Análises

Shui Hu Feng Yun Zhuan

Alguns consoles, mesmo após anos depois de “aposentarem os joysticks“, continuam recebendo títulos novos, seja eles oficiais (a produtora leva anos para terminar) ou “não oficiais“, no caso dos diversos piratas ou jogos produzidos por fãs do videogame. Alguns têm qualidade duvidosa, é verdade, mas outros chegam a ser melhores do que jogos oficiais. E é um desses games “alternativos” de excelente qualidade que vamos conferir na análise de hoje.

O Mega Drive é um console de sorte, pois até hoje recebe games alternativos surpreendentes, como os RPGs “Beggar Prince“, “Star Soldier” e “Pier Solar“, todos existentes apenas em versões cartuchos (sim, você pode comprar o cart e jogar no seu bom e velho Megão!). Mas o game que temos aqui hoje é um fabuloso beat’m up no nível de um “Streets of Rage 2” ou um “Final Fight 3“, misturado com um “Golden Axe” e um “Knights of the Round“. Dessa salada toda saiu um game chinês inédito para os amantes do Mega Drive, chamado de “Shui Hu Feng Yun Zhuan“, produzido pela Never Ending Soft Team, e que não possui versão em inglês, mas que numa tradução livre significa “Water Margin Wind & Cloud Chronicles” ou ainda “Beneath The Clouds“, pelo que andei pesquisando por aí.

uma mistura de Streets of Rage, Golden Axe e Knights of the Round

Pancadaria na China Feudal

O nome é complicado, mas o game é bem simples. Ele foi lançado em 1999 (mesmo ano de lançamento do Dreamcast, só para terem uma ideia) em formato cartucho e mais recentemente lançaram uma versão ROM online, sendo ela bem fácil de se achar por aí. Apesar de “inédito“, ele é uma salada de todos os games famosos acima citados, mas os chinas tiveram a competência de modificar os cenários e personagens e ambientaliza-lo na China feudal. Então, é como se ele fosse um game novo, só que os mais atentos irão perceber suas origens.

Obviamente o jogo está todo em chinês, e por isso não sei bulhufas do que está acontecendo, mas ao que parece, está rolando uma guerra civil daquelas bem sangrentas. Entre uma fase e outra há cutscenes explicando a história, mas tudo que eu sei é que o jogador pode escolher entre três guerreiros da China feudal: o típico bonitão equilibrado; a gostosona ágil, porém fraca e o brutamontes fortão, lento e burro. Os dois primeiros usam espadas e são uma boa escolha para retalhar os inimigos, já o terceiro usa um machado de curto alcance, o que torna bem difícil jogar com ele (eu simplesmente não consegui, só levei pau!).

escolha entre os três guerreiros

Nas opções é possível mudar para três níveis de dificuldade (para se conseguir o melhor final e todas as fases tem que jogar no normal/hard – tem que mudar nas opções, pois ele já inicia no easy), e também alterar o número de vidas e continues. São no total sete fases, e como um bom game oldschool, sua dificuldade é bastante elevada! Claro, jogando num emulador com save states a coisa fica mais fácil, mas tente jogá-lo uma vez na “raça” e você vai ver que o bicho é pedreira pura já no nível normal mesmo.

Os gráficos estão incríveis, de fazer inveja a muitos jogos originais lançados no Mega ou SNES, seguindo o estilo dos jogos de pancadaria da Capcom nos anos 90. Os cenários são detalhados, há bom uso do parallax, o design dos personagens estão impecáveis, tanto dos protagonistas como dos inimigos (que estão bem grandes na tela), bom uso da palheta de cores e há uma boa gama de animações.

inimigos variados e muita ação

A jogabilidade funciona bem, apesar dos pulos serem meio travadinhos. Um pequeno problema que notei é que, se você estiver atacando um inimigo e surgir outro por trás, não dá pra virar rapidamente como num “Streets of Rage” e meter porrada nos dois simultaneamente. Você tem que parar o ataque e virar rapidamente para o outro lado, e então meter porrada. Isso leva apenas alguns segundos, mas já é o suficiente pra levar uns sopapos e até perder uma vida. Os comandos são simples: um botão para magias à la “Golden Axe”, outro botão para ataques e por fim um para pular. Apertando ataque o personagem realiza alguns combos (com animações bem bacanudas).

Apertando ataque e pulo juntos ele dá um golpe mais forte que joga o inimigo longe (e que vai te salvar muitas vezes quando estiver cercado – pode usar a vontade, ele não gasta energia). É possível ainda realizar um ataque aéreo e ainda correr e atacar. Senti falta de um comando de defesa, que poderia facilitar mais as coisas na hora do aperto. Há quatro tipos de magias que podem ser colecionadas durante a jornada, e atingem todos os inimigos que estão na tela, assim como em “Golden Axe”. E acredite, você vai precisar delas, pois quanto mais se avança, mais inimigos aparecem por tela, e se livrar de todos eles não é moleza. Os efeitos para as magias estão bem legais e impressionam na tela, usando elementos do fogo, trovão, gelo e um dragão de fogo. É possível coletar até cinco magias diferentes (ou todas iguais, se assim desejar).

as magias também estão caprichadas

Os cenários são longos e tem como contexto a China medieval, então há muitos campos, florestas, montanhas, pontes e cachoeiras (alguns até possuem sistema de mudança de clima, passando de dia para o entardecer e anoitecer). O estágio mais diferentão é o que se passa dentro de um navio. Os chefões em si não são difíceis, basta bater neles sem nenhuma estratégia, o problema é que geralmente os bundões vêm acompanhados de quatro ou cinco capangas, e com aquela negada te dando porrada por todos os lados, fica difícil se concentrar no boss, especialmente nas últimas fases, que tem DOIS chefões, mais os capangas. E o melhor de tudo, todo esse pessoal na tela e NENHUM slowdown, com um framerate rolando suave durante a pancadaria. Inclusive no modo para dois jogadores.

Sim, como manda a cartilha de um bom beat’m up, é possível dividir a emoção de arrebentar todo mundo na tela com um colega, o que aumenta ainda mais a diversão (coisa por exemplo, que não é possível no ‘Final Fight‘ de SNES). Há uma boa variedade de inimigos, são caras usando espadas, machados, arcos e flechas, lanças, maças, vadias pentelhas usando chicotes e shirikens, além de uns elementos mais parrudos e mais fortes, e por fim os chefões. Toda fase tem um sujeito novo, o que deixa o jogo bem agradável e não se torna aquela coisa repetitiva (alguns são bem malas, como o nanico da espada e as vadias dos shurikens). A medida em que vai se avançando, os inimigos ficam mais numerosos, mais fortes e com mais vidas. E não, seu personagem não evolui em nada, tem que se virar com as magias mesmo.

Há itens que dão pontos e recuperam a energia, que podem ainda ser divididos e compartilhados com o companheiro de jogatina, como em “Knights of the Round”, o que será essencial em fases mais avançadas. Alguns dos efeitos sonoros foram tirados de “Streets of Rage”, mas no geral eles combinam bem com a ação. Tem som de porrada, dos inimigos morrendo, de itens e magias, mas faltou um pouco mais de variedade nessa categoria.

A trilha sonora não é nenhum primor, mas as melodias são agitadas e casam bem com a ação frenética, mas estão longe de ter a qualidade do mestre Yuzo Koshiro em “Streets of Rage”. Não sei se as músicas foram ripadas de algum outro game, eu pelo menos não me lembro de te-las escutado antes. Por fim, o game possui até um final bacaninha, em que mostra o que aconteceu com os três personagens depois de sua aventura. E se você quiser conhecer outro game inédito para o Mega Drive, também lançado anos depois, leia aqui nossa análise do belíssimo RPG “Brave Battle Saga“.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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