Análises

Xenoblade Chronicles

Alguns gêneros de games foram, ao longo dos anos e da evolução dos consoles, sofrendo alterações ou simplesmente foram se extinguindo do mercado. Um desses gêneros é o RPG japonês, também conhecido como JRPG, que ganhou muita popularidade na época dos 16 Bits e do primeiro PlayStation, e começou a perder as forças na era PS2, sendo que hoje foi quase que completamente substituido pelos RPG ocidentais, como “Mass Effect”, “Dragon Age” e tantos outros.

Mas então eis que temos uma luz no fim do túnel para os amantes do JRPG: “Xenoblade Chronicles” para o Nintendo Wii. Desenvolvido pela Monolith Soft e dirigido por Tetsuya Takahashi (um dos pais da série Xenogears/Xenosaga). E claro que um nome de peso como o de Takahashi só nos poderia agraciar com uma obra-de-arte que utiliza todo o potencial do Wii, nos trazendo novamente os JRPG com um estilo reinventado/modernizado, deixando o jogo extremamente agradável e divertido (porque se seguisse os conceitos dos anos 90, certamente teríamos um jogo mais monótono e chatonildo). E pensar que a Nintendo of America quase não lançou o game nos EUA (foi lançado em 2010 no Japão, 2011 na Europa e só em abril de 2012 chegou a versão americana).

apesar de não ter gráficos HD, Xenoblade esbanja uma belíssima e criativa arte visual

Mas chega de enrolação e vamos ao que interessa, começando pela história do jogo, muito bem escrita e que se desenvolve lentamente, atraente e o mais importante, que prende e envolve a atenção do jogador. Cheia de mistérios e reviravoltas, a narrativa traz vários personagens carismáticos, alguns até velhos clichês dos JRPGs (o jovem herói que começa uma longa jornada, o seu melhor amigo engraçadão, um personagem mais velho e experiente, as garotinhas fofinhas, a gostosa de atitude, o garoto mala, roupas coloridas, etc) mas nada que tire o brilho ou a diversão. Melhor do que isso, é uma volta ao passado, aos gloriosos RPGs dos anos 90, mas com uma roupagem mais moderna e principalmente, prática em sua jogabilidade.

O game começa apresentando ao jogador um pequeno prólogo do mundo de “Xenoblade Chronicles”. Há milhões de anos, havia apena um vasto oceano no mundo, até que surgiram dois colossais Titãs: Bionis e Mechonis. Os dois gigantescos deuses começaram uma batalha interminável, até que um certo dia seus corpos foram petrificados um ao outro durante o combate. Assim, os anos se passaram e a vida e civilização surgiu no corpo petrificado de Bionis na forma dos humanoides Homs e Nopon. Mas no corpo de Mechonis foram originados os seres robóticos Mechons, que começaram uma série de investidas contra os humanos em Bionis. A única coisa que podia causar danos aos Mechonis é a lendária e misteriosa espada Monado, que só pode ser empunhada pelo herói Dunban.

há dezenas de áreas e regiões para se explorar

Um ano após uma decisiva e sangrenta batalha entre Homs e Mechons, e a aparente paz que parecia reinar, o jogo nos apresenta o protagonista, um jovem chamado Shulk. E é a partir deste ponto que a história começa a se desenrolar, descobrimos que Dunban ainda está vivo, mas seriamente ferido e que Shulk está tentando descobrir os segredos da Monado, junto com os seus amigos Reyn e Fiora. Mas o período de paz não dura muito, e os Mechons iniciam uma nova investida contra a colônia de Shulk. Vidas são perdidas e Shulk, agora empunhando a Monado, promete acabar com o inimigo por uma vez por todas, auxiliado pelos misteriosos poderes da espada, como a capacidade de fazer Shulk ter visões do futuro. Assim começa a aventura de Shulk pelos corpos petrificados dos Titãs, que pelo caminho encontrará outros personagens, cada qual com suas histórias e problemas. A narrativa possui um teor mais adulto, abordando temas como o amor, ódio, vingança, o bem contra o mal, moralidades internas, etc.

Além da narrativa, um dos grandes destaques do game é o seu sistema de batalha e exploração, este último caracterizado por uma ambientação gigantesca, com vários opções de caminhos e passagens secretas, para os jogadores que adoram fuçar explorar (inclusive ganha-se pontos de experiência ao encontrar novas áreas, incentivando assim a exploração). Há varias side-quests (a maioria matar um certo número de inimigos ou conseguir itens especiais) que ajudam a ganhar experiência, mas principalmente, aumentam o grau de interatividade entre os personagens do seu grupo. O status de afinidade entre personagens não é novidade nos RPGs (especialmente nos ocidentais), e ele se faz presente em “Xenoblade”, que irá refletir não apenas nos comportamentos das pessoas, mas também em batalhas, itens e cidades que for visitar. Quem conhece os games de Tetsuya Takahashi, sabe que há uma grande carga de moralidade e conflitos emocionais que são jogados em cima dos personagens. Mas se você não faz o tipo explorador, não se preocupe, pode-se seguir a história principal apenas (há uma flecha que indica o caminho a seguir) e poupar horas de jogo (mas eu não sei porque um fã de JRPG faria isso), o que nos leva a outro importante fator, a jogabilidade.

os personagens contam com um sistema de customização bem diversificado

O sistema de batalhas é em tempo real, ou seja, a luta vai rolando até alguém cair morto (sem pausas para mexer em menus ou magias especiais). Mas temos aqui algumas novidades. No início a enxurrada de menus e opções podem assustar alguns jogadores, com muitas informações saltando na tela, mas apesar do visual meio caótico, a ação se desenrola de maneira prática e com o tempo nos acostumamos. O jogador controla um personagem principal (a sua escolha) que é auxiliado por outros dois, controlados pela IA. Os ataques básicos dos personagens são acionados automaticamente com a aproximação dos inimigos, cabendo ao jogador posicionar seu personagem em pontos chaves para atacar os inimigos (como as laterais ou retaguarda), causando maiores danos, especialmente em um ataque conjunto com os outros personagens. Além disso, é possível selecionar ataques especiais conhecidas como “Arts”, que servem tanto para ataques, defesas ou ainda de suportes. Ao usar uma Art, ela fica indisponível por alguns segundos, mas pode ser utilizada novamente, e quantas vezes quiser, após esse tempo. Sim, não há limites de SP ou MP aqui, o que permite batalhas mais fluídas, envolventes e divertidas. Ao usar Shulk, podemos ver algumas premonições em batalhas mais árduas, como golpes fatais dos inimigos em nossos companheiros. Com isso, ganhamos um pequeno tempo para acabar com a ameaça ou erguer uma defesa contra o inevitável golpe, e assim mudar o rumo dos acontecimentos.

Certamente “Xenoblade” possui um visual datado por causa das limitações do Wii, e não é nem de longe tão visualmente fantástico como um “Final Fantasy XIII”, por exemplo. Mas o que lhe falta em capacidade gráfica, sobra em charme e arte visual ricamente detalhada. Apesar de existirem, as cut-scenes não são o foco do jogo (né “Final Fantasy XIII”), mas sim as já mencionadas imensas áreas a serem exploradas. Áreas essas constituídas por flora e fauna com designs criativos e cheios de vida, interagindo com os ambientes e personagens. As texturas e animações dos cenários e personagens funcionam perfeitamente com o estilo do jogo e estão elogiáveis, com um bom uso de cores, luzes e sombras onde é necessário.

sistema de batalha dinâmico garante a diversão

A trilha sonora também não fica atrás e impressiona com belas e variadas melodias ao longo de toda a aventura épica de nossos heróis. São mais de 90 composições orquestradas de modo a se encaixar a cada situação, sejam os mais dramáticos, tensos ou alegres, passando por ritmos mais vibrantes para as batalhas épicas e para melodias mais suaves para a confraternização do grupo. Ponto positivo também para as dublagens, tanto no inglês para o japonês. As dublagens em inglês em alguns momentos sofrem de um falta de sincronia nos lábios dos personagens, mas o trabalho dos dubladores está de parabéns ao dar as emoções necessárias em cada momento. Pessoalmente, ainda prefiro a dublagem japonesa com legendas em inglês (apesar da gritaria excessiva dos personagens no modo de batalha, que as vezes pode encher).

Há muito mais que eu poderia falar sobre “Xenoblade”, como o sistema de dias e noites e o sistema de customizações de armas e roupas, mas a análise ficaria muito extensa. Pelo o que já relatei, acho que dá para o leitor ter uma ideia do que esperar do game, que só tem coisas positivas a oferecer e muito poucas negativas. O jogo não é muito difícil, alguns chefes podem oferecer uma resistência maior, mas nada de exagerado. O que ele não tem de dificil, tem de longo. O jogo facilmente passa de 100 horas de jogatina, se você fizer as side-quests, explorar bem os imensos cenários e sair à caça dos itens raros.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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