Análises

Vanquish

Existem games que são fadados ao esquecimento. Seja for falta de confiança do gamer na produtora, seja por falha da estratégia de marketing da produtora acerca de seu produto, ou até mesmo por forças sobrenaturais, dignas de Mun-Rá. São games que muito gamer não sabe sequer que existe, mas não por consequência são ruins. Ao contrário, muitos games que entram nessa “faixa” são verdadeiramente muito bons.

Exemplos claros desses games, que carinhosamente chamo de “Os Melhores Games que Ninguém Jogou”, incluem Klonoa e Valquire Profile Silmeria para Playstation 2 por exemplo. Voltando mais no tempo, temos o carismático The Firemen, game lançado para SNES (que terá análise aqui algum dia desses), Burning Rangers, para Sega Saturn, e por ai vai. Ótimos games, mas que não fizeram o sucesso merecido.

Eis que finalmente, na atual geração de consoles, conheci o game que passa a ser o meu particular favorito “Melhor Game que Ninguém Jogou”. Um game que tem como produtora a Platinum, produtora essa em quem sempre confio. Um game que teve um péssimo planejamento de Marketing da distribuidora Sega. Um game que, de repente, teve sim forças sobrenaturais atuando contra o sucesso do mesmo, mas que mesmo assim é um dos melhores games dessa geração sem sombra de dúvidas. Apresento-lhes Vanquish.

Esse sim é o “Action Man”!

Sempre gostei muito de animes de ação, independentemente se a ação era focada em batalhas corpo a corpo, se com pseudo-humanos se utilizando de super poderes, se com batalhas cheias de armamentos ou se com Mechas super-poderosos. Por consequência, sempre me decepcionei com os games baseados nesses animes pois nunca conseguiam transmitir a sensação visceral que a animação passava.

A alguns anos atrás consegui ter uma boa dose de adrenalina e estilo com um game que não se baseia em nenhum anime, mas que é melhor do que qualquer animação sobre Mechas que já vi: Zone of the Enders 2. Desde então mais nenhum game de ação havia conseguido me surpreender de maneira tão impactante quando o game de Hideo Kojima, isso até a chegada de Vanquish.

O game distribuído pela Sega e produzido pela Platinum Games é pura adrenalina, com uma ação estilizada ao extremo, que empolga até mesmo quem não é fã do gênero.

No game, que se passa no futuro, personificamos Sam Guideon, usuário de um traje experimental de batalha criado pela DARPA, agência voltada para o desenvolvimento de armamentos militares de ponta. Esse traje, que é o grande trunfo do game, é equipado com o que há de mais moderno em segurança pessoal militar, permitindo que um só homem elimine hordas de inimigos.

Após um ataque de uma gigantesca colônia espacial, que dizimou a cidade de São Francisco, a presidente dos Estados Unidos recebe uma ameaça Russa de que a próxima cidade a ser destruída será Nova Iorque, a não ser que em dentro de 10 horas os Estados Unidos da América se rendam por completo.

É claro que a presidente não se renderá a terroristas e envia um ataque em massa à colônia espacial em questão. Dentre as equipes de ataque está Sam e seu traje “overwelming”, que será pela primeira vez colocado a prova em real situação de batalha.

Sim, a velha rixa “EUA bonzinhos contra um maluco russo terrorista” está de volta, mas ao contrário de games de guerra que tentam se levar a sério, Vanquish dá a impressão de que a história foi propositadamente inserida tão somente como desculpa para a ação, no bom e velho estilo “Sega Arcade”.

Uma vez dentro da colônia o que importa é atirar em tudo o que se mover e que não seja humano, pois no game os inimigos são robôs. E acreditem, os “bixos” são bravos.

Com o controle de Sam nas mãos do jogador, fica claro o porquê de o game ser considerado uma virtuose da ação. Os comandos são de fácil execução e todos extremamente muito intuitivos. Podemos escolher com qual arma queremos atirar dentre as três que podemos carregar simultaneamente ou se lançaremos uma granada dentre os dois tipos disponíveis: a tradicional granada que explode tudo em volta, ou se uma granada de pulso eletromagnético, que paralisa temporariamente os inimigos.

Apesar do tom futurista, as armas que Sam possui em seu arsenal são todas bem conhecidas. Metralhadoras, shotguns e snipers, por exemplo, dão o tom da destruição. Essa escolha em não deixar tudo cheio de lasers dá ao game uma sensação única, que mistura o visual futurista dos trajes, naves e afins contrastando com a boa e velha munição “de chumbo” e explosões viscerais.

Apesar de as armas de fogo serem “o ente assassino” do game, a grande vedete é por certo o traje de Sam, traje esse um ato de genialidade vinda de uma das mentes nipônicas mais brilhantes do mercado, Shinji Mikami.

Graças ao traje Sam pode se deslocar velozmente, afim de alcançar um local sem ser atingido, flanquear os inimigos sem ser praticamente ser notado, ou mesmo fugir de situações extremamente inusitadas, em especial nas batalhas contra os chefes. É preciso tomar cuidado para não super aquecer o traje, mas isso é algo que após as cinco primeiras utilizações desse recurso, torna-se “orgânico”.

A outra sacada do traje é o já clichê bullet-time, que dispensa comentários. Em Vanquish só se pode utilizar da câmera lenta após uma esquiva. Sam se esquiva, assume a posição de tiro e o efeito tem inicio. Assim como na habilidade do rápido deslocamento é necessário tomar cuidado para não super aquecer o traje.

O sistema de cover em Vanquish é muito similar a Gears of War, mas mais fluente e veloz do que o “truncado” game citado.

Vale dizer também que além de atirar e de realizar as peripécias que o traje nos permite, temos movimentos clássicos que praticamente todo game de ação possui, como a esquiva por rolamento e ataques físicos. Todos eles muito bem integrados à intenção de ação non-stop de Vanquish.

Como em todo game de ação os inimigos seguem um padrão visual até o fim, mas não chegam a dar aquela sensação de estar sempre atirando na mesma coisa. Destaque aqui para os chefes, que aparecem sempre para quebrar o ritmo progressivo do game e para injetar ainda mais adrenalina e loucura áudio-visual no jogador. As batalhas contra os chefes em Vanquish são totalmente furiosas e Old-School. Normalmente temos de atirar em algum ponto fraco externo do chefe para revelar o ponto fraco real dele, o ponto que vai realmente “tirar vida” do chefe quando acertado. Esse ponto fraco fica exposto por algum tempo e depois é recolhido novamente. O jogador deverá sempre fazê-lo ser exposto novamente, enquanto tenta sobreviver às ignorâncias explosivas e destrutivas dos chefes, que podem chegar a ter o tamanho de prédios.

O pacote áudio-visual de Vanquish é extremamente competente. A trilha sonora, eletrônica como não poderia deixar de ser, casa completamente não só com o que ocorre durante a partida, mas também com todo o ambiente e contexto geral do game. Apesar de competente, a trilha sonora quase não é notada dada a loucura que a jogatina de Vanquish é. Tentando sobreviver a hordas de inimigos a cada centímetro avançado, fica difícil parar para prestar atenção na trilha sonora. O simples fato de a trilha não irritar ao longo da campanha já garante a boa qualidade das composições.

Os efeitos sonoros não tem nada demais, apenas cumprem bem o seu papel, o que não é nem mérito e nem demérito nenhum. Estão lá, todos bem alocados às necessidades do game e ponto.

O visual de Vanquish, artisticamente falando, é fabuloso. O game possui belos cenários e um character design inspiradíssimo. Destaques aqui para o traje de Sam, que é imponente e lindo de morrer, e para os chefes, verdadeiras monstruosidades robóticas gigantescas e fabulosas. Na verdade, Vanquish deve ser um dos games, em toda a história da indústria, com as melhores batalhas contra chefes.

Tecnicamente falando, Vanquish tem pequenos problemas, como resoluções em uma qualidade abaixo de games de sua época e o fato de rodar a “somente” 720P. Com relação às texturas, isso quase não se nota, pois dada a velocidade com que tudo ocorre na tela, não a tempo de o jogador ficar se irritando com resoluções abaixo do esperado ali e acolá. Com relação aos 720p, isso é coisa minha mesmo.

Em contrapartida, efeitos como blur, por exemplo, são muito bem utilizados em Vanquish. Cenários e personagens são muito bem construídos e o game roda lisinho em 60fps apesar de toda a loucura que se passa na tela.

O ponto mais negativo de Vanquish com certeza é a construção de personagens e o trabalho de dublagem. Construção de personagens aqui é igual a zero, sério mesmo. Aconselho que você se esqueça da história e de qualquer outro fator que não seja a jogabilidade e a ação non-stop do game, pois profundidade de enredo aqui não existe.

Com relação à dublagem, o trabalho feito aqui foi um dos mais equivocados que já vi nesses anos de gamer. Não somente a dramaticidade das vozes é ruim, mas as vozes não casam com os personagens. Um ótimo exemplo disso é o próprio Sam, que tem cara de “bom menino”, mas tem a voz e personalidades de um canastrão. Quando ouvi pela primeira vez Sam falando tive a mesma impressão que tive quando pela primeira vez assisti Dragon Ball Z dublado e ouvi o Freeza, com aquele visual de menininha com o vozeirão que colocaram nele por aqui.

É possível dizer também que a duração do game é um fator negativo. A campanha de Vanquish deve durar em torno de 6 a 7 horas de jogatina. Dado o tempo médio de duração de games de ação está na média, mas se o compararmos com games como Ninja Gaiden Sigma 2, que tem uma campanha bem maior que essa, é compreensível que reclamações nesse sentido sejam levantadas.

Se sua onda são games que primam por questões como enredo e relações interpessoais entre os personagens, esqueçam Vanquish. A onda aqui é para quem gosta de ação ininterrupta pura e simplesmente. Com muito estilo, muita fúria visual e muita competência, Vanquish entrega ao jogador tudo aquilo a que ele se propõe. Se quiser um game em que quer se sentir o fodão durante sua campanha, Vanquish é o game. Desligue seu cérebro e destrua tudo a sua frente, pois isso, poucas vezes, foi tão prazeroso quanto o é aqui.

Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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