Análises

Space Channel 5

Ulala´s Swingin Report Show!”

É inegável dizer que na época em que a Sega desenvolvia games para plataformas que eram da própria, a “dona do mascote azul” era praticamente imbatível. Não importa de qual console falemos, seja Master System, Genesis, Saturn ou Dreamcast, a Sega sempre tirava um “Ás” da manga e nos presenteava com games fabulosos, e não raramente inovadores.

Venho aqui agora relembrá-los de um game que une todas as características acima. Um jogo da Sega, desenvolvido para um Hardware criado pela mesma, e que, por certo, é não somente muito bom, como também o é inovador. Um game que, infelizmente “passa batido” para a maioria dos jogadores, ou então, é pré-julgado de maneira preconceituosa.

Vamos tratar hoje de Space Channel 5 para Dreamcast.


Sempre gostei muito de games que nos dão sensações diferentes das usuais. Sempre gostei também do conceito por trás de games musicais, apesar de nunca achar que nenhum deles, até Rez e Space Channel 5, tenham alcançado um nível acima da trivialidade, e por isso mesmo, nunca terem conseguido dar verdadeiramente uma sensação diferenciada durante a jogatina. Um jogo que conseguisse me transmitir uma nova experiência musical sempre era um sonho meu, que se concretizou com Space Channel 5.

A justificativa, ou seja, o enredo, a história, o porquê do jogo é simplório e, para muitos, estúpido. Em uma época em que viagens espaciais são corriqueiras, alienígenas dançantes invadem a Terra e hipnotizam os seres humanos para escravizá-los a dançar. O jogador, no controle de Ulala (fofíssima!) tem de, dançando, reverter a hipnose nos seres humanos e expulsar os alienígenas. Ulala é uma repórter do canal 5, e portanto, tudo o que acontece com Ulala ao longo de sua missão é transmitido ao vivo. Eis a história do game.

Pode parecer simples, mas a execução de cada um dos fatores acima descritos é de uma simpatia tão grande que o jogador é sugado para esse “tempo alternativo” imediatamente. Alias, ao longo da análise, será bem notório que tudo no game é bem simples, mas muito bem executado. Continuemos.


No início do game já temos quase todas as informações na tela que precisaremos ter ao longo de todo o game, e não são muitas. No lado direito da tela temos a audiência, afinal, tudo está sendo televisionado. Cada fase tem uma porcentagem mínima de audiência, que deve ser alcançada até o fim dessa fase, para que possa ser possível seguir ao longo do game. Ao se encontrar com um alienígena, no lado esquerdo superior da tela, temos corações, que indicam o número de erro nos passos da dança que poderemos ter naquele momento. Cada sequência errada remove um coração, caso perca todos os corações é game over. É só, isso é tudo que precisará a nível de informações visuais para prosseguir no game.

O grande trunfo de Space Channel 5 se dá na harmonia de seu visual com o som e músicas do game. Vou tentar colocar, não somente dados técnicos, mas também sensações em palavras a partir de agora.

O visual do game é bem colorido e extravagante, desde os ambientes, personagens principais e secundários, aos alienígenas, que possuem cores diversas e, em sua maioria bem chamativas. Ulala é um espetáculo a parte, com chiquinhas nos cabelos cor de rosa, roupa toda amarela com uma sensação espacial, um microfone na mão e com uma sainha matadora, Ulala vai caminhando e falando com o público, olhando para a câmera mesmo. Sua forma de andar é seguindo um ritmo, como se estivesse seguindo alguma música, algo que vai se intensificando ao longo do game.

Não temos o controle de movimentação de Ulala, nossa interação com o game se dá tão somente nos momentos de dança.

Ao encontrar alienígenas, normalmente com algum grupo de humanos, se inicia um desafio entre alienígenas e Ulala. Os seres espaciais ditam, e dançam, uma sequência que deve ser realizada por Ulala. A sequência deve respeitar o que fazer, e fazer no tempo correto, caso contrário, ou não se consegue libertar os humanos, ou se extinguem os corações, e daí é game over!

Os desafios, e isso vai ao longo de todo game, são de uma simplicidade conceitual tão grande que chega a dar o de pensar: Como foi que isso foi lançado?
Não se pergunte isso, e vá se deixando levar…


Let´s Dance! Up! Up! Up!”

Essa frase acima resume praticamente 25% de todas as operações realizadas com o controle ao longo do jogo. Os desafios dos coloridos alienígenas se resumem a lhe dar as seguintes diretrizes: Up; Down; Left; Right; Shoot. As sequências de dança são baseadas nesses comandos. Cada sequência possui uma quantidade dessas diretrizes, cada qual no ritmo correto, e cabe ao jogador, após o alienígena terminar sua sequência, replicá-la.

Simples não?

Exato, e essa é a beleza!

A união entre o visual cartunesco, todo colorido e único, a música bem marcante, e o ritmo em que os alienígenas listam os movimentos que terá de fazer posteriormente é algo fantástico. Isso sem contar com as animações durante as danças, indo do cafona, mas um intencional cafona, à animações simplesmente engraçadas. Todo esse conjunto cria uma experiência única e viciante, por mais que o início do game seja difícil, dada a adaptação a uma jogabilidade diferente, e não necessariamente fácil.

Além dos desafios de dança, existem momentos em que temos de atirar nos alienígenas, no entanto, tudo isso seguindo o ritmo ditado por eles. Nessas cenas, quando é o momento de se pressionar o botão referente ao “Shoot”, Ulala atira no alienígena. Essa mudança não altera em nada a jogabilidade base do game, mas visualmente dá uma renovada, pois não deixa que, visualmente, o game caia no monotonismo.


Sempre que libertamos os humanos, eles seguem Ulala no mesmo ritmo de caminhada e também durante os passos de dança, o que deixa o game mais animado visualmente a cada nova “vitória dançante” sobre os seres do espaços coloridos.

É estranho dizer isso, mas apesar do visual espacial do game, esse senso de dança, e de entrega ao ritmo de Ulala e do game como um todo, nos faz recordar a época dos anos 70 e da discoteca. Isso dá um contraste interessante ao game, o que por certo dá a Space Channel 5 mais um motivo para simpatia para com o game.

A voz dos alienígenas é engraçadinha e casa bem com o visual dos mesmos, dá vontade de apertar aqueles pestinhas!

As músicas são muito boas, muito inspiradas. As batidas são bem variadas, e dão o clima perfeito para cada momento do game, que por mais superficial que seja a nível de enredo, o tem, assim sendo, a música tem importante função para retratar cada momento do jogo.

Imagino que a explicação acima tenha ficado pouco elucidativa, mas digo aqui o que o disse em uma antiga análise que fiz para o site do game Tetris Atack para SNES: A experiência aqui supera a técnica, as sensações aqui são maiores do que o que a lógica pode lhe dizer. Veja bem, um game com excesso de cor, excêntrico, em que tudo o que fazemos é seguir o ritmo que lhe é ditado explicitamente, direcionando um digital do joystick apenas para cima, e para baixo e para os lados… Não pode ser bom, é muito besta. Mas a prática nos mostra um game fantástico e viciante.


No caso de alguém não conhecer o game, o que é bem possível, segue um link com a primeira parte da primeira fase do game. De repente, após ver o vídeo, minha tentativa de explicação sobre o funcionamento do game fique mais claro.

Bom, mas nem somente de flores vive Space Chennel 5, ele possui três defeitinhos, cujo dois deles poderiam ser melhor trabalhados, e um deles é consequência do trabalho da Sega no game.

1º problema: O game é bem curto. É possível finalizá-lo de uma vez só em uma tarde não completa de jogatina.

2º problema: Os cenários do game não são processados em tempo real, são sim vídeos pré-renderizados, o que ajuda na beleza do visual do game, no entanto, é possível notar no game um certo atraso, sejam nos gráficos em tempo real, sejam nos pré-renderizados, para a mudança de câmera. Não raras vezes ou um, ou outro se adéqua primeiro ao próximo take de câmera, dando por um segundo, uma sensação de bug. Não é nada que estrague a experiência do game, não é algo que salta a vista dos mais exigentes.

3º problema: Você vai se viciar por Space Channel 5 e isso tomará conta de você. Hoje mesmo no serviço, estava eu cantarolando “Up! Up! Shoot! Left! Left! Shoot! Shoot!” sem ao menos perceber, mas aqueles que estavam ao meu lado por certo perceberam. Os olhares denunciaram. O ritmo é viciante, assim como Ulala.

Como podem ter percebido, fui bem mais light nessa análise. Sou fã desse game e não nego. Acredito que mais importante do que destrinchar tecnicamente esse game, é ser necessário compreender o que mais importa em Space Channel 5: A diversão descompromissada (mesmo que o game saiba ser difícil quando o pretende) e a sensação de uma nova experiência no mundo dos games.


Space Channel 5 foi, por certo, o primeiro game que se propôs verdadeiramente a proporcionar algo diferente e imersivo em um game musical, algo que foi ampliando por Rez, e que nunca mais chegou ao ponto em que esses dois games chegaram. Permita-se sentir Space Channel 5, garanto que nunca mais ele deixará você.

Uma curiosidade antes de me despedir: Na última fase do game um dos humanos hipnotizados é ninguém menos do que o Rei do Pop, que em Space Channel 5 é chamado de Space Michael. É uma participação pequena, mas com certeza marcante para os fãs do Sr. Jackson. Sem contar que ele tem tudo haver com o clima do game.

Espero que me perdoem pela escrita um pouco menos rebuscada e mais abstrata da análise, voltarei a partir da próxima análise à programção normal.


Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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