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Warcraft III: Reign of Chaos

Warcraft III: Reign of Chaos

A Blizzard, assim como a Valve, é mais uma daquelas empresas que costuma demorar certo tempo para lançar continuações de seus principais jogos, como o recente exemplo de Starcraft 2. Felizmente, ao contrário de Duke Nuke Forever, a espera por Warcraft III – valeu cada segundo, revolucionando a série com excelentes gráficos 3D, mecânica de jogo desafiante e dinâmica, modo campanha épico e um multiplayer de tirar o fôlego.

 

Campanha e história

O líder dos Orcs, Thrall têm um pesadelo em uma noite chuvosa, onde acaba tendo visões sobre o retorno da “Burning Legion”, que voltará para por fim a toda vida presente na terra. Após acordar Thrall encontra-se com um misterioso homem, “O Profeta” que diz a Warchief (Thrall) que o retorno dos Undead (uma das raças do jogo) está próximo e o único jeito de salvar seu povo é viajando para as distantes terras de Kalimdor, em Lordearom.

Parte da introdução acima é mostrada em uma excelente cena em computação gráfica (CG) e da início a uma das histórias mais épicas e empolgantes do gênero. Todo enredo de Warcraft III é bem pensado, nada de situações forçadas ou “coincidências” milagrosas para salvar os heróis, pelo contrário, aqueles que pretendem salvar o mundo da legião de demônios sofrem muitas perdas, passam por vários momentos de sufocos e são obrigados a fazerem coisas antes impensáveis.

Os personagens carismáticos – é difícil imaginar um Orc carismático? – contribuem para o clima épico que a trama de Reign of Chaos apresenta aos jogadores e o mais interessante é que a história não se perde apesar da longa duração e vários protagonistas. Vale ressaltar que não é necessário ter jogado os dois jogos anteriores para se situar na nova trama da franquia.

Acompanhando a épica história estão às missões e todo o modo campanha, que também é um show a parte. São várias missões explorando todas as quatro raças do jogo, e cada momento da jogatina além de apresentar a história de modo contínuo e progressivo pela visão de todas as raças, traz missões divertidíssimas e abusa das peculiaridades e habilidades que cada facção oferece.

Um exemplo claro disso é uma das missões dos Night Elfs (Elfos Noturnos), onde é preciso usar a habilidades deles de ficarem invisíveis a noite para conseguir escapar dos inimigos e chegar ao destino. As missões bem pensadas também ajudam os jogadores novatos a se familiarizarem com tudo, apresentando um breve tutorial nas primeiras missões e mostrando todo o repertório de todas as raças durante a campanha, que apesar de ser longa é extremamente divertida e, como disse acima, cheia de objetivos e missões distintos, garantindo variedade e sempre apresentando algo novo.

 

Raças

Antes de falar da jogabilidade de Warcraft III, é interessante comentar sobre as quatro raças distintas, que são: Humans (Humanos), Orcs, Night Elfs e Undead (Mortos-Vivos). Cada raça possuí suas próprias características e somente tem em comum a padronização na hierarquia de unidades e estruturas, ou seja, todas as raças terão prédios próprios para construir unidades básicas, soldados de baixo custo, entre outras coisas padrão em jogos de estratégia em tempo real.

Cada facção tem seus pontos fortes e fracos, suas unidades possuem habilidades distintas apesar de algumas serem parecidas, como unidades que recuperam a vida de suas demais unidades. Um jeito bem fácil de deixar claro de como são diferentes entre si as raças é ver como são construídas todas as estruturas de cada raça, uma vez que para construir uma Barracks (Quartel) com os humanos é diferente dos Undead, que usam os Acolytes para invocar as construções, ao passo que os elfos usam um Wisp como sacrifício para dar vida a Barracks, que é uma grande árvore com vida e que pode se defender.

Uma vez que todas as raças são diferentes entre si, os combates de Warcraft ganham dinâmica e cabe ao jogador dominar as habilidades e características de cada facção, bem como explorar suas vantagens e fraquezas. Os elfos, por exemplo, não são tão fortes em combates corpo a corpo, em contra partida possuem várias unidades com habilidades secundárias, como a habilidade nativa das unidades femininas ficarem invisíveis à noite, possibilitando criar emboscadas com maior facilidade.

Para concluir, é importante deixar claro que não existe uma raça “apelona” em Warcraft III. Todas as facções, apesar das grandes diferenças entre si, são equilibradas e não há desigualdade entre os confrontos, vence quem tiver o exército mais equilibrado e melhor explorar suas habilidades.

 

Modelo a ser seguido

Olhando de forma genérica, Warcraft III funciona como todos os outros jogos de estratégia em tempo real, ou seja, você precisa gerenciar sua base, angariar recursos (ouro e madeira) e construir um exército para destruir as estruturas, exército e peões inimigos, que são as unidades responsáveis por fazer a construção de todas as estruturas do jogo.

Todas essas semelhanças são provenientes do gênero de jogo (RTS) e, diferente de muitos outros jogos, Wacraft III executa com maestria todos os elementos que fazem parte de um jogo de estratégia servindo de modelo e não sofre do mal que alguns excelentes jogos acabam passando, que são as unidades apelonas, como no caso de Red Alert 2.

A coleta de recursos, por exemplo, é extremamente ágil e prática em Warcraft III, bastando mandar seus peões os coletarem para que os mesmos façam de modo ágil e eficiente. A quantidade pequena de recursos para coletar (ouro e madeira) deixa o jogo mais prático de gerenciar e evita uma situação comum em alguns jogos muito complexos, que é a utilização exaustante de unidade básicas, algo comum em Age of Empires 2, já que ouro e pedra são mais difíceis de conseguir no jogo da Microsoft.

Um ponto que ajuda a manter o equilíbrio das partidas é a limitação no número de unidades que é possível ter, já que cada unidade consome uma certa quantidade de “comida”, comida que é obtida ao construir estruturas específicas, como as Farms (fazendas) pelo lado dos humanos. Quando uma unidade é perdida, abre espaço para que os jogadores possam comprar outras unidades; o máximo de comida possível em Warcraft III é 90.

As lutas são empolgantes e costumam acabar em poucos segundos e para sair vitorioso delas é necessário estar atento a três pontos importantes. O primeiro é conseguir trabalhar de modo efetivo nas habilidades especiais de suas unidades, que variam de suporte a ataques ofensivos. O segundo ponto importante é trabalhar com um exército equilibrado, ou seja, não basta simplesmente comprar as unidades mais caras, é necessário balancear unidades básicas de combate corpo a corpo, mágicas, suporte e longa distância. Por último e não menos importantes estão os heróis, um dos grandes diferenciais do jogo, sendo que cada raça possuí ao todo 3 heróis que podem evoluir até o nível 10.

Eles (heróis) fazem grande diferença nos combates, pois suas habilidades, principalmente em níveis mais altos, podem trazer grande vantagem e infligir altos danos a seus adversários. Também é possível pesquisar melhorias para o armamento de suas unidades, deixando-as mais fortes e resistentes e, os heróis, possuem ainda um pequeno inventário de seis slots, podendo carregar itens diversos que podem tanto aumentar os status de seu herói, como invocar magias de cura ou até mesmo invocar um monstro por um determinado período de tempo.

Esses elementos deixam as partidas de Warcraft III sempre muito dinâmicas e compensam os esforços de quem gasta mais tempo conhecendo as habilidades e características de cada unidade e raça, ainda mais se levarmos em consideração a limitação no número de unidades em seu exército.

 

Multiplayer e curva de aprendizado

Antes de encarar as famosas partidas multiplayer, é preciso passar por determinadas etapas se você é um novato no gênero ou até mesmo dentro do universo da série. A primeira delas é completar a campanha principal, que ensina muitos fundamentos do jogo e de cada raça, como também de todas as unidades.

O segundo passo importante é encarar partidas contra o computador na modalidade “Custom Game”, já que aqui o computador tem uma atitude mais agressiva e obriga ao jogador a trabalhar com mais velocidade e agilidade, passando também a gerenciar melhor a coleta de recursos e de suas unidades também, principalmente na hora dos combates que costumam demorar poucos segundos e pequenos detalhes podem ser pontos cruciais entre a vitória ou derrota.

Por fim, chegamos ao modo multiplayer on-line na Battle Net ou local, que é um dos pontos altos de Warcraft. Além do suporte da Blizzard, que oferecia servidores estáveis e fóruns para a comunidade, a própria comunidade gamer criou uma quantidade gigantesca de conteúdo para o jogo, expandindo e muito o que a própria desenvolvedora havia feito e pensado para seu título.

E quando falo de expandir não me limito a citar somente os vários mapas criados por fãs, como também novas modalidades de jogo, passando desde modificações que deixavam o jogo ao estilo Tower Defense ao famoso Dota, que virou uma verdadeira febre e tem uma continuação em fase final de testes beta, criada pela Valve após um grande imbróglio com a própria Blizzard.

Em resumo, após finalizar a excelente campanha os jogadores ainda tinham o que explorar principalmente no modo multiplayer com uma quantidade absurda de conteúdo para todos os tipos de gostos.

 

Pequena ressalva

A única ressalva que deve ser feita no trabalho da Blizzard é em relação ao custo das unidades, estruturas e novas tecnologias, que são muito caras, ainda mais se levarmos em consideração a quantidade de ouro que é possível coletar por vez, que vai diminuindo conforme seu exercito cresce, devido ao sistema de Upkeep, que é uma taxa para manter os equipamentos de seu exército, reduzindo a quantidade de ouro que o jogador efetivamente coleta – por exemplo, se seu exercito é pequeno o jogador coleta 10 de gold para cada peão que está minerando a mina de ouro, porém se o exercito é de 90 o jogador só recebe 4 de ouro.

Esse custo altíssimo das unidades e estruturas prejudica muito quem perde uma batalha, por exemplo, principalmente no modo multiplayer, pois com o alto custo é difícil reunir novamente um exército equilibrado e forte o suficiente para tentar virar o jogo, ainda mais se considerarmos que os heróis fazem grande diferença, principalmente quando estão em níveis mais altos.

 

Gráficos, sons e trilha sonora impecáveis

Warcraft III foi um salto absurdo de qualidade se comparado com o título anterior, apresentando um novo motor gráfico e cenas em computação gráficas lindas, equiparadas as cenas em CG feitas pela Square na época.

Os gráficos agora totalmente em 3D contavam com texturas cheias de detalhes e em alta resolução e belíssimas modelagens 3D, que juntos davam vida as mais diversas unidades, estruturas e cenários. Cada unidade possuí uma quantidade enorme de detalhes, diferenciando-se uma das outras entre sua raça e com as demais raças presentes no jogo. As estruturas são muito bem feitas e inspiradíssimas, como os gigantes anciões dos Elfos Noturnos ou até mesmo as macabras estruturas dos Mortos Vivos, com vários detalhes para que o jogador possa observar de perto, já que a câmera trabalha com zoom, ficando quase no mesmo plano que as unidades.

Os cenários são bem trabalhados e foram planejados para oferecerem confrontos empolgantes e dar margens para os jogadores bolarem suas estratégias e emboscadas, sem contar os cenários vistos no modo campanha, que trazem templos, florestas e vários tipos de localidades bonitas e divertidas de explorar.

Podemos dizer que a direção de arte em Warcraft III é impecável, pois poucos estúdios conseguiram reproduzir com tamanha inspiração e qualidade o tema medieval e fantasia, aliando várias raças com características visuais tão distintas uma das outras, mesmo entre suas raças, como os High Elfs que são diferentes dos Night Elfs, por exemplo.

O novo motor gráfico também proporciona outros belos efeitos, citando por exemplos os efeitos climáticos, desde neve a chuva ou até mesmo as ondas que chegam a costas das praias. É muito bonito ver também os efeitos das mágias e habilidades que as unidades e heróis usam, além de explosões e até um efeito de fogo muito bonito para época.

As animações também estão bonitas e trazem naturalidade aos personagens, respeitando é claro as limitações técnicas da época. O ponto alto fica no momento de usar as técnicas únicas de cada herói, visualmente muito bonitas.

A parte sonora do jogo é acima da média para época, a começar pela trilha sonora, com composições esplendidas e que não deixa nada a desejar a grandes produções de Hollywood, como o premiado Senhor dos Anéis. Aliado a ótima trilha sonora que ajuda a dar um clima épico para o modo campanha de Warcraft III estão às dublagens, que são excelentes e permitem aos heróis e vilões serem tão carismáticos como são na aventura da Blizzard.

Os efeitos sonoros também são muito bem produzidos, cheios de detalhes permeando tudo que acontece na tela, como os sons de raios e trovões em determinadas missões do modo campanha, sons de maré, passos na água e muito mais. As habilidades, tantos dos heróis como das unidades diversas, também possuem efeitos sonoros únicos e casando bem com a magnitude do que é apresentado na tela. Para se ter noção da qualidade do trabalho aqui, é possível escutar, por exemplo, as batidas nos tambores da unidade dos Orcs Kodo Beast.

 

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