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Análise | Elden Ring oferece um dos melhores mundos abertos já feitos

Eu esperava que Elden Ring fosse o maior jogo da From Software desde o revolucionário Demon’s Souls, mas o que eu encontrei superou todas as expectativas. Para colocar em perspectiva, a área do teste técnico – onde explorar tudo poderia levar cerca de 10 horas – é apenas uma fração do novo mundo absurdamente colossal criado por Hidetaka Miyazaki e sua equipe. No momento em que essa análise em progresso estava sendo escrita, já havia superado as 60 horas de jogo, chegado no nível 113 com o meu personagem e ainda parece que há umas boas horas de aventura antes dos créditos rolarem. Se você já jogou Dark Souls, Bloodborne ou mesmo o mais recente Sekiro, sabe o quão expressivo esses números são para uma única “jogada”.

Obviamente que nos últimos tempos o tamanho de um jogo ou mapa vem sendo mais uma maldição do que uma vantagem, principalmente em jogos de mundo aberto. No entanto, Elden Ring foge desta filosofia de design batida e monótona que mais parece uma lista de afazeres e aposta em uma estrutura mais próxima de The Elder Scrolls e The Legend of Zelda: Breath of the Wild. O casamento da fórmula Souls com um mundo aberto nesses moldes funciona de forma majestosa e o resultado é um jogo absolutamente imperdível.

Exploração é o foco 

Após uma introdução clássica da From Software – onde é possível ver alguns dos chefes que vão infernizar a sua vida em combates punitivos mais tarde – você é levado diretamente para o sistema de criação de personagem. Tirando a evolução gráfica natural para os modelos 3D, todo o resto até aqui é bem padrão da experiência Souls e quem já jogou algum deles vai se sentir em casa. Isso inclui as classes, que embora tenham nomes diferentes, continuam muito próximas dos arquétipos padrões que já vimos anteriormente.

Depois de um mini tutorial de mecânicas básicas, o jogo já te coloca em seu mundo aberto e deixa que você se vire para encontrar um destino. Também não demora a entregar a maior novidade da jogabilidade para um título da From Software em anos: o corcel Torrent. Ele será utilizado não só para atravessar o mapa, como também para combates montados. Esse companheiro de quatro patas e um par de chifres é extremamente rápido e capaz de cortar grandes áreas em questão de segundos. Também consegue pular não só uma vez, mas duas, o que abre um leque de oportunidades de exploração vertical em vários momentos – incluindo aquelas gambiarras em beiradas para alcançar algum item escondido.

O mapa do mundo no menu a princípio é oculto, repleto apenas de neblina. Ao chegar em uma nova região, essa área fica em uma cor marrom vazia, mostrando o seu tamanho e forma, algumas estradas, mas nenhum detalhe como relevo ou marcações, exceto um: o local onde encontrar o mapa do local. Ao interagir com um pilar e pegar esse mapa, o jogador libera todos os detalhes pintados no papel por quem quer que tenha cartografado a área. Não há pontinhos de interrogação, não há lista de colecionáveis inúteis, não há marcações de NPCs com missões opcionais genéricas. Há um desenho que pode indicar algo interessante e cabe a você decidir se quer ir até o local conferir.

O resultado dessa dinâmica é uma exploração livre e pura, daquelas de ver um local distante – como um forte ou montanha – e ir lá simplesmente para conferir se o jogo guarda lá algo interessante. Como todos os jogos marcantes de mundo aberto, a resposta para isso em Elden Ring quase sempre será sim. Uma caverna explorada trará recursos importantes, os cantinhos contam com segredos, há inimigos secretos, NPCs para conhecer e caminhos novos por todos os lados. Desta vez, há até chefes que perambulam por aí e podem ser encarados em campo aberto mesmo.

O jogo incentiva a explorar e te surpreende o tempo todo, sendo este seu foco principal. Em determinado momento eu precisava encontrar duas peças de uma chave para ativar um elevador que levava para uma nova região do mapa, onde estava o objetivo da campanha. Não há ponto indicando onde esses amuletos estão, é preciso sair por ai conversando com os NPCs que você conhece e captar as dicas. Após encontrar o primeiro pedaço e estar sofrendo para achar o segundo, falei com uma senhora tenebrosa que deu uma dica de uma caverna no fim de uma área alagada. Era um caminho secreto por dentro da montanha que me pouparia tempo. Eu poderia ter ido atrás da outra peça, mas decidi pelo atalho. Lá dentro tive que enfrentar um chefe poderoso que exigiu algumas vidas do meu personagem, mas o resultado compensou pela espada que ele deixou e o caminho que ficou mais curto. Esse tipo de coisa se repete incontavelmente durante a jornada.

Em nenhum momento essa exploração massiva e contínua é monótona. Elden Ring não quer fazer questão de ser contemplativo – embora tenha paisagens belíssimas devido à sua excelente direção de arte – ele é acelerado com o Torrent o tempo todo. Há muito o que se descobrir, então não há tempo para perder com caminhadas maçantes. Chamar a montaria sequer faz com que ela venha de mansinho atrás de você para ser montada. Seu personagem já pula e sai em velocidade em cima do corcel.

Para encurtar ainda mais distâncias, os Marcos da Graça – a versão de Elden Ring para as fogueiras (bonfires) de Dark Souls, são abundantes e você pode se teletransportar para qualquer uma delas a qualquer momento, desde que não esteja em batalha. Como é preciso ir e vir bastante por elas e há telas de loading sempre que isso ocorre, o SSD se torna uma ferramenta muito útil nos consoles de nova geração e no PC, e devem fazer muita falta para quem jogar em um hardware sem este recurso.

Até mesmo sistemas clássicos da saga Souls se curvaram perante o foco à exploração. A árvore de evolução de armas foi simplificada e mudar seu tipo para um elemento ou forma depende de encontrar um item específico em vez de acumular pedras diferentes em múltiplas campanhas. Elas podem ser modificadas em qualquer “fogueira”, inclusive. A exploração sempre recompensa e esconde o que há de melhor aqui.

Mapa gigantesco traz alguns problemas

Mesmo com as 60 horas jogadas e a maior parte do mapa explorada minunciosamente, tenho certeza de que ainda deixei muita coisa para trás. Na minha última hora com o jogo antes de escrever a análise, retornei para o primeiro mapa para tirar umas fotos e descobri por acaso um caminho por uma floresta que leva para uma cidade subterrânea que ainda não tinha visitado. Com certeza isso deve se repetir por todas as 10 regiões do mapa na superfície.

Sim, além do mapa gigante da superfície, ainda existe um mundo subterrâneo, com diversos segredos escondidos, como um formigueiro gigante que dá acesso a um canal de abastecimento de água de toda uma região. Ou o esgoto opcional de uma das maiores cidades do jogo.

Esse tamanho todo pede por mais e mais conteúdo e chefes, o que traz alguns problemas. O jogo conta com uma variedade muito grande de inimigos, mas ainda não parece suficiente. Alguns subchefes são repetidos à exaustão, enquanto que outros tem movimentos idênticos. Isso derruba um pouco a sensação de descoberta do início do jogo. Após dezenas de horas, encontrar um novo calabouço e enfrentar um mesmo boss só com vida e dano maiores não chama a atenção. Aquele dragão do trailer e do beta tem pelo menos umas oito pequenas variações e eu simplesmente não aguento mais dar espadada na canela dele montado no Torrent.

Também é o jogo da From com o maior número de chefes que se transformam em inimigos comuns vagando por aí depois de algum tempo. Como alguns deles são marcantes quando enfrentados pela primeira vez, essa repetição que vem depois acaba tirando um pouco do brilho de algumas lutas. Vale lembrar que isso tudo é para chefes secundários, pois os principais continuam únicos e com momentos memoráveis.

Outro problema do mundo gigante e sem loadings é que ele precisa estar constantemente carregado na memória do seu hardware, o que significa muito peso na performance. A From Software não é das melhores nesse quesito, como seu histórico já deixa claro, mas desta vez o resultado incomoda ainda mais. No PS5, onde joguei, o modo performance raramente atinge os 60 fps em áreas abertas e por vezes cavalgar e girar a câmera causa algumas oscilações que chegam a dar dor de cabeça. O modo resolução não trava o jogo em 30 fps e também oscila bastante. Um patch está prometido com melhorias para esses problemas, mas até o momento desta análise a situação ainda não havia mudado.

Mais fácil que o de costume

Essa nova estrutura de mundo inevitavelmente torna o jogo mais fácil que o normal. Como há muito o que explorar, há muita recompensa também. Sempre que alguma área ou chefe fica difícil, basta sair para explorar e de repente você estará bem mais forte e preparado para o desafio. Descobrir áreas antigas depois de algum tempo significa matar todo mundo com um ataque e enfrentar o chefe de uma determinada região como se fosse um inimigo comum.

A quantidade de novos recursos de combate também facilitam a jornada. Poder agachar e se esconder desta vez muda tudo. Dá para iniciar a maior parte das lutas contra inimigos comuns com um crítico e em alguns locais até mesmo passar por todos eles sem sequer ser notado. Outra novidade que deixa até mesmo as lutas com chefes bem mais fáceis são as invocações. É possível conseguir espíritos que podem te ajudar em batalha de diversas formas. Eu utilizei uma build de força e tinha mana apenas para invocações menores, mas mesmo elas são muito úteis em batalha. Uma alcateia de lobos, conseguida logo no início da jornada, é útil na jornada mesmo após dezenas de horas, já que ela pode ser melhorada. Os lupinos atraem a atenção dos chefes e aguentam bastante dano, o que me dá liberdade para bater e também me curar sem ser incomodado.

Em relação aos atributos, Elden Ring parece bem mais caridoso também. Mesmo no início, a quantidade de estamina é bem farta e permite bater bastante antes de cansar e só vai aumentando a partir daí. Com emblemas poderosos conseguidos ao explorar e as runas encontradas no mundo, fica ainda mais fácil deixar seu personagem extremamente poderoso. Imagino que builds de magia, visto o poderio de algumas, vão quebrar a dificuldade do jogo facilmente.

Também é bem fácil e acessível, comparado a outros jogos da From, refazer a sua build após determinado momento jogando, redistribuindo os pontos. Se trata de outro aspecto que pesa na hora de pensar no nível de dificuldade.

Tirando as cidades onde você enfrentará os grandes lordes e deuses do mundo, o resto do jogo fornece pouco daquele design clássico da From de ter que achar um atalho para não enfrentar inimigos difíceis no caminho até um chefe. Afinal, é um mundo aberto que você vai até onde quer. E mesmo dentro de locais fechados, agora há estátuas na porta do chefe fazem você renascer ao lado da névoa. Isso também facilita demais a jornada.

Essas cidades e castelos maiores com lordes são onde Elden Ring se torna “Dark Souls 4”. Não dá para usar o Torrent dentro delas e é preciso explorar cantinhos por atalhos e caminhos ideais. A progressão fica bem mais difícil e os encontros são pensados para desafiar. Nestes locais é normal travar e ter que sair para ficar mais forte. É legal descobrir por conta própria, mas quero apenas destacar Leyndell, a cidade com a grande árvore amarela. É um marco dos jogos da From, sendo talvez o melhor design de níveis para uma área que já fizeram. Colossal e cheia de caminhos e segredos.

Enfim, há muito mais o que falar: criação de itens, o novo sistema de elixires, talvez mais sobre a história do anel pristino e como sua lore é densa, o HUB com diversos personagens interessantes, mas, de verdade, o ideal é que você descubra tudo sozinho. O jogo é ótimo, um sério concorrente a melhor do ano e, mesmo quem não curtia os Dark Souls, provavelmente se apaixonará por Elden Ring.

Conclusão

Elden Ring renova a fórmula Souls da From Software e a adição do mundo aberto combina de forma magistral com os sistemas clássicos do gênero. A estrutura escolhida para o design do mundo, a travessia e o foco na exploração acertam em cheio e fornecem uma das melhores experiências em jogos já criadas.

A dificuldade é menor que a dos três títulos da saga Dark Souls, mas ainda se mantém acima da média. Alguns problemas de performance e repetições existem, mas são minúsculos em relação ao resultado atingido. Um jogo imperdível!

Prós

  • Direção de arte belíssima
  • Combate repleto de recursos e possibilidades
  • Mundo aberto denso, cheio de segredos e muito variado
  • Explorar é sempre recompensador
  • Leyndell é uma aula de design de níveis

Contras

  • Performance inconsistente no PS5 atrapalha em vários momentos
  • Alguns subchefes e inimigos são repetidos à exaustão

Nota Provisória: 9.5/10.0

Uma cópia do jogo para PS5 foi fornecida pela Bandai Namco para a elaboração desta análise.

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