Análises

Septerra Core

Septerra Core é um jogo que foi lançado no ano de 1999 para o PC. Plataforma esta que dificilmente me agrada em se tratando de RPG. Desenvolvido pela Valkyrie Studios, distribuída pela Top Ware e pela famosa Monolith, o game surpreende por ser muito similar aos RPGs que encontramos nos consoles, o que pode ser um belo atrativo para quem não curte muito o estilo PC de se fazer RPG.

Há muito tempo atrás, o mundo de Septerra foi criado por um ser chamado “Creator” (Criador). Este é um mundo bem diferente do que se vê por aí nos RPGs, tornando-o muito original: o mundo é dividido em 7 camadas diferentes (continentes) rodando em volta de um mecanismo que fica no centro, chamado de “espinha” (spine), que conecta um continente ao outro, de Norte a Sul, assim coletando uma espécie de energia que fica armazenada no “coração” do planeta, chamada de Core pelos habitantes do game.

Esta energia é usada por todos os habitantes do planeta para facilitar sua vida, no nosso caso usaremos mais nas batalhas para fazer mágica. Outro exemplo é que ela também pode ser usada como fonte de energia para máquinas. Ou seja, os continentes na verdade agem como uma gigantesca turbina que é presa na espinha para gerar energia para eles mesmos (os continentes, ou seja, o planeta). Complicado? Que nada!

A cada 100 anos, os continentes se alinham de uma forma que uma grande rajada de luz do Sol pode atingir o coração de Septerra. Neste momento, duas chaves que foram deixadas pelo Creator podem ser usadas. Estas chaves dão ao possuidor delas toda a energia armazenada no coração do planeta, um poder que é chamado no game de “Gift of the Creator” (Presente do Criador) e também o “caminho para o Reino dos Céus”. E é claro que isto é motivo de ambição.

Bem, esta é a base do enredo. Agora, vamos partir para o real do game. Ele começa com uma CG contando um pouco sobre a história deste mundo, que é a seguinte (eu praticamente traduzi o que diz lá e acrescentei outros conhecimentos vistos no game!):

Com a criação destas duas chaves que podem receber a força armazenada no coração do planeta (Core), muitos homens lutaram por ela, mas apenas um ser conseguiu tirá-las das mãos de Creator: Gemma. Ele era um Serafim (anjo de total confiança de Deus no cristianismo assim como Satã…) que ficou contra Creator, roubou as duas chaves gêmeas e raptou Kyra, o anjo de maior confiança de Creator. Kyra é o anjo da Luz, responsável pelo dia e pela noite em Septerra.

Quando toda sua horda de Anjos falha em vencer Gemma, Creator envia seu único filho, Marduk, para Septerra com a missão de parar Gemma. Marduk se junta a um exército formado na camada três com todos os guerreiros de Septerra para derrotar Gemma. Porém, Marduk e seu exército não conseguem de forma alguma encontrar a fortaleza escondida de Gemma.

A missão parecia impossível quando Dogo, um demônio, convence Gemma que Kyra deve ter pelo menos um item que a conforte: Um espelho. Ele consegue persuadir Gemma dizendo que Kyra deve ter o espelho para ficar mais bonita para o seu novo senhor. Então, Dogo dá o espelho a Kyra, que o usa refletindo sua luz para o céu criando as estrelas. Marduk, ao ver este sinal, consegue finalmente encontrar o lar escondido de Gemma e trava com ele uma batalha que dura nada mais nada menos que cem dias! Marduk venceu a batalha e enviou o corpo de Gemma para um lugar escondido, então seu sangue se transformou em rios e seus olhos na escuridão da morte.

Depois de derrotar Gemma, Marduk se casa com Kyra, funda uma cidade chamada Babylon (Babilônia…) e esconde as chaves gêmeas para que não caia em mãos erradas. Entretanto, Marduk diz que chegará o tempo em que Septerra estará em perigo. Então, as chaves poderão ser encontradas e darão o “Gift of the Creator” e o Caminho Para o Reino Dos Céus para que alguém o salve. E este tempo é o presente…

Você joga Septerra Core no comando de Maya, uma jovem que vive de juntar ferro-velho na camada 2. Maya teve seus pais mortos quando ainda era pequena pelos Chosen, que são uma espécie de nação muito bem desenvolvida que quer meter o focinho onde não é chamado em todos os sete continentes (ou seja, dominar tudo)…

O problema dos Chosen é realmente querer todo poder. Sendo assim, eles são um problema. Doskias, o líder, é descendente de Marduk, apesar disso ele não tem nada dele em si além do código genético. Doskias, que encontrou as chaves, precisa apressar o alinhamento dos continentes para usá-las mais rápido, pois se não o fizer ele não viverá o suficiente para usufruir de seus poderes… E para isto passará por cima de tudo e de todos.

Com os comentários acima, acho que deu pra sentir que o enredo foi muito bem desenvolvido né? Este é o ponto mais forte de Septerra Core (pelo enredo ser uma das peças mais importantes em um RPG), que tem um enredo muito bem elaborado, sendo que tudo se passa em um mundo bastante original com várias divergências entre os continentes, o que acaba sendo legal pacas e acaba dando num enredo até certo ponto complexo.

Os personagens marcam uma bela presença, tendo suas personalidades muito bem destacadas. Para começar, temos um personagem principal do sexo feminino, algo raro. E ainda por cima, ela não é uma adolescente (novamente algo raro!)… Maya não faz o estilo boazinha de ser, assim como outros personagens. Nada de “não o mate, isto é errado”… Isso é bastante inovador. Cada um tem a sua especialidade e normalmente você precisará do personagem certo para resolver alguns quebra-cabeças. Você poderá ter até três personagens ao mesmo tempo em Septerra Core, que ficam em fila nos cenários. Inclusive, belos cenários!

Graficamente, Septerra Core não é um jogo exuberante. Com gráficos pré-renderizados, ele consegue ser muito bonito em alguns pontos e artificial demais em outros. Eu curti muito os cemitérios, cidades e cavernas, mas odiei os gráficos simulando areia e neve. As luzes dos cenários em relação aos personagens também foram bem-feitas. Quando você conversa, sempre aparece o rosto do personagem. Falando dos personagens, quando o cenário é claro (como no já comentado cenário que tem neve), os personagens parecem se destacar do cenário. Eles têm uma fina borda preta em sua volta, o que para mim é muito estranho. Os personagens não são construídos por polígonos (assim como o cenário) e são meio “embonecados”. Ficou interessante e dá um toque diferente a eles.

Outro ponto forte a ser comentado nos gráficos são os efeitos das magias que você pode soltar nas batalhas. Elas mais parecem pequenas CGs detonando os inimigos! E falando em inimigos, estes são extremamente repetitivos. Você irá enjoar de ver a cara dos inimigos do game… São muito poucos mesmo, o que é um ponto negativo para os gráficos. O game também conta com uma boa quantidade de CGs que ilustram o game. Elas têm uma qualidade legal (nada fora do normal) e são normalmente rodadas com o auxílio das vozes, que dão um “tcham” a mais.

A jogabilidade é na base do mouse básico, o “Point and Click” é muito legal aqui. O sistema é o mesmo usado em Diablo, por exemplo… Você apenas clica no local do cenário que quer que seu personagem vá. O acesso ao menu também é muito rápido, já que ele pode ser acionado apertando apenas a tecla espaço ou com o mouse, já que fica o tempo inteiro disponível no rodapé da tela. O jogo exige bastante movimentação e atenção no ponteiro do mouse para enxergar itens importantes ou não, aumentando a dificuldade.

Uma coisa legal é que quando se abre alguma porta através de uma alavanca ou algo parecido, o jogo lhe mostra onde você mexeu no cenário. Se você abriu uma porta, o jogo mostra qual porta você abriu (como em Tomb Raider). Isto para mim é um ponto positivo no sistema de jogo, que facilita. Mas, apesar do jogo fazer isto, ele tem um problema: durante a jogatina, principalmente nas “dungeons”, você se verá freqüentemente indo a locais que não têm absolutamente nada! Os desenvolvedores fizeram uma puta sacanagem com os jogadores entupindo o game de caminhos que não têm nada além de inimigos! É possível você entrar numa dungeon e ficar pegando caminhos inúteis… Argh! Isto sem contar a falta dos famosos baús. Você encontrará muito, muito poucos baús por aí… Argh²!

Okay, okay… Uma coisa legalzinha é que você pode roubar o pessoal que vende alguma coisa…! Se você tiver um ladrão no grupo (como Runner), você poderá simplesmente roubar uma loja de armas ou de itens… Mas cuidado! Se for pego, simplesmente os preços aumentarão…!

Nas batalhas é onde você mais sentirá que o game parece um RPG para console! Os personagens, assim como em Chrono Cross/Trigger ficam no cenário. Ou seja: Você não precisa lutar se não quiser. É claro que haverá uma vez ou outra (ou várias) em que você não poderá fugir das batalhas (cemitério, por exemplo… Os caras saem do chão). Para enfrentar alguém neste RPG você precisa entrar no seu campo de visão… Então, é só passar um pouco longe do inimigo!

O sistema para ataques simples é diferente também e funciona em níveis. Cada personagem tem uma barra de espera para atacar (como em Final Fantasy, por exemplo)… A novidade é que esta barra enche em três níveis (como em games de luta… hehe), e em cada nível você poderá escolher entre mais ataques, que são mais poderosos. Isto dá uma ênfase à estratégia do game, sendo que cada personagem tem ataques diferentes, que eu chamo de “Técnicas”. Por exemplo: Grubb tem uma técnica acionada a partir do nível 2 da barra de espera que serve para concertar algo de metal (ou seja: curar aliados robóticos), enquanto Corgan, por exemplo, tem uma técnica que funciona como uma “Sense” de Final Fantasy VII, que é para ver o HP do inimigo, velocidade, etc…

Os personagens têm formas diferentes para o aumento destas técnicas, alguns aprendem conforme foi pré-definido pelos desenvolvedores do game, ou seja, via experiência (Corgan, por exemplo), mas outros devem simplesmente comprar acessórios nas lojinhas. Você pode, por exemplo, acoplar um lança granadas à arma de Maya sem problemas!

As batalhas utilizam um sistema interessante para magias. A barra de Core (apenas um nome diferente para Magic Points!) será mais usada para se fazer magias e técnicas extras. As magias em Septerra Core funcionam na base de cartões que se pega durante o game, como as materias, em Final Fantasy VII (mais ou menos, só que aqui os cartões têm apenas uma função. Você também poderá combinar cartões para obter efeitos variados (combos! Hahah!)… Combinar magias e técnicas já virou algo quase obrigatório desde Chrono Trigger, né não? Ponto positivo, apesar das invocações serem meio sem graça (acho que me acostumei com os 60 segundos da Knights of the Round!)

Uma outra novidade é que esta barra de Core é compartilhada por todos os integrantes do seu grupo! Se você usa uma magia em Septerra Core, você não gasta a energia mágica de um só integrante da equipe, e sim, da barra geral que é compartilhada por todos. O nível desta energia é organizado da seguinte forma: Cada personagem tem em seu status o atributo “Core”. Quanto maior este atributo, mais ele pode dar para a barra total da equipe na batalha. Então, se você tira um cara que tem “Core: 12” por um que tem “Core: 5”, a barra geral irá ficar com menor capacidade. Simples, não?

O grande problema do quebra-pau em Septerra Core, sem dúvida alguma, é a demora das batalhas. O sistema de níveis ficou legal e tal, só que ele demora para encher. O segundo problema é que os inimigos, quando atacam, além de serem lentos, o controle demora um pouco para voltar às suas mãos (o ponteiro do mouse fica com aquele treco de “loading”… e não, não é o meu PC!). Além destes dois pontos que acabei de denunciar, tem mais um: os SEUS personagens também são lentos! Logo, o sistema de batalha pode se tornar um saco. Mas aí depende de cada um, eu não tenho paciência e já estava com os nervos à flor da pele na quinta hora de jogo!

A dificuldade de Septerra Core também é algo notável. O jogo conseguirá deixar você sem saber o que fazer várias vezes, pois ele exige muita atenção. Nesta falta de atenção eu quase fiquei preso ao ir para a segunda ou terceira dungeon do jogo. A dificuldade para se descobrir o que fazer fica basicamente na atenção, algo que muito jogador não tem. Ou seja, aquele toque que só aquele homem daquela vila deu será a saída. Ou aquela lidinha rápida naquele livro…

A trilha sonora do game é nula… Pelo menos praticamente! A Valkyrie Studios optou por não colocar muita música no game não. A maioria das vezes você ouvirá músicas apenas nas batalhas (ruins por sinal). Só que os efeitos sonoros do game detonam e com certeza compensam a falta das músicas e dão um ar totalmente “rules” para o som do game. Você ouvirá muito o barulho do vento, pássaros cantando, chuva…

E ainda se não fosse o bastante os efeitos sonoros tanto dos cenários como das batalhas serem muito bem-feitos, o game tem algo que chama a atenção: TODOS os diálogos são decentemente dublados! Isto acresce e muito o fator diversão, pelo menos pra mim. Afinal, tem jeito melhor de sacar a personalidade de um personagem? Com as palavras certas e uma voz descente, os personagens crescem muito e chamam a atenção do jogador mais facilmente. A voz de Grubb é uma das mais legais e engraçadas, enquanto a de Maya é muito fria, fazendo jus à sua personalidade.


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