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Sega vs Nintendo – relembre dessa guerra titânica que vai virar filme – Parte 1

por Márcio Alexsandro Pacheco

Como você já deve saber, em um futuro não muito distante teremos um longa-metragem sobre a titânica batalha de Sega vs Nintendo nos anos 90, pelo domínio do mercado de videogames. Certamente essa foi a época de ouro dos videogames, sendo que os fãs que cresceram nela lembram com muito carinho e saudosismo. Eram outros tempos, bem diferente dos dias atuais, não existia essas coisas do capeta como internet, smartphones, tablets, e as guerras entre as duas gigantes dos videogames era travada em revistas especializadas (feitas de papel mesmo!), comerciais de TV e, principalmente, através dos seus fãs nas ruas e pátios da escola, cada qual defendendo o seu lado com unhas e dentes.

Muitos gamers de hoje, da geração “Justin Biba“, infelizmente não tiveram a oportunidade de conhecer e vivenciar pessoalmente essa fase dourada dos videogames, por isso resolvemos fazer essa matéria especial abordando o assunto, para dar a vocês um gostinho de como ela foi especial. E para os sortudos que a vivenciaram, poderão agora relembrar os melhores momentos dessa história que certamente marcaram sua infância. Como o livro em que o filme será baseado é focado em mostrar a história da Sega combatendo a gigante Nintendo, nossa matéria também terá mais foco nela, por isso nintendistas nada de mimimi e comentários ofensivos, ok? Como o conteúdo é enorme, vamos dividir a matéria em duas partes, sendo que a primeira vai abordar a era dos 8 Bits. Então preparem o seu DeLorean, aqueçam os motores e boa viagem no tempo!

O início: a quebra dos videogames

Nossa história começa no início dos saudosos anos 80. Eu tive um professor de geografia que dizia que essa era a “década perdida“, mas claro que ele se referia às crises econômicas que assolavam não apenas o Brasil, mas vários países do mundo. Em termos culturais, provavelmente foi uma das melhores décadas existentes, tanto para filmes, como na música e claro, os nossos queridos videogames!

O final dos anos 70 foram marcados pela explosão e ascensão da Atari na indústria de videogames. Os negócios iam bem para a empresa norte-americana, até o fatídico ano de 1983, quando ocorreu nos EUA a crise conhecida como “a quebra dos videogames” – essa crise, assim como tudo que acontecia fora, demorou um pouco para chegar no Brasil.

o Atari foi uma febre nos anos 70, mas em 1983 ninguém queria saber dele

Os consumidores simplesmente perderam o interesse nos videogames, em parte, por culpa da própria Atari que dominava o mercado, que passou anos fazendo os mesmos tipos de jogos, com telas estáticas, e sem inovar de forma significativa os seus games. Foi um tiro no pé que fez a companhia quase falir, sendo que várias outras não tiveram a mesma sorte e fecharam as portas. Foi como se uma bomba nuclear tivesse devastado a indústria de videogames.

Essa crise nos EUA durou até 1985, ano esse marcado pela lançamento do sistema que iria mudar os norte-americanos e o mundo: o Nintendo Entertainment Systemou simplificando, NES. O videogame de 8 Bits da Nintendo já fazia um grande sucesso no Japão desde 1983, conhecido por lá como “Family Computer“, ou simplesmente “Famicom“. Ele foi o responsável por revitalizar a indústria dos videogames e despertar o interesse por games nas pessoas novamente, afinal, ele apresentava novas ideias e formatos de jogos, sem dizer que a própria indústria sofria alterações, com dezenas de produtoras licenciadas surgindo para produzir e distribuir títulos no Nintendinho. Certamente um dos mais importantes videogames da história.

o Famicom japonês era bem feioso, mas estreou os joypads!

Anos 80: Nintendo domina o mundo

Mas ironicamente, o início para a Nintendo nos EUA não foi moleza, e ela teve que “empurrar” o seu produto goela abaixo dos consumidores até ele ser finalmente aceito. Em 1983 a empresa japonesa visando entrar no lucrativo mercado norte-americano, tentou fechar uma parceria com a Atari, para distribuir o seu Famicom na terra do Tio Sam. O videogame seria lançado com o nome de “Nintendo Enhanced Video System” e a parceria entre as duas empresas era para ter sido firmada na Consumer Eletronic Show em junho de 1983. O problema é que a Atari recusou assinar o contrato no último minuto, pois uma das suas principais concorrentes, a Coleco, estava demonstrando um protótipo do jogo “Donkey Kong“, que por acaso é da Nintendo, em seu videogame que logo seria lançado, o Coleco Adam. A Atari não gostou nada das “más companhias” com quem a Nintendo andava e pulou fora do barco, e a Nintendo decidiu prosseguir sozinha mesmo.

A Big N mostrou o seu “Nintendo Enhanced Video System” para o público americano pela primeira vez na CES de 1984, com um visual nada bonito e cheio de parafernálias, como teclado, mouse e outros cacarecos, tentando passar a ideia ao consumidor, imprensa e lojistas que aquilo não era “apenas” um videogame, mas um sistema de entretenimento multifuncional. O público não gostou. Ele não foi bem aceito, pois as pessoas ainda estavam temerosas pela crise de 1983. A Nintendo até virou piada em revistas especializadas, que diziam coisas do tipo “Ninguém os avisou que a indústria de videogames está morta?“.

o Nintendo Enhanced Video System é peça de museu agora

Mas a companhia não desistiu, e na CES de 1985 o aparelho retornou, agora totalmente reformulado, com um novo visual e um nome mais simpático: Nintendo Entertainment System. Desta vez a aceitação foi melhor. Mas apesar de atrair a atenção e interesse, os lojistas ainda estavam com um pé atrás em distribuir o console, e só depois de muita conversa, marketing e campanhas demonstrando que o aparelho valia o risco, que a Nintendo conseguiu convencer as lojas o comercializarem em um teste de mercado em Nova York.

Assim em outubro de 1985 o NES foi inicialmente vendido em NY, para mais tarde, devido ao seu sucesso crescente, ser lançado em outras cidades, até que finalmente em 1986 ele era distribuído nacionalmente nos EUA, pelo preço de US$ 250 o “pacote de luxo“, que incluía dois controles e o game “Super Mario Bros.“.

O NES americano teve um visual bem mais bonito do que o  original japonês

A partir de então o sucesso foi gigantesco e os EUA foi o país que mais vendeu o console – cerca de 34 milhões de unidades. E o sucesso era merecido, pois a empresa apresentava uma nova fórmula para os videogames: os jogos side-scrolling, ou traduzindo, jogos com tela de rolagem – e não mais tela fixa como no Atari. E o principal responsável pelo “boom” da Nintendo nos EUA foi o “Super Mario Bros.“, o seu principal jogo de plataforma 2D – o jogo é o título que mais vendeu da franquia até hoje, com cerca de 40 milhões de cópias em todo o mundo. Além do simpático encanador bigodudo, outro responsável pelo sucesso da Nintendo é o lendário game designer Shigeru Miyamoto, a mente genial que além de Mario, nos trouxe “The Legend of Zelda” (além de várias outras franquias).

o NES introduziu os games side-scrolling no mercado (na imagem o jogo de tela fixa ET do Atari e ao lado Super Mario Bros)

Sega: uma gigante dos arcades

Mas enquanto a Nintendo dominava o mundo com o seu NES, onde diabos estava a Sega? Os primórdios da mãe do Sonic começou nos EUA (e não no Japão!), sendo fundada em 1940 com o nome de Standard Games, em Honolulu, Hawaii, por Martin Bromely, Irving Bromberg, e James Humpert com o objetivo de fornecer diversões eletrônicas. No início dos anos 50 a empresa se mudou para Tóquio e então passou a se chamar “Service Games of Japan“, ou simplesmente SEGA.

Até o início dos anos 80, agora com o nome de Sega Enterprises, a empresa estava envolvida no mercado de diversões eletrônicas, especialmente os arcades (ou fliperamas, se preferirem), fazendo muito sucesso e sendo respeitada no mercado, especialmente nos EUA. Porém em 1982 o mercado de arcades começou a cair, certamente um prelúdio da “crise dos videogames” que ocorreria no ano seguinte. Suas sedes americanas foram seriamente atingidas com o declínio, o que levou os executivos a pedirem conselhos do CEO da Sega do Japão, Hayao Nakayama.

Entrando no mercado de videogames

Nakayama é um, senão o mais, importante nome na história da Sega. Foi sob sua liderança que a empresa ascendeu ao mercado doméstico de videogames (ele também foi responsável pelo declínio dela, mas isso é outra história), e aconselhou os norte-americanos que eles deviam usar todo o seu conhecimento e experiência recebidos da indústria de arcades para criar um videogame que ficasse dentro da casa dos consumidores, e não fora, como acontecia com os fliperamas. Assim, ele recebeu o “ok” e prosseguiu como líder do projeto que levaria a Sega criar o seu primeiro console em 1983: o SG-1000 Mark Io embrião do Master System.

Hayao Nakayma tocou o terror na Sega entre 1984 a 1999 – da ascensão ao declínio

Pouco depois do seu lançamento, a Sega passaria por uma reestruturação, sendo que o Japão seria agora a principal sede de desenvolvimento, e os EUA a filial, sob o comando de Hayao Nakayama. Em 1984 a Sega lançava uma nova versão do seu videogame (com algumas leves melhorias), o SG-1000 Mark II, mas ambos não fizeram sucesso comercialmente, especialmente com o Famicom na área.

o Sega Mark III, que viria a ser o Master System

Master System chega ao mundo

Mas decidida a entrar no mercado de videogames, a empresa não desistiu e lançou uma terceira versão definitiva em 1985, o SG-1000 Mark III, mais conhecido fora do Japão como “Master System“. O console havia sido feito com um propósito: encarar o rival Famicom e abocanhar uma fatia do rentável bolo da indústria de videogames. E potencial o aparelho tinha, com especificações melhores do que o Nintendinho 8 Bits, ele era tecnicamente mais poderoso. Infelizmente enfrentou barreiras que não puderam ser contornadas:

  • Foi lançado muito tempo depois que o Famicom, que já tinha uma base sólida de consumidores;
  • Os preços do concorrente eram mais baixos além de ter uma maior variedade de jogos;
  • A Nintendo assinava contratos exclusivos com as softhouses para lançarem games apenas para o seu videogame, assim os “melhores” jogos só tinham para o NES.

o Master System tinha um visual belíssimo

Apesar de as vendas terem sido muito modestas no Japão, a Sega não desistiu, pelo contrário, resolveu ser mais audaciosa ainda e peitar a Nintendo no território onde ela reinava absoluta: a terra do Tio Sam, os EUA. Convenhamos, ela demonstrou coragem e personalidade ao tomar essa decisão.

Assim o SG-1000 Mark III foi totalmente reformulado para entrar nos EUA em 1986 com um novo nome: Master System. O “Sistema Mestre” contava com uma cor preta e detalhes em vermelho, tinha um visual moderno e arrojado (e diga-se de passagem, muito mais bonito que a “caixa de sapatos” cinzenta do NES). Uma curiosidade: esse modelo “Master System” foi relançado no Japão com uma novidade: ele tinha um chip de som extra (que não tinha na versão de outros países) que melhorava significativamente a qualidade das músicas dos games – a diferença mais notável é no clássico “Phantasy Star“, confiram uma comparação no vídeo abaixo.

E assim em junho de 1986 chegava o SMS em território inimigo, em que a Nintendo reinava absoluta com 80% do mercado com o seu Nintendinho. Infelizmente o console sofreria as mesmas pressões que a sua versão nipônica, com o monopólio da Big N das principais sofhouses, o SMS não tinha chance contra Mario, Zelda, Castlevania, Final Fantasy e Megaman. A maioria dos jogos eram feitos pela própria Sega, em boas conversões caseiras de seus arcades, mas não eram o suficiente para bater o concorrente.

Vendo que o Master System não poderia superar o rival, Hayao Nakayama resolveu não gastar mais esforços em um mercado que claramente não poderia vencer. Ele então toma uma decisão que seria fatídica para o SMS nos EUA. A Sega resolve fechar um acordo de licenciamento e distribuição com a loja de brinquedos Tonka Toys, na esperança de uma melhor distribuição do SMS na rede de lojas do país. Acontece que a Tonka Toys não manjava nada de videogames, não fazendo campanhas publicitárias e trazendo os piores jogos do console. Se o Master não estava indo bem nas mãos da Sega, com a “Toska Toys” foi de patético a pior.

Master System em outros continentes

O SMS pode ter levado uma “cossa” do NES no Japão e nos EUA, mas na Europa a história foi bem diferente. O Nintendinho não era muito popular nos países europeus, e em 1987 o SMS seria lançado fazendo um enorme sucesso. Rapidamente conquistou o mercado europeu, fazendo inclusive com que a Sega criasse uma filial na Europa anos mais tarde, criando assim um terceiro grande campo consumidor para videogames. A Nintendo nem tentou competir com a Sega abrindo filial por lá.

Com o apoio de várias sofhouses em produzir games para o console, o SMS europeu teve diversos títulos exclusivos, que faziam muito sucesso. Entre as softhouses estavam a Absolute, Acclaim, Activision, Core, Codemasters, Domark, Flying Edge, Image Works, Sony, Tengen, U.S. Gold, Virgin Games.

a caixa do Master System original lançado pela Tec Toy no Brasil

O Master System é verde e amarelo!

Mas não foi apenas na Europa que o console teve seus dias de glória. Mais ainda que na Europa, o Master System iria conquistar toda uma nação de jogadores: o Brasil!

Chegando a terras tupiniquins em 1989, pela então recém-formada Tec Toy – que já tinha certo renome com o seu “brinquedo” educacional de perguntas e respostas chamado Pense Bem (verdadeira mania da molecada na época, eu tinha um) e com os saudosos minigames – o Master System chegava OFICIALMENTE ao Brasil.

Uma revolução no mercado brasileiro de games estava acontecendo. Diferente da Tonka Toys nos EUA, a Tec Toy levou a sério sua parceria com a Sega e fez seu trabalho de casa direitinho, investindo muita grana em publicidade (comerciais de TV, revistas, outdoors, programas de TV) e uma boa variedade de títulos e jogos de peso já no lançamento do console.

a Tec Toy investiu em fortes campanhas publicitárias em revistas e televisão

O SMS, assim como na Europa, rapidamente caiu nas graças dos jogadores brasileiros, sendo um mega-sucesso de vendas. E olha que a concorrência não era fácil, apesar de o NES não ser vendido oficialmente no Brasil, havia diversos “clones” feitos por empresas brasileiras, como o Hit Top Game, Dynavision e o Phantom System. Pirataria na cara dura. E o SMS foi um vencedor, no início dos anos 90 a Tec Toy já possuía 80% do mercado brasileiro de games. Ah os saudosos anos 90, a era de ouro dos videogames no Brasil. O SMS reinava glorioso no país, servindo ainda para abrir as portas para o seu irmão que logo chegaria, o Mega Drive, outro grande sucesso de vendas da Tec Toy.

Aqui terminamos a primeira parte desse especial de Sega vs Nintendo, em que abordamos o início de ambas as empresas e os seus inesquecíveis consoles 8 Bits. Na segunda parte continuaremos com o Segundo Round: Mega Drive vs Super Nintendo. Fique ligado aqui na Gamehall para não perder o próximo e empolgante capítulo!

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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