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Yakuza 6: The Song of Life

Com certeza esses dois últimos anos foram especiais para os fervorosos fãs da franquia Yakuza. Entre 2017 e 2018 receberemos ao total nada mais, nada menos, que 4 jogos distintos da série.

Yakuza Zero e Yakuza Kiwami foram lançados no ocidente ao longo do ano passado, ao passo que Yakuza Kiwami 2 está agendado para o segundo semestre desse ano. Enquanto Zero é na verdade um prólogo de toda a história canônica de Yakuza, os games Kiwami são remakes do primeiro e segundo jogos da franquia, lançados originalmente para o PlayStation 2.

O quarto jogo dentre os lançados entre 2017 e 2018, Yakuza 6: The Song of Life, é o foco de nosso review de hoje. Não somente é o mais importante game dentre os aqui listados, mas também é o epílogo da história iniciada a mais de 10 anos atrás (o primeiro jogo foi lançado em 2005 no Japão e 2006 nos EUA).

Apesar de já estarmos na sexta edição de Yakuza, isso sem contar os spin-offs da franquia, o ocidente nunca a teve tão em foco o quanto atualmente. Para muitos gamers Yakuza Zero, Kiwami, ou até mesmo The Song of Life será seu primeiro contato com a série. Dito isso, acho importante começar deixando claro que Yakuza não é “o GTA Japonês” que ainda hoje muita gente acha.

Apesar de a primeira vista parecer, Yakuza não é um open world massivo. Ele apresenta ambientes substancialmente menores do que qualquer mapa de GTA e que podem ser explorados seguindo suas limitações geográficas e de interação para com o ambiente. Ademais, é uma franquia que possui uma preocupação muito maior com a narrativa e a história que quer contar do que qualquer open world do mercado.

Em resumo: comparado a um GTA da vida, Yakuza possui ambientes muito mais contidos em suas específicas regras de gameplay e um tom narrativo muito mais orientado e com maior importância. Deixando isso claro, continuemos.

Em Yakuza 6 temos uma representação mais vivida (para não dizer velha) do protagonista Kazuma Kiryu, que a essa altura tem dois claros propósitos na vida: se aposentar em definitivo de sua vida como mafioso japonês e cuidar de seu orfanato.

Objetivamente falando, esse é o target de vida de Kiryu há muito tempo, mas a vida sempre se encarregou de dificultar as coisas para ele. Infelizmente, desde os eventos finais do último game da franquia, a vida novamente se encarregou de adiar os planos de Kiryu.

Como o usual não irei me focar em história no review para evitar spoilers, mas posso dizer que mais uma vez o protagonista começa com um inesperado problema em suas mãos e que dessa vez é algo extremamente pessoal. Não apenas problemas para com a Yakuza surgem, mas também algo com Haruka, sua verdadeira filha adotiva e a pessoa por quem Kiryu mais sente afeto nesse mundo. É realmente amor paterno falando alto.

Como Yakuza 6 pretende encerrar o ciclo de Kazuma Kiryu, o desenrolar da história possui em seus momentos pivotais resoluções importantes que envolvem situações inacabadas do passado do protagonista e isso traz consigo uma carga dramática e peso narrativo de cinco jogos. Ou seja, espere muitos momentos reveladores e tocantes em The Song of Life e que te fará se recordar das emoções vividas ao longo desses mais de 10 anos acompanhando a franquia.

Caso não tenha jogado todos os games até então, ou mesmo caso Yakuza 6 seja a sua primeira experiência para com a franquia, não se preocupe pois não ficará totalmente perdido na história.

A equipe de produção preparou um bom dossiê de tudo o que se passa nos outros cinco jogos canônicos de Yakuza, dessa forma é possível se ambientar sobre o tudo o que já rolou até o presente momento. Isso por certo não substitui a experiência de ter jogado e vivido Yakuza e fará com que certos momentos da história lhe sejam bem menos impactantes, mas pelo menos lhe permitirá jogar Yakuza 6 sem medo de ficar totalmente avulso.

Ao longo da jogatina somente se tem o controle de Kazuma Kiryu, o que quebra a tendência de múltiplos protagonistas dos últimos games da série (incluso Zero). Tal escolha se justifica pelo tom narrativo do game e é válido, entretanto isso não limita de forma alguma as opções de jogo que Yakuza 6 proporciona. Na verdade The Song of Life é facilmente o jogo da franquia que oferece a maior variedade e quantidade de conteúdo em toda a sua história.

É possível explorar dois distritos distintos ao longo do jogo, Hiroshima e a eterna Kamurocho. Podemos chamar Kamurocho de “o distrito principal” da franquia. Não há nenhum jogo canônico de Yakuza em que o foco da ação não se encontre ali.

Os veteranos já o conhecem em suas minúcias, já que geograficamente ele muda muito pouco de um jogo para o outro, entretanto a cada nova interação da franquia mais conteúdo e áreas exploráveis são incluídas, o que sempre dá a Kamurocho um feeling de ambiente novo. Eis que já estamos no sexto Yakuza e explorá-lo para encontrar tudo o que de novo ali há ainda é um prazer.

A exploração dos ambientes em Yakuza sempre foi uma de suas grandes forças motrizes devido a dois pontos muito específicos: side-quests interessantes e os famosos minigames. Não pouco frequentemente ambos se unem em uma só experiência.

Se os jogos para Playstation 3 já possuíam uma boa quantidade de minigames disponíveis e Yakuza Kiwami e Yakuza Zero aumentaram significativamente a oferta nesse departamento, Yakuza 6 “chutou o pau da barraca” trazendo quase tudo já existente nas versões anteriores e adicionando novas experiências.

Se o jogador não quiser seguir a história principal e preferir explorar os distritos ele encontrará um caminhão de coisas para fazer. Estão disponíveis jogos de tabuleiro orientais, jogos de azar orientais, jogos de azar ocidentais, boliche, baseball, sinuca, dardos, etc.

É claro que dentre os minigames não poderia faltar um fliperama. Basta entrar em algum Club Sega para ter acesso a vários games clássicos completos da Sega como Puyo Puyo, Hang-On e Space Harrier. É possível também jogar Virtua Fighter 5 em um Club Sega e sim, o jogo está inteiro lá aguardando por você.

E se você pensou que tinha acabado, pensou errado. Nada do que foi exposto acima enquanto minigame é mais famoso na franquia do que as “japonesisses”. Estão de volta o Karaokê, os clubes de acompanhantes e afins. Agora também é possível entrar em uma academia para se fortalecer e até mesmo participar de salas de bate papo online eróticas (é sério!).

Por fim, vale ressaltar o minigame mais inesperado aqui incluso, o modo de batalha de clãs. Seu funcionamento é basicamente o de qualquer jogo de estratégia em tempo real. Aqui o jogador cria e gerencia sua gangue para confrontar gangues inimigas se utilizando de funcionalidades clássicas de RTS. É extremamente simplório para padrões de RTS, mas é funcional.

Todo esse pacote de conteúdo a ser explorado é recheado de muito bom humor tipicamente oriental, trazendo consigo situações bem humoristicamente inusitadas e até mesmo estranhas para quem não é acostumado com cultura japonesa. De um jeito ou de outro é impossível não soltarmos uma boa gargalhada ao ver Kazuma Kiryu, um homem que já foi o mais temido mafioso japonês, passando por situações dignas de um anime.

Mais impressionante ainda é constatar que mesmo com todo esse conteúdo quase “pastelão oriental” à disposição, o tom dramático da narrativa principal não se perde e, de alguma forma, uma coisa complementa completamente a outra, trazendo consigo uma das mais únicas e gratificantes experiências dos videogames. Pessoalmente, essa é a grande vedete da franquia como um todo.

Os combates do jogo continuam com o foco corporal que a franquia sempre teve. Mecanicamente os controles são simples e funcionais, mas profundos o suficiente para obrigar o jogador a compreender o competente sistema de evolução das habilidades de Kiryu e o set-list de movimentos do personagem.

O sistema de Heat retorna dos games anteriores, fazendo com que os combates ganhem não somente um tom mais cinematográfico, mas também elementos plásticos de violência absolutamente gratificantes. É delicioso utilizar um golpe Heat em um inimigo e ver Kiryu estilosa e violentamente acabar com ele.

Tanto em combate quanto na exploração os personagens, em especial Kiryu, ganharam animações mais suaves e realistas, quando comparados ao últimos games da franquia. Caminhar com Kiryu também se tornou bem menos robótico.

Tecnicamente é visível o quanto Yakuza 6 é mais belo do que Zero e Kiwami. Os ambientes são melhor construídos e mais definidos e os efeitos de iluminação são muito melhores. As expressões faciais e sincronia labial dos personagens principais chegam a assustar o quão realistas o são.

Apesar de ser um game mais belo que seus antecessores imediatos, no geral não é nada revolucionário. Na verdade o grande ganho técnico em Yakuza 6 é na absurda redução de loading times aqui apresentada.

Em Zero e Kiwami a cada encontro que leva a um confronto com inimigos, ou então a cada local em que entrávamos ao longo da exploração distrital, rolava um load (mesmo que disfarçado) para depois a jogatina continuar. O mesmo ocorria ao final dos combates e ao sairmos de um local fechado para voltarmos a exploração nos distritos.

Em Yakuza 6 basicamente não há loads para tais eventos. Isso faz com que a experiência de se jogar se torne muito mais fluída. Chega a ser relativamente incomodo voltar a jogar um game anterior da franquia após experimentar tal evolução técnica em The Song of Life.

Para fechar o pacote com chave de ouro, toda a parte de áudio de jogo é um primor.

As dublagens são de alto nível, trazendo a cada fala o tom dramático (ou não) que o momento exige. Infelizmente não há dublagem disponível além da original japonesa. Esse é um fato já comum ao fã da franquia, mas que pode afastar os não iniciados. Outro ponto importante é que o jogador tem que estar com o seu inglês em dia para acompanhar bem o desenrolar da narrativa, já que infelizmente o game não tem legendas em português.

A trilha sonora mantém o altíssimo nível de composição e qualidade, bem como de variedade de Zero e Kiwami, entretanto os destaques são as trilhas de rock pesado para os momentos de combates. Boa parte do motivo de certos combates serem tão empolgantes o quanto o são provém justamente da música que embala a situação.

Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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