Um dos maiores clássicos do PlayStation
Quando se fala da Konami hoje em dia, talvez para a maioria venha logo na cabeça aquele jogo tão falado e conhecido: Metal Gear Solid. Não se pode negar que a série do super espião Solid Snake é uma das grandes responsáveis pelo sucesso da Konami atualmente, reconhecida como uma das maiores e melhores empresas de games do Japão, mas houve uma época em que MGS era apenas mais um jogo na vasta lista de jogos que a Konami lançava, e outro título, que durante anos, tinha a responsabilidade de ser seu carro chefe: Castlevania.
Há muiiiiito tempo atrás, na época dos 8 Bits, a Konami em seus primórdios lançava vários títulos para o sistema MSX (antes de migrar para o NES) e muitos de seus títulos famosos estrearam nessa plataforma, como Metal Gear, Contra (outra série responsável pelo seu sucesso) e claro, Castlevania. Já naquela época a Konami era referência para games de boa qualidade. Com o Castlevania para MSX (com o nome de Vampire Killer), ela conseguiu seu grande trunfo, conseguindo estabelecer sua reconhecida fama.
Desde então a série ganhou vários títulos e passou pelos mais diversos consoles, recebeu no ocidente o nome de “Castlevania” pois o seu nome original, Akumajou Dracula, significa “Castelo Demoníaco de Drácula”, e esse não seria um bom título para os EUA. Então pegaram a palavra Castle (castelo) e Vania (de Transilvânia, onde segundo as lendas ficava o castelo de Drácula) e Castlevania surgiu.
Symphony of the Night
Mesmo após mais de 15 anos depois de seu lançamento, “Symphony of the Night” ainda é considerado por muitos como o melhor jogo da série de todos os tempos (sem dizer um dos melhores do PlayStation). Nem mesmo com a sua entrada para os games 3D, com os desastrosos jogos para Nintendo 64, conseguiu fazer que os fãs mudassem de ideia (coisa que a Konami só conseguiu mais recentemente com “Lords of Shadow“). O que mais se aproximou da qualidade de SOTN foi o “Aria of Sorrow“, para GBA, que é praticamente um sequência da grande obra-prima da Konami.
SOTN (no Japão conhecido como Akumajo Dracula X – Gekka no Yasokyoku, que significa “Noturno ao Luar”) marcou uma geração de jogadores da era PS. Lançado em 1997, o game era a perfeição divina que todo gamemaníaco gostaria de jogar. Apresentava visuais fantásticos e ornamentados, retratando a beleza gótica com gráficos fantásticos de uma forma nunca vista antes na série ou em qualquer outro game. E aliado a isso, ainda contava com uma soberba trilha sonora de cair o queixo, jogabilidade animalesca, a trama com muitos mistérios a serem descobertos e uma inovação e tanto na série, que desde então seguia basicamente o mesmo estilo de plataforma que foi criado desde a época do MSX, mudando agora mais para o estilo rpg/ação. SOTN foi uma revolução para a série apesar de ainda usar o saudoso estilo 2D e plataforma, numa época em que o 3D começava a dominar o mercado de videogame. Uma ousadia e tanto que só a Konami poderia levar adiante, e não deu outro: SOTN virou sucesso absoluto e foi um dos maiores hits da empresa.
A História
SOTN começa desse ponto, com Richter enfrentando Dracula em seu castelo (que é a última fase do Dracula X Rondo of Blood para PCE). Esse é apenas um prelúdio para te preparar para a verdadeira história do jogo. Ficamos sabendo que após 4 anos depois da batalha de Richter com Drácula, o caçador de vampiros desaparece, e em 1792 o castelo de Drácula reaparece. Annet, sua esposa e a mesma que já estivera nas garras do vampiro, começa a se preocupar com o repentino desaparecimento. Sua irmã mais nova, Maria Renard, valendo-se de seus poderes sobre os animais e a natureza, decide então retornar novamente ao castelo do príncipe das trevas, seguindo rumores que Richter estaria lá. É quando ela conhece um homem estranho e misterioso, de pele pálida e longos cabelos platinados. Ele dizia estar em uma missão: a de destruir a ameaça que se aproximava da humanidade. E sem saber, Maria se apaixona pelo filho de Drácula, Alucard, que certa vez já lutara ao lado dos Belmont para banir seu pai (no Castlevania 3 para Nintendinho).
Alucard, que acreditava ter destruído seu pai de uma vez por todas com a ajuda de Trevor, Sypha e Grant (todos personagens do Castlevania III para Nes), portanto acabando assim com a sua raça maldita, da qual ele pensava ser o último sobrevivente, colocou-se a hibernar em um sono eterno (o final de Castlevania III). No entanto, Alucard voltou a acordar devido a uma alteração de equilíbrio entre as forças do bem e do mal, causadas pelo conjurador Shaft (que apareceu em Dracula X e que pelo jeito sobreviveu).
Assim, tanto Alucard como Maria, lutam, cada um a seu modo, dentro do castelo de Drácula, até chegarem à terrível conclusão de que o responsável pelo ressuscitamento de Dracula não era outro senão o próprio Richter Belmont, que se auto-proclamou o senhor do castelo. Entre os seus motivos estava a ideia da incapacidade de conceber que seu destino fora selado ao vencer Drácula, e que então todos os Belmont estariam fadados a morrer passando por uma vida normal, mesmo após séculos de treinamento e preparação. Ou seja, ele planejava trazer Drácula de volta pois estava com tédio da sua vida pacata de homem casado, e sentia falta das emoções e adrenalinas de ser um caçador de vampiros, desse modo ele passaria a travar uma luta eterna contra o seu arqui-inimigo, não terminando sua vida como um mero mortal. Entretanto, por trás disso tudo estava Shaft, o conjurador que usava Richter como fachada para seu terrível plano de trazer novamente o seu senhor.
Gráficos
SOTN possui gráficos belíssimos, provando que um jogo para ter sucesso não precisa ser em 3D, como a maioria dos jogos da época (e atuais). Os cenários de fundos estão mais detalhados do que nunca e possuem uma beleza suprema, todos compostos de sprites 2D maravilhosamente ilustrados, muito detalhados e coloridos com tons sombrios. Vários efeitos de luz, scrolling e profundidade são usados de formas maravilhosas, como os efeitos usados nas magias e ataques dos inimigos, é tudo muito bem feito. A Konami fez um excelente trabalho de pesquisa ao fazer a ambientação medieval em que se passa o game, durante o século XVIII, com os cenários, as roupas dos personagens e as músicas góticas que te remetem imediatamente ao jogo e à época.
O jogo possui fases muito mais longas que os anteriores, com vários labirintos e quebra-cabeças para se resolver pelo caminho. Os elementos de RPG estão presentes, pois Alucard precisará subir de level para ficar mais forte e encontrar objetos importantes durante o jogo. Alucard passará por vários ambientes dentro do castelo como a biblioteca, a galeria de arte, as catacumbas, a capela, o coliseu e os jardins do lado de fora do castelo. Cada ambiente é ricamente detalhado e a sua presença no jogo se encaixa perfeitamente com o visual e a história do jogo, deixando o game ainda mais cativante.
Os inimigos são bem variados, com todos os tipos de zumbis e monstros imagináveis, mas quem rouba as cenas mesmo são os chefes, que estão em uma quantidade brutal se comparada aos jogos anteriores. Muito deles já clássicos da série, como a Medusa, a Morte, o Minotauro, a Múmia, o Gárgula, o Lobisomen, entre outros, todos horripilantes e prontos para lhe arrancar a cabeça. Além disso possui chefes novos, como a Scylla e o Grifo (ambos seres mitólogicos), além de apresentar as versões zumbis de Trevor Belmont, Grant Danust e Sypha Belnades, todos personagens de Castlevania 3 e Galamoth, o boss final do jogo paródia de Castlevania: “Boku wa Dracula-kun” ou “Kid Dracula” (no qual jogamos com um Alucard criança para Game Boy). Alguns chefes possuem um visual bem impressionante e ocupam boa parte da tela.
Músicas
Todos os jogos da série possuem boas trilhas sonoras, mas SOTN extrapolou, é simplesmente algo de outro mundo. Michiru Yamane se superou com esse game (seu primeiro trabalho com a série foi no jogo “Castlevania: Bloodlines“, para Mega Drive) criando verdadeiras obras-primas orquestradas com composições mais góticas do que em qualquer outro jogo da série. A música é bem variada e certamente você não vai cansar de escuta-las, todas retratando o século XVIII com perfeição. Para isso foi usado violinos, órgãos, pianos, violoncelos e vocais tipo igreja.
Todas elas são de um extremo bom gosto, algumas são sinistras, outras lentas e clássicas, para quem gosta das tecnos e dance, não se preocupem, vocês não foram esquecidos, e claro, o bom e velho rock´n roll aparece aqui para empolgar a todos, como a música do início da luta de Richter contra Drácula (a mesma de Rondo of Blood), encaixando-se perfeitamente no contexto e nas fases do jogo. Poderemos ouvir temas clássicos como o tema de Castlevania 3 e 4, o tema de Dracula X, entre outras, mas infelizmente grandes clássicos como Vampire Killer, Bloody Tears, e Beginning não se encontram (somente na versão para Saturn). Uma das poucas queixas que eu ouvi foi com a música do final, “I´m the Wind”, que é cantada e não se encaixa direito com o restante das músicas góticas. Talvez um rock melódico ficasse melhor, mas não é por isso que ela deixa de ser bela também. Algumas músicas poderiam até fazer parte de filmes de suspense/terror, algumas contam com coros de vozes, outras com sons de vozes de lamentações, sons de morcegos, água pingando e por aí vai, tudo para aumentar o suspense no jogo.
Além das músicas temos os efeitos sonoros, que também estão perfeitos. Poderemos escutar os gritos de Alucard, os gritos e urros dos monstros e dos inimigos quando morrem. O som das magias e armas também está muito bom, tudo muito bem feito e de ótima qualidade.
Temos também as vozes dos personagens, que estão excelentes (se você estiver jogando a versão japonesa) cada personagem sendo muito bem interpretado com a entonação de voz perfeita criando o clima ideal, como é o caso de Drácula, que possui uma voz poderosa, que o personagem necessita. As conversas entre os personagens está nítida e perfeita. Porém, se você estiver jogando a versão americana, poderá se decepcionar com a dublagem, que está muito fraca e muito mal interpretada. Além disso alguns diálogos foram cortados da versão japonesa, como a narração do início do jogo e uma das músicas cantadas pelas fadas.
Baixe aqui algumas MP3 do game:
1 – Prologue
4 – Draculas Castle
5 – Tower of Mist
9 – Abandoned Pit
10 – Rainbow Cemetery
11 – I´m the Wind
Jogabilidade
E tudo isso não adiantaria nada se o controle sobre o Alucard não fosse perfeito. E felizmente, como o resto do jogo, a jogabilidade é perfeita e eficiente, todos os comandos respondem muito bem. Não existem fases, mas zonas do castelo, que por vezes se encontram bloqueadas, sendo necessário certo item para abri-las e continuar em frente. A ação de SOTN não é nada linear e você poderá percorrer as zonas do castelo na ordem que desejar. Você encontrará pelo caminho lugares para salvar sua posição no jogo e que também restauram sua energia.
Enquanto você explora as longas fases, Maria aparecerá algumas vezes para lhe dar dicas importantes e até uma ajuda de vez em quando. Na versão para Saturn, além de Alucard e Richter, Maria também é selecionável para se jogar.
Além da possibilidade de usar diversas armas espalhadas pelo jogo, Alucard também poderá fazer uso de magias através de combinações de botões tal qual usados em jogos de luta. Isso, além de adicionar mais diversão e desafio ao game, trás também um “sangue novo” ao bom e velho estilo plataforma.
A dificuldade do game não está nos chefes ou inimigos e sim nos dois enormes castelos que devem ser percorridos e explorados. Jogadores que não possuam muita experiência em games de exploração podem ficar perdidos quando precisarem procurar por itens para acessar certas áreas do castelo, que possui muitos segredos e que você provavelmente não vai descobrir jogando uma única vez. Ah sim, o jogo possui 4 finais diferentes, o que vai valer muitas noites em claro para vê-las.
Chegando ao segundo castelo, que é invertido, você terá muito mais chefes, muito mais itens (os mais poderosos se encontram aqui) e várias áreas novas para explorar. Além de Alucard, você poderá jogar com Richter (depois que terminar o game uma vez), que tem uma história diferente e o sistema de jogo se assemelha e muito aos Castlevanias anteriores, deixando os elementos de RPG de lado.
Ah sim, Alucard pode ainda se transformar em morcego, lobo e neblina, todos essenciais para que se consiga avançar no jogo, tendo que usar cada um em determinados momentos, onde forem necessárias e para uma exploração melhor do castelo.
Uma pequena curiosidade que pode interessar aos fãs de J-Rock: a famosa banda japonesa de rock Malice Mizer possui uma música chamada Gekka no Yasokyoku, e no vídeo clipe dessa música, o ex-cantor da banda Gackt, aparece vestido como Alucard. Além disso, parece que no Japão foi lançado um mangá oficial de SOTN, que é fiel à história e possui desenhos maravilhosos.