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Ride to Hell: Retribution

Ride to Hell: Retribution teve um conturbado passado até seu efetivo lançamento. Anunciado em 2008 e prometido para 2009, devido a alguns problemas o game foi adiado até seu lançamento em 2013 para as plataformas Xbox 360, Playstation 3 e PC.

Como em quase toda história de games com adiamentos intermináveis, cancelamentos e afins, a coisa fedeu. E a carniça aqui foi forte.

O conceito de Ride to Hell ironicamente é muito interessante. Seus desenvolvedores tinham a pretensão de produzir ser um game de ação e aventura open world, que se passaria nos EUA no final dos anos 60 e abarcaria toda a cultura dos motoqueiros do oeste americano.

O jogador encarna Jake Conway, integrante de uma família de motoqueiros composta por seu irmão mais novo e seu tio. Após desinteressantes e tediosos acontecimentos, o irmão de Jake é assassinado por uma gangue de motoqueiros rivais e a partir daí o protagonista somente pensa em uma coisa: vingança.

O início do game é conturbado e mostra ao jogador boa parte dos problemas que ele enfrentará ao longo da campanha.

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Sem nenhuma explicação, logo no início do game o jogador é jogado em uma terrível e imprecisa sequência de tiro. Abruptamente a cena é cortada e uma briga, mal scriptada e toda em QTE, já está rolando na tela. E assim a coisa vai até que o game tem o seu início oficial.

Essas cenas são de momentos futuros que ocorrem ao longo do jogo. Isso possivelmente era para deixar o jogador no clima da ação, no clima do enredo, no clima do jogo. Infelizmente as cenas são tão mal montadas e a pobreza narrativa é tamanha, que o que essa introdução faz é deixar o jogador quase que incomodado e constrangido por estar jogando aquilo. Bom, de repente, vendo por outro ângulo, essa introdução do game realmente deixou o jogador preparado para o que viria.

Já tendo o controle livre de Jake o show de abominações tem início. Fica difícil escolher qual das mazelas é a pior.

Visualmente o game é um dos piores da geração. Texturas em baixa resolução e serrilhados pipocam na tela. A movimentação de todos os personagens ao longo do jogo é antinatural e nem comecemos a falar na anatomia deformada de 90% de todo o elenco do jogo.

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O enredo é uma fraca justificativa para Jake sair por ai e matar todo mundo. Mesmo a relação do protagonista com seu irmão assassinado, motivo único e exclusivo de sua sede de vingança, é bem explorado. Não existe em nenhum momento de Ride to Hell algo que faça ser sentida a dor da perda do protagonista.

Essa falta de profundidade sentimental é algo grave. God of War mostrou que é possível se afeiçoar até mesmo com um brutamontes assassino de Deuses. Halo mostrou que é possível fazer de um personagem basicamente obtuso e sem face, algo palatável e carismático. Seria realmente tão difícil fazer de Jake um personagem minimamente agradável?

A falta de desenvolvimento de personagens tem seu ápice naquilo que nomeei de “Power Whore Ups”.

No game é possível fazer amor (mentira, é “trepar” mesmo) com algumas mulheres ao longo da campanha. Sexo tratado da maneira adequada em games não tem nada demais. Basta notar como a série Mass Effect trata o assunto com uma maestria única. Entretanto, como tudo em Ride to Hell, a coisa aqui é ridícula.

Em Ride to Hell, assim que Jake salva a dita cuja mulher de uma situação adversa, não importa qual seja a situação e qual foi à consequência de sua ação, essa mulher se entrega imediatamente para o protagonista, em cenas ridículas e infantis de sexo.

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Em certo momento do game, salvamos uma dessas certas “senhoritas” de um meliante em um quarto de hotel. Com salvá-la, quero dizer que matamos o infeliz na frente dela. A cena seguinte já mostra Jake e a “senhorita” fazendo sexo. Isso mesmo, o jogador mata um homem na frente da mulher e no mesmo instante, no mesmo cômodo onde está um homem morto, o sexo rola.

A cada mina “traçada” Jake ganha alguma melhoria de atributos, que não fazem verdadeiramente nenhuma diferença ao longo do gameplay. Por falar nisso, esse é o aspecto mais incompleto, inconsistente e ilógico de todo o game.

Ride to Hell é dividido em três principais seguimentos no que cerne o gameplay. Há momentos de ação, que envolvem lutas mano a mano e tiroteios. Há momentos de exploração nas cidades do game. E há momentos de “free-road”, em que o jogador usa sua moto para transitar de uma cidade para outra.

Quando em combate, os controles são imprecisos e frustrantes. Os ataques físicos, em lutas que lembram uma versão vagabunda do sistema de Batman Arkham, são inúteis. Normalmente são minutos acertando o mesmo inimigo, sem um sistema real de combo, até que o mesmo caia. Caso a preferência o jogador seja resolver tudo no tiro, não será difícil acertar os inimigos, pois ou eles virão como idiotas para cima de Jake, ou realizarão covers em locais em que não estarão a salvo. Caso não tenha notado, a Inteligência Artificial aqui é nula.

Infelizmente, caso seja de vossa vontade resolver tudo no tiro, saiba que todos os inimigos de Ride to Hell são quase imortais contra qualquer coisa que não seja um tiro na cabeça. Atirar em qualquer outra parte no corpo dos inimigos significa gastar muita munição para abater somente um deles.

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Em resumo: Lutar com as mãos não é nada efetivo e é demorado. Atirar “a lá vontê” além de ser inútil e demorado, ainda faz o jogador gastar quilos de balas para nada. A única coisa que é efetiva aqui é atirar na cabeça do inimigo. Ainda assim, muito boa sorte com isso, pois o sistema de mira é horrível.

O sistema de “free road” não é livre. Verdadeiramente falando, Ride to Hell não é um game open world. Tudo o que acontece aqui é Jake montar em sua moto e ir de um ponto A a um ponto B.

Para piorar, em muitas dessas seções bestas. Basta fazer o número indicado de pontos e pronto. Não é necessário sequer realizar algo em específico, ou mesmo chegar a algum local demandado.

O controle da moto é terrível, completamente dispersivo, dando a impressão que se está correndo de moto no gelo. Ainda assim, o game faz o favor de colocar inimigos em outras motos para confrontar Jake, unindo assim um terrível sistema de mira com um odioso controle de moto. Essas seções um verdadeiro passeio no inferno.

Mas não é preciso se preocupar com os inimigos nessas seções, pois normalmente eles batem sozinhos e, por algum motivo, um belo tempo depois explodem. O difícil aqui é não bater em algo, já que o visual é confuso e existem locais estreitos e acidentados na pista. Não que exista algum sistema de dano ou afins, a questão é que se Jake parar, mesmo que por um instante, de seguir em frente, a seção simplesmente recomeça, ou seja, não se pode nem sonhar em retroceder.

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Pode acontecer também de o jogador explodir sua moto, o que é bem randômico. É possível se chocar de frente com um carro e não acontecer nada (física de c* é rol*), enquanto somente tocar em uma cerca é o suficiente para fazer a moto explodir.

Detalhe importante: as motos não realmente explodem, somente rola o som de uma explosão e fogo ao redor da mesma. Aliás, o efeito sonoro de explosão é sempre o mesmo, não importando o que está explodindo.

Em momentos de explorar as cidades, não existe exploração de verdade. As cidades são desérticas, pequenas e com quase nenhum ponto de interação. Monotonia total.

Ao longo da jogatina eu desliguei a música do game, por único e exclusivo motivo de péssimo gosto na seleção das mesmas por parte dos criadores. Além disso, acontece muito de o game não apresentar efeitos sonoros que deviam ser representados, como explosões, tiros e afins. Isso deixa muitas cenas bem piores do que já o seriam com seu pacote audiovisual completo.

Por fim, a dublagem do game não somente é ruim, é retardada. Possivelmente o pior trabalho de dublagem que eu já tive o desprazer de testemunhar. Acreditem, dublagens nacionais como o triste serviço realizado em KillZone 3 são verdadeiras obras primas perto da dublagem americana de Ride to Hell: Retribution.

Ao longo das mais de 15 horas de jogatina não consegui verdadeiramente encontrar nenhum ponto realmente forte nesse game. Nada funciona ou se destaca, mesmo que isoladamente do todo. Tão horrível assim o é Ride to Hell: Retribution.

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Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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