Tomb Raider

por Márcio Alexsandro Pacheco

A aventureira Lara Croft é certamente uma das personagens femininas mais icônicas da história dos videogames, com inúmeros games lançados e personificada na tela do cinema pelas belas curvas de Angelina Jolie (isso sem contar outras mídias). Foi nos anos 90 que teve seu grande auge, e assim como toda longa franquia, acabou trilhando por maus caminhos e teve a fama ofuscada por outro aventureiro, um certo Nathan Drake da série “Uncharted“, que ironicamente, reinventava com enorme sucesso o estilo de “Tomb Raider” para a nova geração, coisa que a própria Lara Croft não conseguiu fazer em seus games.

Depois de três fabulosos games estrelados pelo seu “rival”, a Crystal Dynamics em parceria com a Eidos Montreal, resolveram recomeçar do zero e assim nasceu o projeto do reboot de “Tomb Raider“. Esqueça tudo o que você viu antes, o game não mostra uma sequência para a série e a personagem está completamente diferente do que estamos acostumados a vê-la. Apesar de ainda manter algumas de seus características, como a coragem e determinação, o que vamos encontrar é uma jovem Lara insegura e inexperiente, que se esborracha, se molha, vive machucada, queimada, leva porrada e até perna presa em armadilha de lobo ela aguenta. Mas sempre continua em frente, não importa a que custo, e se forçando a fazer coisas que nunca imaginou.

E será que essa reinicialização das origens da cultuada heroína deu certo e a colocaram no caminho da fama novamente, sem perder sua identidade? A resposta é:  com toda certeza! Era exatamente do que a musa virtual estava precisando. Confira nossa análise e saiba o porquê.

A misteriosa ilha Yamatai

A jovem e ambiciosa arqueóloga acabou de se formar e partiu numa expedição em busca do antigo e lendário império japonês Yamatai, que era governado pela obscura rainha xamanista Himiko – também conhecida como a Rainha do Sol. A expedição é liderada pelo Dr. James Whitman, que aposta na missão para manter seu nome famoso na mídia. Também fazem parte da equipe Conrad Roth, militar que é amigo íntimo da família Croft e é como um mentor de Lara ; Samantha “Sam” Nishimura, melhor amiga de Lara e representante da família Nishimura (que está bancando a expedição por serem descendentes do povo de Yamatai) e que está documentando a viagem; Joslyn Reyes, uma cética e temperamental mecânica mãe solteira; Jonah Maiava, um pescador que acredita na existência do paranormal e esotérico; Angus “Grim” Grimaldi, o capitão do navio Endurance e Alex, um especialista em eletrônica.

Tudo ia bem até que uma furiosa tempestade atinge a embarcação Endurance, partindo o navio ao meio e arremessando a tripulação à própria sorte nas águas violentas na zona do Triângulo do Dragão, próximo da costa do Japão. Lara acaba numa misteriosa ilha de Lost, mas que está longe de estar deserta. O lugar está cheio de construções da Segunda Guerra Mundial, com destroços de navios e aeronaves e um violento culto de fanáticos. Agora cabe à Lara sobreviver neste ambiente hostil, sem armas e mantimentos, procurar por sobreviventes e explorar a ilha em busca de vestígios que comprovem a existência dos Yamatai. Sentiu o drama né?

A jornada para se tornar uma heroína

Geralmente os games possuem uma progressão linear, começando mais amena e terminando de forma explosiva, mas assim como nas aventuras de Nathan Drake “Tomb Raider” já inicia de forma arrebatadora e cheia de adrenalina, com Lara presa dentro de uma caverna, tendo que escapar entre explosões e caos total. E já nos primeiros minutos de jogo podemos perceber que esse é um game que vai ficar na história. Mesmo chegando no final da atual geração, “Tomb Raider” consegue nos impressionar em momentos deslumbrantes. Sua narrativa é excelente e consegue prender a atenção do jogador do começo ao fim. As cutscenes contam com uma qualidade cinematográfica, e as câmeras merecem um destaque especial, sempre mostrando os melhores ângulos e nos colocando dentro da aventura impecavelmente.

A imersão é tão grande que quase podemos sentir o mesmo frio que Lara sente quando está tremendo, a sensação de claustrofobia em lugares apertados ou ainda as dores quando se machuca. Só uma pequena ressalva no desenvolvimento da história: no começo temos uma Lara bastante humana e sensível (até pede desculpas por matar um animal para se alimentar), e de uma hora para outra ela se transforma numa máquina de matar impiedosa. É até meio chocante ver essa transformação acontecer de maneira tão rápida, mas nada que vá estragar a diversão, é apenas uma observação.

A “nova” Lara Croft é a idealização da mulher moderna da nossa comunidade. Sai a gostosona peituda seminua e entra a jovem com um corpo mais realista (os peitos virtuais dela nunca estiveram tão bem!), roupas mais conservadoras, mas mantendo ainda assim sua beleza e sensualidade. Uma mulher madura e com personalidade, que vai se fortalecendo em situações extremas (algumas bem exageradas, mas que todos vão adorar jogar). Ela é carismática e vai ganhar sua atenção e confiança já nos primeiros minutos.

Ação sem limites

E como toda heroína moderna, Lara é capaz de fazer tudo e mais um pouco. Ela corre, salta, escala, atira com pistolas (e outras armas de fogo que fazem parte da história) e faz inveja ao Rambo com seu arco e flecha. Acostume-se com ele, pois será seu melhor amigo em boa parte da aventura, que oferece diversos obstáculos, tanto horizontais como verticais. Lara pode combater seus inimigos mandando chumbo grosso neles, mas também é possível avançar de maneira sorrateira e com ataques furtivos, ao melhor estilo “Metal Gear Solid“. Ambas as opções funcionam bem e vai do gosto do cliente, se bem que muitas vezes o jogador não tem opção a não ser ir no tiro mesmo. O seu arsenal de armas pode ser evoluído/customizado, cada qual com características variadas que variam desde ao nível de ruído ao dano causado na vítima. É possível também ganhar pontos de experiência que podem ser usados para comprar novas habilidades de sobrevivência e combate para Lara, deixando a jogatina sempre dinâmica e interessante com novas e diversas opções, além de ser uma maneira de mostrar a evolução da jovem como a grande heroína que está predestinada a ser.

Apesar de ter um desenvolvimento linear, as áreas são bem extensas e oferecem um bom fator de exploração em busca de itens, tesouros, diários e relíquias, que somam ainda mais para o contexto geral, com Lara mostrando que não é apenas um rostinho bonito e atlética, mas bastante inteligente ao fornecer explicações culturais sobre o que encontra. Então, se você faz o tipo explorador, ficará satisfeito nesse aspecto, senão basta ativar o Instinto de Sobrevivência, habilidade que revela no cenário pontos importantes ou objetos a serem interagidos, para dar sequência à história. Como se não bastasse tanta moleza, é possível também consultar um mapa bem detalhado e esquematizado que ajuda na exploração.

Os controles são precisos e fluídos, com comandos instintivos e de fácil acesso, seja nos combates ou na exploração, em que será preciso pular plataformas e enfrentar situações diversas e incomuns, como tacar fogo para abrir caminhos (tochas também serão suas grandes aliadas) e escalar montanhas com um machado.

Aventura cinematográfica

Um dos grandes destaques é o seu visual, incrivelmente belo e muito bem produzido, com efeitos de luz e sombras bem aplicados, que em muitos momentos vão impressionar o jogador pelo seu esmero e nível de detalhismo, especialmente em efeitos de chuva e tempestade. Os cenários são ricos de personalidade e design artístico, seja no meio das florestas ou dentro de cavernas escuras ou templos sagrados, vale a pena até parar de jogar por uns instantes apenas para observar os requintes e belezas da fauna e ambientes. Mas não apenas os cenários, mas como os personagens, inimigos, animais objetos de interação, estão todos muito bem construídos, e claro, destaque especial para Lara Croft, que ganhou vida através da voz (ótima atuação) e movimentos corporais brilhantes da bela atriz inglesa Camilla Luddington.

A mocinha se movimenta de forma graciosa, mas também bruta quando necessário, com animações perfeitas, até mesmo do seu rosto, em que podemos perceber quando ela está tensa, com medo ou com raiva. Suas reações são os mais realistas e humanas possíveis, dada a situação e perigos que a personagem passa no jogo e que são ainda mais valorizadas pelas câmeras cinematográficas empolgantes e dinâmicas. Lara Croft nunca esteve tão bonita na tela da sua TV como agora.

A trilha sonora, composta por Jason Graves, que já trabalhou com compositores de Hollywood e que já compôs para outros games, como a série “Dead Space“. Seu trabalho em “Tomb Raider” está de uma qualidade excepcional, com temas empolgantes, de tensão ou suspense, complementando a imersão do jogador na narrativa de forma bem competente. Além disso, os efeitos sonoros também estão bem produzidos e variados, além de contar com excelentes dublagens de todos os atores, em especial de Lara Croft, como já foi comentado antes.

Apesar de todas essas qualidades, talvez o único “defeito” do jogo seja em sua dificuldade, que seguindo a  tendência dos games atuais, está muito baixa. Os inimigos não oferecem grandes desafios e para facilitar ainda mais, a energia de Lara recarrega sozinha, o que faz com que os combates fiquem meio sem graça, sem aquela sensação de “missão cumprida” após vencer um desafio. Teria sido mais interessante se fosse adotado o sistema de kits médicos espalhados nos cenários, o que aumentaria o grau de dificuldade. Os puzzles, elementos tradicional nos games antigos, foram deixados de lado para dar mais enfoque à ação, e dificilmente o jogador passará por uma situação “o que eu faço agora?”. Temos sim alguns quebra-cabeças, mas que são simples e de fácil resolução, que servem apenas como uma pausa entre os tiroteios. Porém, há várias tumbas secretas espalhadas pelo mapa, que oferecem enigmas mais desafiadores, e tesouros como recompensa para quem se aventurar.

Lara Croft S2 Nathan Drake

Algo que não posso deixar de comentar são as claras “inspirações” copiadas da série “Uncharted“, quem já jogou as aventuras de Nathan Drake no PlayStation 3 certamente vai ter aquela sensação de “já vi isso em algum lugar“. Se você, dono de um Xbox 360 sempre sentiu aquela “invejinha” da série exclusiva do concorrente, poderá agora desfrutar o melhor do Drake na pele de Lara Croft. Assim sendo, o jogo perde alguns pontinhos no fator originalidade, mas sem ser uma “cópia descarada e mal feita“. A série “Tomb Raider” possui elementos próprios que o diferem de “Uncharted”, tornando uma experiência agradável e inesquecível. E assim é o mundo dos games, uma constante evolução em que um título aprende com o outro, e quem ganha no final é o jogador, que tem em mãos um game com melhor que existe.

E por fim, o jogo conta com um modo multiplayer, mas ele é tão genérico e não adiciona nada de interessante que não vale a pena nem comentar. Ande pelo cenário, mate os inimigos, evolua o personagem, capture a bandeira, trabalhe em equipe, blábláblá

Conclusão: “Tomb Raider” é uma produção de altíssima qualidade em todos os seus aspectos, oferecendo visuais deslumbrantes, trilho sonora perfeita, narrativa instigante e uma dinâmica de ação fluída e divertida. Um reboot grandioso que acertou na mosca e que colocou uma das heroínas mais amadas dos games de volta ao topo dos campeões.

+ Excelente narrativa

Visuais espetaculares

Bom sistema de combate e exploração

+ Sistema de customização de arma e evolução da personagem

+ Trilha sonora e dublagem

+ Controles dinâmicos e fluídos

+ Cenas de ação cinematográficas de tirar o fôlego

 Dificuldade muito baixa, poderia ser mais desafiador

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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