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Análise | Far Cry 6 refina a jogabilidade de sempre e traz história decepcionante

Com o passar dos anos, as franquias da Ubisoft estão ficando cada vez mais previsíveis e voltadas para uma fórmula em comum. Assassin’s Creed, Ghost Recon e Far Cry são exemplos que compartilham vários sistemas e a forma de serem monetizados.

Far Cry 6 não foge dessa regra. Para quem vem jogando todos os títulos da franquia desde o 3, nada poderia ser mais familiar. Os primeiros minutos que introduzem o vilão com traços de psicopatia, a apresentação do mundo aberto gigante e dividido por regiões, além, claro, dos inúmeros pontos marcados no mapa para visitar.

La Revolución

Desta vez o protagonista é Dany, que, como nos últimos jogos da desenvolvedora francesa, pode ser do sexo masculino ou feminino. Ele vive na paradisíaca Yara, uma ilha belíssima que contrasta suas paisagens com a tirania e sangue derramados por Antón Castillo, vilão interpretado pelo ítalo-americano Giancarlo Esposito, famoso por fazer vilões cruéis e frios em séries de TV, como Breaking Bad.

Dany não começa como um revolucionário que vai libertar sua ilha das garras do ditador, pelo contrário, é apresentado como alguém que quer apenas deixar os problemas da ilha para trás e se aventurar pelo sonho americano nos Estados Unidos. Mesmo tendo um passado militar que justifica as suas habilidades táticas e assassinas, é apenas depois de ter os amigos afetados por esse inimigo que ele escolheu ignorar, que o herói dentro dele desperta para o seu potencial.

Por essa descrição você, leitor, já deve ter sacado a inspiração para a história. Tudo que experienciei durante as mais de 50 horas neste mundo remete à revolução cubana e discorre sobre temas espinhosos como imperialismo, racismo, guerra de classes, socialismo e capitalismo. Ao mesmo tempo, tenta fazer paralelos com situações atuais, dando protagonismo aos jovens mais modernos no papel de lutar contra os soldados opressores. Com isso aborda temas como preconceitos de gênero, misoginia e outros assuntos que tomam as redes sociais diariamente.

Como se espera dos jogos da Ubisoft, toda essa gasolina de polêmicas só perfuma o ambiente durante toda a jornada, mas nunca pega fogo de verdade. O medo de se aprofundar nos temas é menor do que em Far Cry 5, por exemplo, mas ainda não deixa passar de uma camada mais fina de profundidade.

Na hora que a coisa esquenta mesmo, o jogo acaba apostando em representações caricatas, corre da moralidade cinza, faz seus personagens serem personificações planas do bem e do mal e não utiliza discussões no ar vindas da sua própria narrativa, restando somente polêmicas vazias.

A grande decepção para mim foi justamente o vilão Antón Castillo. Imponente nos primeiros minutos de jogo, ele a partir daí parece frágil e vulnerável diante de jovens que parecem ter acabado de sair da última thread na rede social americana para revolucionar sua história com as armas de fogo que abominam. O foco na relação com o filho mostra algumas facetas podres do ditador, mas em nenhum momento há aquela sensação de perigo constante, elemento famoso da série.

Alguns momentos dão um lampejo de esperança na jornada, mas a sensação de pé no acelerador que surge de repente sempre estraga tudo. Personagens legais são desperdiçados e muitas conexões e descartes não fazem sentido. Não há muito o que absorver da campanha, seja lá qual a sua visão de mundo.

Quando os créditos finalmente subiram, a minha impressão é que este Far Cry conta com a pior campanha e vilão da série desde que assumiu o formato atual no terceiro jogo.

Jogabilidade refinada como nunca

Se repetir a fórmula da jogabilidade pode deixar a repetição cansativa, ao menos garante um refinamento cada vez melhor dos seus sistemas. Tomar pontos de controle e correr por terra, céu e mar com diversos veículos continua divertido e vai viciar nas primeiras horas.

Dentre as novidades que chamam a atenção estão as armas especiais, chamadas de Supremos, e as armas construídas de sucata, cada uma com efeitos bem legais e distintos, permitindo uma customização de estilo de jogo que é difícil de encontrar em outros jogos. Você deve ter visto a mochila que dispara mísseis e a arma que atira CDs enquanto toca Macarena, mas acredite, há muito mais.

Além disso, os modos de jogo extras, como a infame rinha de galos, adicionam várias atividades secundárias que tomam seu tempo na ilha prazeroso. Pesca, caça e corridas são os elementos tradicionais que completam o pacote. Uma pena que a caça tenha perdido muitas funções e agora serve apenas para fazer alimentos que dão efeitos simples e não mais melhoram os seus equipamentos.

Aliás, a progressão do personagem agora ficou toda descentralizada. Não tem mais uma árvore de habilidades repleta de melhorias para ir desbloqueando por nível. Em vez disso há roupas com habilidades únicas e mais variação dos efeitos das armas. Todo o resto já vem de fábrica com o protagonista.

Embora pareça que tenham tirado os elementos de RPG, na verdade eles são mais intensos que no Far Cry 5. Ainda há um sistema de patente que funciona como níveis e vai deixando Dany mais poderoso nos atributos. Os inimigos contam com armas e armaduras diferentes que tem vantages e desvantagens contra cada tipo de dano no jogo. Para dominar tudo que é servido no Far Cry 6, é preciso trocar constantemente seu equipamento para ter sucesso contra todos os tipos de inimigos.

Como o mapa continua enorme, mesmo que pareça menos abarrotado de coisas inúteis para fazer que os anteriores, a experiência ainda é cansativa e mesmo jogabilidade divertida não segura. São três regiões no total, cada uma com um líder para derrubar e uma linha própria na narrativa. As paisagens para explorar são legais e variam bastante, mas com inimigos extremamente desprovidos de inteligência e uma falta de desafio que deixa as investidas bem sem graça. Após as primeiras 10 horas de jogo eu já estava querendo acabar com minha aventura.

Conclusão

Far Cry 6 repete a fórmula dos seus antecessores, mas refina tudo que é conhecido por fazer bem. Atirar é divertido, as novas armas são legais, o conteúdo novo é legal e Yara é bela! No entanto, como em todo jogo recente da Ubi, o escopo é grande demais, as ideias muito superficiais e o resultado bastante cansativo.

A história é o ponto mais fraco desse novo capítulo e o aclamado Giancarlo Esposito foi desperdiçado no papel do vilão mais frágil da franquia. Sem muito o que absorver, é esquecível como todo o resto do jogo.

Prós

  • Yara é bela e retrata bem as paisagens do caribe
  • A jogabilidade é divertida e refinada, mesmo sendo mais do mesmo
  • Rinha de galos é um dos melhores mini games do ano

Contras

  • Repetição do ciclo de invadir bases cansa bastante
  • História esquecível, superficial e com diálogos que não convencem
  • Pior vilão da franquia

Nota: 7.5/10.0

Uma cópia do jogo para PS5 foi fornecida pela Ubisoft para a elaboração desta análise

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