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Análise | One Piece Odyssey oferece JRPG clássico com altos e baixos

Jogos baseados em animes de sucesso costumam sofrer bastante com suas adaptações para os vídeo games. Os poucos que se salvam estão, geralmente, restritos ao gênero de luta e, na maior parte destas exceções, não conseguem fazer frente à qualidade da obra de origem. Os gamers e fãs de One Piece estão entre os que mais sofrem com essa dinâmica ao aguardarem por um jogo mais caprichado e que faça justiça a série. Com mais de 25 anos de história e além dos mil capítulos na animação e mangá, definitivamente mereciam jogos melhores.

One Piece Odyssey vem para tentar suprir essa carência e aposta no formato de RPG com uma história inédita para conquistar os jogadores. Embora consiga com folga o posto de melhor jogo da franquia, ainda tropeça em algumas frentes que deixam o jogo num patamar bem mediano e ainda aquém da saga dos piratas do chapéu de palha.

Uma jornada por memórias

A campanha de One Piece Odyssey é exigente no sentido de conhecimento do anime. Ela se passa após mais de 700 episódios da saga de Luffy e seus amigos, sem fazer nenhuma questão de explicar o background de cada personagem ou do universo em si. Portanto, é uma aventura reservada e feita mais para os fãs de carteirinha do que de fato para o público amplo.

A tripulação do chapéu de palha naufraga em um ilha misteriosa chamada Waford, onde se vê impossibilitada de sequer arrumar o icônico Sunny para voltar a navegar. Ao explorar um pouco a ilha, em um tutorial lento e repleto de interrupções, Luffy e seus amigos se deparam com os dois personagens inéditos mais importantes dessa aventura: a mística e misteriosa Lim e o imponente e poderoso Adio. Em uma batalha contra um colosso protetor da ilha, Lim retira os poderes de toda a tripulação e coloca-os em cubos mágicos, que por sua vez são espalhados por toda a ilha. Desta forma, Luffy não lembra mais como usar seus poderes e Zoro sofre para cortar com suas espadas. Isso cria a oportunidade perfeita para a jornada clássica de RPG a partir do herói de nível um, mas sem recorrer ao clichê da amnésia completa, dando um bom espaço para os roteiristas trabalharem com o extenso material original.

A premissa é bem legal e dá a impressão de que a história vai tomar rumos inesperados, mas logo se nota que a saída aqui foi a de recontar os acontecimentos do anime. Lim faz as pazes com o grupo e precisa ensiná-los a usar os tais cubos coletados. Para isso, ela os leva para vivenciar memórias do passado, revisitando quatro dos principais arcos da saga: Alabasta, Water Seven, Marineford e Dressrosa. Se por um lado é uma saída decepcionante pelo potencial inicial, por outro cria alguns momentos marcantes por tomar a liberdade de fazer algumas mudanças na história original. Os membros da tripulação sabem como esses eventos se desenrolam e que nada será mudado no mundo real, mas, ainda assim, lutam para fazer as coisas melhores do que da primeira vez. Alguns reencontros entre personagens que se foram no anime e membros do grupo são emocionantes e tornam vários momentos especiais para quem é fã do anime.

O ritmo acaba jogando um pouco contra a campanha, que chega a passar das 30 horas de duração – sem contar quase o mesmo tanto de horas para todo o conteúdo secundário. Esses arcos do passado são bem longos e contam com uma porção de vai e vem entre os mapas que, embora lineares em vários aspectos, são vastos e escondem vários segredos. Quando há o retorno para o mundo real e o conflito principal, a duração do capítulo é geralmente bem mais curta, muitas vezes resumido à uma dungeon e um pequeno avanço no mistério por trás dos acontecimentos na ilha. Some isso às resoluções previsíveis e aquela sensação constante de filler que não vai levar a lugar algum e o resultado é uma história que, além de contada de forma cansativa e pouco interessante, também nem de longe é marcante. Pelo lado positivo, tudo está localizado com legendas em português muito bem feitas, o que é sempre bem vindo para o nosso público.

Facilidade compromete a jogabilidade

O combate do jogo é feito por turnos, como se espera de um RPG japonês clássico como esse, mas os desenvolvedores me surpreenderam ao tentar criar um sistema mais original, com pequenos núcleos de combate acontecendo ao mesmo tempo em cada batalha. Funciona assim: os personagens do grupo começam a luta em posições aleatórias, em áreas com ou sem inimigos. Para atacar outra área é preciso ou limpar os inimigos da sua ou usar alguma habilidade, seja à distância ou de movimento para ir até lá. Isso cria uma dinâmica bem legal e estratégica, que infelizmente acaba minada pela facilidade do jogo.

Não há modos mais difíceis e durante as primeiras quinze horas o jogador vai passar a maioria dos combates escolhendo praticamente o mesmo ataque. Como os buffs podem ser acumulados à vontade, a maior parte dos chefes vai cair em um ou dois turnos. Com o tempo, passei apenas a evitar os combates do mundo o máximo possível, por serem previsíveis e sem nenhum desafio. Por sorte, há a opção de acelerar as animações, que duram mais do que o necessário para lutas repetitivas. Para quem ficar ainda mais entediado, dá para colocar o combate no automático e a IA irá repetir o golpe mais forte do personagem por você.

A progressão dos personagens também não ajuda. Só é possível equipar joias nos personagens para modificar os atributos, que podem ser mais ou menos raras. Várias delas são extremamente poderosas já no início e quebram o balanceamento do jogo ainda mais. Novos ataques só são aprendidos através dos cubos e melhorados à medida que mais deles são encontrados, o que deixa o progresso de níveis insignificante.

O conteúdo secundário envolve basicamente missões de entrega ou combates com algum pirata procurado. Há determinados pontos legais nesse meio, como cenas cômicas destes piratas famosos ou memórias locais que liberam ataques em grupo poderosos, mas nada muito especial.

O destaque na jogabilidade fica mesmo para a exploração. O design dos níveis é muito bem feito e cada personagem possui uma habilidade que pode ser usada pelo cenário. Luffy consegue escalar locais altos com seu corpo de borracha enquanto Zoro pode cortar caixas e portas de metal, por exemplo, dando um fator legal de replay nos mapas em busca de mais tesouros escondidos. Há ainda a possibilidade de cozinhar, criar algumas bombas e melhorar os acessórios com tudo que você encontrar bisbilhotando por aí. Tudo isso seria elevado se o combate não fosse tão fácil, deixando a sensação de ser um trabalho desnecessário.

Não relacionado diretamente com a jogabilidade, mas também um ponto alto que vale ressaltar, é a direção de arte. Os gráficos são belíssimos e as animações de combate e durante as cutscenes são muito bem feitas. Talvez a caminhada de alguns personagens seja menos trabalhada, mas é pouco para comprometer a imersão visual que é bem acima da média para jogos do gênero, especialmente com esse escopo.

Conclusão

One Piece Odyssey consegue ser o jogo mais interessante da franquia, mesmo que tenha altos e baixos tanto na jogabilidade quanto na história. O primeiro aspecto acaba minado pela facilidade do combate e pouca inspiração na progressão dos personagens, enquanto o segundo cai na mesmice de recontar arcos passados e se submeter demais ao conteúdo original da obra. No fim, é um jogo que vale a pena apenas para os fãs mais fervorosos do anime, que devem se apegar aos momentos mais legais da campanha.

Prós

  • Gráficos belíssimos e boas animações
  • Sistema de combate interessante e criativo
  • Reencontro entre personagens que se separaram no decorrer do anime

Contras

  • Facilidade exagerada compromete a maior parte da jogabilidade
  • História acaba sendo previsível e não consegue sair da sensação de filler
  • Conteúdo secundário pouco inspirado
  • Tutorial lento, longo e cheio de interrupções

Nota: 7,0/10,0

Uma cópia para PC (Steam) foi fornecida pela Bandai Namco para a elaboração desta análise.

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