreos, obstáculos no caminho, etc. Você ainda pode acionar um ataque conjunto dos três personagens, quando acumula três Resonance Points. O TAB é uma combinação de ataque que pode ser acionando em certas condições. Correndo entre os outros dois personagens durante uma Hero Action pode-se acionar o tri-ataque, em que os personagens correm na foram de um triângulo, atirando contra o inimigo e causando altos danos.

É meio complicado e as primeiras missões são meio difíceis até você pegar o jeito da coisa, pois nas primeiras horas de jogo usar o Hero Actions pode ser uma faca de dois gumes, já que ele também serve como proteção para o seu personagem, ficando vulnerável aos ataques inimigos. Quando a sua barra de Hero Action estiver mais evoluída, as coisas ficam mais tranquilas. As lutas vão exigir muita estratégia e posicionamento dos personagens para o sucesso da batalhas, especialmente contra os chefões de fase, que possuem vários segmentos de armaduras e vão exigir de você conhecimento total do controle das batalhas. E acredite, você vai morrer várias vezes enfrentando alguns chefes dificílimos.

O sistema de evolução dos personagens é individual, que vai depender das habilidades de cada personagem. São três habilidades para cada um: handguns (pistolas), machineguns (metralhadoras) e throw weapons (armas de arremesso). Quanto mais você usar uma determinada arma, mais experiência com ela você vai adquirir. Ao ganhar um nível com sua arma, automaticamente seu personagem também evolui.

Além disso o jogo oferece um robusto sistema de customização para suas armas (que lembra o de Resident Evil 4), podendo comprar várias apetrechos como empunhaduras, miras laser e munições especiais, que servirão também para aumentar seus pontos de habilidade. Há também itens especiais que podem ser confeccionados por um ferreiro.

Os cenários e o sistema de mapa também seguem um caminho incomum para um RPG. Os cenários são no interior da torre de Basel, que contém inúmeros andares, devendo chegar até o seu topo. Durante as batalhas, você terá que colecionar peças hexagonais, os Energy Hexes, para desbloquear novas áreas e itens, com em um gigantesco quebra-cabeças que aos poucos vai tomando forma. Algumas áreas só poderão ser acessadas através de Hexes especiais, ganhas por NPCs ou em missões chaves. Nada de ficar andando por vilarejos, campos e desertos como nos RPGs clássicos. Aqui o visual predominante é o cyberpunk, numa trajetória vertical em referência à Torre de Babel. O jogo é dividido em capítulos, 16 no total, cada uma com sua missão primária a ser seguida, assim como várias sidequests, que serão fundamentais para você evoluir seus personagens e equipamentos e assim poder avançar no jogo.

Os gráficos e visuais de Resonance of Fate são bem reproduzidos. Um trabalho primoroso da Tri-Ace, com uma direção artística competente, como podemos ver na estrutura da torre de Basel, com muito estilo e beleza. As cidades são muito bem feitas, com um grande número de detalhes impressionantes e cheias de pessoas. Como o game usa um sistema de dia-e-noite, um mesmo lugar pode apresentar um visual totalmente diferente, quando visto à luz do dia ou pelas luzes da cidade iluminando a escuridão. Infelizmente, apesar de bonito, depois de um tempo esse visual não muda muito e pode acabar sendo cansativo, e as áreas dos labirintos acabam sofrendo poucas mudanças de um cenário para outro, já que estamos num complexo industrial, sem a opção de variedade de vida e flora selvagem. As batalhas são um espetáculo à parte, exalando estilo hollywoodiano por todos os seus poros, durante as Hero Actions, com visuais emocionantes que farão das batalhas uma viagem, mesmo que você esteja apanhando pela trigésima vez. E as CGs são belíssimas, sempre de alta qualidade como já é de costume nos jogos da Tri-Ace.

O design dos personagens e inimigos está impecável, com roupas e feições bem detalhadas, coloridas e extravagantes, como manda o manual dos JRPGs. A vantagem é que aqui você pode personalizar seu personagem com roupas e outros acessórios, podendo inclusive mudar cor dos cabelos e olhos. Os inimigos não são tão variados como poderiam ser, mas pelo menos possuem um visual bem feito.

A trilha sonora orquestrada é excelente, assinada por Motoi Sakuraba, com ajuda de Kohei Tanaka, que acrescentaram mais à atmosfera do game com o seu inconfundível talento. Conta com bons efeitos sonoros e uma dublagem americana competente, com destaque para a voz de Nola North (o Nathan de Uncharted) interpretando Vashyron de forma bem sarcástica e divertida. Mas se você preferir, há a opção de se ouvir as vozes no original em japonês.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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