Spec Ops: The Line

por Márcio Alexsandro Pacheco

Confesso que jogos de tiro estilo “Call of Duty” e “Battlefield” já acabaram com a minha paciência. É sempre a mesma coisa e seguem a mesma fórmula básica de jogos desse gênero, isso claro, em minha humilde opinião, já que ambas as franquias continuam vendendo milhões a cada novo jogo, o que significa que a “piazada” ainda deve curtir.

Já jogos de tiro em terceira pessoa eu acho mais interessantes, e eis que resolvi dar uma chance ao “Spec Ops: The Line“, desenvolvido pela Yager Development e distribuído por ninguém menos que a 2K Games, e que está disponível para PS3, X360 e PC. Ele já é o nono game da série “Spec Ops”, mas felizmente não possui nenhuma relação com os games antigos e é completamente independente. “The Line” me surpreendeu e revelou ser um game de alta qualidade e com ação intensa que eu recomendo para todos que gostem do estilo. Leia a análise abaixo e descubra o porquê.

Caos nas Tempestades de Areia em Dubai

Jogos de tiroteio geralmente não possuem uma história muito elaborada ou criativa, seguindo o esquema “soldadosnorte-americanos fodões contra terroristas malvados”, e ao começar a jogar “Spec Ops: The Line”, parecia ser mais do mesmo. Mas não é. Ao avançar no jogo, e acompanhar a intrigante narrativa, percebe-se que a Yager preocupou-se em oferecer aos seus jogadores um roteiro cinematográfico interessante e misterioso, cheio de conflitos morais, que vai se revelando enquanto se joga. Além disso, os três personagens são bem carismáticos, cada qual com sua própria história dentro da trama central.

O jogo é ambientado na cidade paradisíaca e futurista de Dubai, nos Emirados Árabes, em um tempo futuro (mas não muito). O contexto é pós-apocalíptico, Dubai foi engolida por uma grande tempestade de areia, o que a deixou completamente destruída. Seis meses antes disso acontecer, a cidade era uma área rica e saudável, habitada apenas por cidadãos de classe alta (há quem diga que é melhor ser prisioneiro lá, do que pobre no Brasil). Com a devastação de areia, muitos morreram, outros fugiram, e alguns permaneceram no local, o que foi o caso do coronel do exército americano John Konrad, membro fundador da Delta Force, que se recusou a abandonar um complexo de treinos na cidade, com o objetivo de ajudar, junto com os seus homens, os sobreviventes da cidade.

Após várias semanas sem nenhum contato, acreditava-se que Konrad e seus homens estavam mortos, até que um sinal muito fraco foi detectado, indicando que o coronel poderia ainda estar vivo. Assim, o capitão Martin Walker é enviado para Dubai, acompanhado de mais dois companheiros do Delta Force (Alphonse Adams e John Lugo) , com a missão de infiltrar-se na cidade, neutralizar os bandidos, sobreviver às tempestades de areia e descobrir o que aconteceu com Konrad e seus homens.

Assim é o começo do jogo, e o que parece ser mais uma história básica de games de tiro, revela-se uma agradável surpresa ao avançar pelas fases. Contar mais da história seria uma maldade da minha parte, por isso joguem e descubram o que acontece.

Cenários catastróficos deslumbrantes

O que vai chamar a sua atenção logo de cara são os belos gráficos que o jogo apresenta, com uma belíssima cidade de Dubai soterrada e as suas ruínas. Grande parte do jogo se passa no deserto escaldante, então por isso há um grande uso de iluminação e sombras, e cores predominantes desérticas. Toda essa iluminação clara e poeira/areia voando servem também para “disfarçar” serrilhamentos nos cenários e outros defeitos, o jogo está longe de ser perfeito, tem alguns bugs aqui e ali, principalmente na interação dos personagens com o cenário, mas de uma forma geral se apresenta notavelmente na tela.

Há várias CGS de boa qualidade, inseridas em momentos chaves, que além de dar uma pausa para respirar depois de um tiroteio, serve também para deixar o jogador ligado na trama (e sem aqueles flashbacks temporais irritantes, comuns nos games atuais). Destaque para as animações dos personagens, em especial os seus dois companheiros, que se movimentam de forma bem realística e fluída. Os inimigos possuem bom design e também contam com uma boa gama de animações, especialmente quando alvejados ou mortos. Já o seu personagem, Walker, é meio “duro” na hora de se movimentar, mas nada que incomode muito.

E falando em movimentação, a jogabilidade é excelente. Geralmente jogos assim têm comandos complicados, mas em “The Line” os controles são simples e intuitivos, e após alguns minutos de jogo você já estará craque em toda a movimentação (claro, não chega a ser um mouse e teclado, mas para os padrões de videogames está bom). O game oferece uma boa quantidade de armas, mas seu personagem pode carregar apenas duas, independente do tamanho ou tipo. Há também três tipos de granadas e você pode ainda dar ordens para os seus companheiros, como acertar um determinado inimigo ou alvejar uma certa área.

Os combates aqui são intensos, com uma grande quantidade de inimigos (as vezes nem sempre os bandidos, e sim pessoas que você veio ajudar) e se não se cuidar, não será raras as vezes que você se encontre sem munição. A presença da areia também influi nos combates, as tempestades dificultam a movimentação e a visibilidade, além disso crateras se abrem engolindo soldados e os terrenos que podem mudar de aparência rapidamente.

Ao acertar a cabeça de um inimigo, há uma desaceleração do tempo de alguns segundos, que permite que você possa mirar na próxima vítima e mandar chumbo grosso, em um efeito bem bacana, apesar de nada inovador. Há também certas partes dos cenários que podem ser destruídos a ser favor, jogando muros, carros e muita areia em cima dos inimigos. E prepara-se para se movimentar bastante, pois os oponentes possuem uma IA bem elevada, atirando por todos os lados e se protegendo quando devem. Por sorte, seus dois companheiros também possuem uma boa IA e vão salvar a tua pele em vários momentos. O jogo apresenta uma boa dose de violência, com cabeças explodindo e sangue voado por toda parte, o que vai agradar aos “carniceiros” de plantão.

Outro fator de destaque é a trilha sonora pra lá de competente e de ótimo bom gosto, em sua maioria composta do bom e velho rock ‘n roll, inclusive com algumas músicas famosas licenciadas, como Hush de Deep Purple (que toca em uma estação de rádio quando os personagens estão andando e dá o clima perfeito para a ação – confira no vídeo abaixo). Em outros momentos há apenas o som ambiente, o que aumenta mais a tensão. As dublagens complementam o pacote sonoro, com boas interpretações dos atores para seus personagens, com destaque para a voz do personagem principal Walker, que é feita por Nolan “Nathan Drake” North.

Um dos problemas do jogo é que ele não inova no estilo, e segue a fórmula já tão desgastada pelos shooters genéricos de “atirar, cutscene, andar, atirar, cutscene…”, perdendo um pouco do seu brilho. O uso de coberturas também não traz nada e novo, e a ação por vezes segue um padrão linear pré-determinado, deixando a desejar no fator exploração, que podia ter sido melhor aproveitado.

São aproximadamente umas 10 horas de jogo, ele não é muito difícil, especialmente por causa do fator de recuperação de vida automático ao se esconder (acho que uma barra de energia seria mais interessante e desafiador). Um modo cooperativo faz bastante falta, mas felizmente a 2K já lançou um DLC gratuito que adiciona o modo para você jogar juntamente com um colega, aumentando ainda mais a diversão. Há também modo multiplayer competitivo, com seis tipos de modo, mas que não oferece nada de particularmente interessante.

Pra finalizar, o jogo é uma adaptação moderna do livro “Heart of Darkness“, um romance de Joseph Conrad, a mesma que serviu de inspiração para o clássico filme “Apocalypse Now” de Francis Ford Coppola, e que não por acaso, tem algumas semelhanças com “Spec Ops: The Line”. Ah sim, ele possui três finais diferentes, dependendo das suas escolhas durante o jogo.

Conclusão: “Spec Ops: The Line” acabou sendo uma surpresa agradável, que apesar de não inovar no estilo shooter, oferece uma boa narrativa, visual exuberante e uma trilha sonora fantástica, para se ouvir no último volume. Um jogo com ação intensa obrigatório para os amantes do gênero (também recomendo para quem não o seja, dê uma espiada, você pode acabar gostando).

+ Visuais e design artístico de primeira qualidade

+ História instigante e personagens carismáticos

+ Excelente trilha sonora rock ‘n roll e dublagens

 Não inova no gênero

 Repetição dos combates

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo

Adblock detectado

Por favor, desabilite o Adblock para continuar acessando o site!