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Sega – o que esperar no futuro?

por Márcio Alexsandro Pacheco

A Sega chocou o mundo quando em 2001 anunciou que ia parar de fabricar consoles para se dedicar na produção de games, e agora, mais uma vez, ela choca as pessoas, ao anunciar nesta última sexta-feira (30) que vai passar por uma reestruturação radical, mandando embora 300 funcionários e mudando o seu foco para dispositivos móveis e jogos digitais para PC, e que vai deixar de lado os consoles.

A revelação já causa rebuliço na internet, com muita gente arrancando os cabelos e se desesperando, dizendo que a empresa está nas últimas e prestes a falir (não, não estamos falando da Nintendo, é a Sega mesmo). Bom, realmente essa notícia é meio assustadora, ainda mais quando chega assim de “chupetão” e, especialmente para os fãs mais antigos (como eu), que acompanham a empresa desde o Master System e têm um carinho especial pelos seus consoles, dos seus incontáveis jogos clássicos e da própria história que a empresa cravou na indústria dos videogames.

Mas antes de nos desesperar, vamos conferir os números oficiais da Sega Sammy Holdings (a sede japonesa), que vão indicar sua situação financeira. E como indica o relatório anual de 2014 (ainda em andamento, o ano fiscal inteiro termina em 31 de março de 2015), a empresa teve um lucro operacional de 38,5 bilhões de ienes em 2014, um acréscimo de 103% em relação ao mesmo período do ano passado, que foi de apenas 19 bilhões (porém 2013 foi um dos piores anos da Sega nos últimos tempos, então não é realmente uma grande vitória, visto que em 2012 ela arrecadou 58 bilhões). Confira na tabela abaixo.

As vendas líquidas ficaram com um valor de 378 bilhões de ienes, um acréscimos de 18% em relação ao ano anterior, que foi de 321 bilhões (novamente, 2013 um péssimo ano, ao contrário dos anteriores, que tiveram valores bem maiores, como 2012, que foi de 395 bilhões).No setor consumidor, onde entram os jogos de videogames produzidos (mídia física e digital), ela arrecadou 99 milhões de ienes, um aumento de 19% em relação aos 83 milhões do ano passado e a melhor marca desde 2010, que foi de 121 milhões. A Sega informou que a renda veio principalmente das vendas dos jogos digitais, cerca de 40 bilhões de ienes.

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resultados financeiros de 2014, que mostra um grande aumento nas máquinas Pachinko, mas quedas nos outros setores, com um pequeno aumento nos games caseiros, em relação ao ano passado

Como podemos ver, a Sega vem passando por uma instabilidade financeira que vem principalmente desde 2008 e 2013 (quando teve quedas drásticas nos lucros), e apesar do lucro operacional em 2014, os resultados finais “foram decepcionantes, pois pela segunda vez consecutiva não cumprimos nossas metas iniciais“, como revelou o próprio presidente da Sega, Hajime Satomi (imagem abaixo).

Satomi diz que sabe que a empresa passa “por uma grande crise atualmente” e que está determinado a “fazer mudanças drásticas para trazer o lucro e crescimento novamente“. E desde novembro do ano passado (quando foi lançado esse relatório), Satomi avisou aos acionistas: “Preparem-se para uma decisiva reforma estrutural“.

E neste momento estamos presenciando as tais mudanças prometidas. Mas verdade seja dita: há tempos a Sega vem capengando na indústria de videogames, desde a época do 32X, seguido pelos fracassos comercias do Saturn e Dreamcast. Sem dúvida Sonic é a sua maior marca e ganha pão, e também o principal responsável pelos números baixos recentes. Seu último jogo, “Sonic Boom“, vendeu apenas 180 mil unidades no Wii U até o início de janeiro de 2015 (180 mil no 3DS). Vale lembrar que a baixa venda do Wii U (cerca de 9 milhões de unidades atualmente) afeta diretamente a performance de vendas do jogo (o que não acontece com o 3DS, mas mesmo assim também está com rendimento baixo). O jogo foi massacrado pela crítica, ficando com uma baixíssima média de pontuação de 32 no site Metacritic (47 no 3DS), o que mostra que as coisas não vão nada bem para o ouriço supersônico nos videogames (o novo desenho animado, pórem, tem feito sucesso).

“Sonic Boom” ficou longe das expectativas da Sega nos sistemas Nintendo

Mas, por outro lado, “Alien: Isolation” surpreendeu ao ultrapassar a marca de 1 milhão de unidades vendidas em apenas três meses no mercado – número total de vendas em todas as plataformas em que foi lançado (PS3, X360, PS4, XOne e PC). Apenas por curiosidade, a plataforma mais vendida foi o PS4, com cerca de 670 mil (o console atualmente está chegando na casa de 20 milhões de unidades vendidas). Se “Sonic Boom” tivesse alcançado os bons resultados de “Alien: Isolation”, a história poderia ser diferente. Outras franquias da Sega que têm se saído bem no mercado são “Total War” e “Football Manager“, ambos com fortes presenças no PC.

Alguns fãs podem até dizer que a Segavai muito bem, obrigado“, que ela tem outros ganhos no ramo de arcades e máquinas caça-níquel Pachinko, com vendas que superaram outros grandes nomes do mercado, como Konami, Capcom e Square Enix (a Nintendo, por exemplo, teve um prejuízo pelo terceiro ano consecutivo de 46,4 bilhões de ienes), mas se as coisas estivessem tão bem assim, não seria necessário uma “reestruturação drástica” para aumentar os lucros, não é? Além do mais, basta apenas conferir os relatórios financeiros dos últimos cinco anos da empresa para constatar que ela passou por altos e baixos globais, financeiramente.

apesar dos bons resultados, “Alien Isolation” não pode sustentar a Sega sozinho

Mas a verdade é que ela está longe de ir para a falência, como muitos estão falando por aí. Essas mudanças que estamos vendo são “apenas negócios” e uma maneira de diminuir os gastos e de se estabilizar no mercado. Ao se dedicar aos jogos digitais e smartphones, a Sega vai economizar muito na produção de jogos de mídia física para consoles, e que aparentemente, andam com as vendas mais baixas do que os digitais. Infelizmente, ficaremos um tempo (um ano talvez?) sem ter uma presença constante da companhia nos consoles. O que mais preocupa nessa história toda, é saber qual será o futuro da Atlus, que foi adquirida recentemente pela Sega e que produz jogos das séries Persona e Shin Megami Tensei.

Ainda é muito cedo para tirar conclusões sobre o futuro da Sega, mas certamente, de acordo com os seus relatórios financeiros, a empresa não irá falir nas próximas semanas. Temos a Nintendo aí como exemplo, que a todo ano está “falindo” (e que teve prejuízos bem mais significativos do que a Sega nos últimos anos) e vem se mantendo no mercado. A Sega of America, a principal afetada pela atual restruturação (e lembrem-se, eles não fazem nada sem o OK lá dos japoneses) provavelmente vai investir mais em jogos free-to-play (que você baixa gratuitamente e paga por microtransações), como os mais recentes sucessos em dispositivos móveis, “Sonic Jump“, “Sonic Dash” e “Phantasy Star Online 2” (esse apenas no Japão).

Para finalizar, as decisões da Sega em cortar suas operações fazem sentido do ponto de vista de uma empresa que está tentando se manter positivamente no mercado. Porém, se ela pretende deixar a mediocridade de lado e ser uma empresa mais relevante na indústria nos próximos anos, ela precisa voltar a criar jogos emocionantes e emblemáticos. E principalmente: ressuscitar seus personagens e franquias clássicas que os fãs tanto amam! Quantos aí não gostariam de jogar um novo “Streets of Rage”, ou um “Golden Axe”, “Toejam & Earl”, “Comix Zone”, “Alex Kidd”, “Altered Beast”, “Shinobi”, “OutRun”, “Shenmue”, entre tantos outros? Em tempos de remakes (principalmente de filmes dos anos 80/90), seria perfeito recomeçar essas franquias em uma nova geração com o pé direito. E estamos falando em desenvolver títulos, com desenvolvedores japoneses criativos (como nos bons e velhos tempos), e não apenas publicar jogos feitos por estúdios norte-americanos para tentar conquistar um mercado ocidental local. Isso é pensar pequeno para uma empresa que já dominou o mercado de videogames.

Para aproveitar o embalo, confira nossa matéria especial Sega vs Nintendo (parte 1 e parte 2), certamente a época de ouro da empresa e a que mais traz saudades e nostalgia para os fãs.

E você, caro leitor, qual a sua opinião sobre o futuro da Sega? Comente aí embaixo, nós queremos saber!

* Texto opinativo que reflete a opinião do autor e não do site!

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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