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Sense8 – Evolução humana, filosofia, sensações e diversidade | Análise

Sense8 - Foto 01

Estreou algumas semanas atrás no Netflix mais uma série exclusiva do serviço de Streaming. Sense8 (ou Sensate) é uma série idealizada pelos Irmãos Wachovski, e caso você não tenha morado numa caverna nos últimos 15 anos, deve ter visto, ou ouvido falar, da série Matrix.

A série Matrix foi o primeiro trabalho dos irmãos, que trouxe inovação no campo dos efeitos visuais, e boas pitadas de filosofia e referências da cultura pop, trazendo um mundo onde as pessoas viviam dentro de uma realidade virtual e que serviam de alimento para as máquinas. Depois, os Irmãos sumiram, e apenas recentemente que eles voltaram aos holofotes, com o filme “O Destino de Júpiter” e a série de TV/Web Sense8.

Basicamente, eles decidiram inserir uma pitada de evolução humana com diversidade e sensações humanas. A plot da série é, de certa forma, pincelada no episódio inicial: com uma depressão profunda e sofrendo, a personagem “Angélica” (vivida por Daryl Hannah) praticamente “ativa” os poderes de Sensate para 8 pessoas espalhadas pelo mundo, e após isto ela é encontrada por um homem, que tenta impedir ela de se matar, mas não consegue. Praticamente definiu quem é o vilão da série, mas a série é, de certa forma, não sobre ele.

Com o “sensate” ativado, os primeiros episódios praticamente mostram a vida de cada um deles. Aqui entra a diversidade cultural, religiosa e sexual dos protagonistas. Temos o motorista que mora no Quenia, mas que tem problemas financeiros e tem de conseguir remédios para a mãe, que sofre AIDS; o ator que tem um segredo que pode acabar com a própria carreira; a transexual que, apesar de não ter uma plot específica de início, posteriormente começa a ter diversos acontecimentos complicados (além de sofrer preconceito da família); a coreana que trabalha numa empresa financeira, mas que tem conhecimentos de artes marciais; o aspirante a gangster que quer provar algo para si mesmo; a indiana que está com casamento marcado, mas ainda está em dúvidas se é isso mesmo que ela quer, o policial de Chicago e a DJ que mora em Londres, mas que tem diversas reviravoltas durante a trama.

8 pessoas, 8 pessoas com estórias completamente diferentes e distintas, com religiões diferentes e opções sexuais diferentes. Enquanto que a série vai ambientado os personagens, aos poucos estas pessoas começam a “sentir” sensações distintas, compartilhando sensações e visões, como se ela tivesse sido transportada em tempo real para perto da outra pessoa. Nessa doidera toda tem o personagem de Naveen Andrews (o Said, de Lost), que está atrás deles para cumprir o último pedido de Angélica, que é proteger eles do tal “vilão” que aparece no começo da série.

Sense8 - Naveen Andrews and Daryl Hannah

Cada episódio tem praticamente uma plot específica, e quando os personagens começam a sentir os outros, tudo foi ambientado de maneira crível quanto a horas, fuso-horário e mesmo as sensações, obedecendo a plot e tendo praticamente os mesmos problemas e questionamentos.

Fora que uma hora tem uma música famosa de fundo e todo mundo está com ela na cabeça. Outra hora é alguém estar numa enrascada e outro “aparece” para ajudar naquele momento. A questão da sobrevivência, que começa a ficar cada vez mais evidente nos episódios mais avançados da série.

É difícil não comentar spoilers da série, mas ela tem diversos momentos maneiros e outros nem tanto. Por ser uma série praticamente fechada e voltada para o Netflix, ela foi feita para assistir em formato de “maratona”, onde o espectador senta e assiste diversos episódios em sequência. A série também aplica diversos conceitos filosóficos, apesar de que até mesmo para muita gente a filosofia é algo difícil de entender e compreender (inclusive pra mim), mas depois que você começa a ler sobre isso, você começa a encaixar acontecimentos da série com conceitos filosóficos.

Por exemplo conceitos como a interação entre as pessoas, a busca pela felicidade, a religiosidade e crenças dos indivíduos e a própria evolução humana, por conta de compartilhar sensações e às vezes pensamentos em pessoas que estão a milhares de quilômetros de distância. Aos olhos de um espectador é ver a pessoa executar ações sem nexo nenhum. Por exemplo um beijo de um casal, onde uma terceira pessoa que encontre na cena acabe vendo apenas uma delas, beijando o “vazio”, e já imaginando que a outra pessoa esteja pirando de vez.

Sense8 - Conversa

Agora um detalhe que me deixou um pouco incomodado é na “naturalidade” que os sensate tem ao interagir uns com os outros. No começo teve uma estranheza, mas depois isso praticamente se tornou uma naturalidade, fora a rapidez de você reagir a situações extremas, sem questionar muito a própria lucidez. Claro que algumas vezes uma simples expressão acaba ajudando, mas depois isso foi deixado praticamente de lado.

Agora um detalhe sensacional da série é na edição. Por conta deles compartilharem sensações e interações, o foco e a ambientação das cenas muda. Uma hora você tem uma caminhada entre 2 personagens, e o cenário vai mudando, tendo, em um determinado momento, estar em um local, depois estar em outro, e ficar alternando. Mas apesar de ser um conceito maneiro, também causa uma certa confusão, pois também muda radicalmente as posições espaciais dos indivíduos. Acho que uma pessoa comum piraria facilmente ao trocar de perspectiva do nada, “visitando” outra localidade e depois voltando aonde estava, mas com a visita do interlocutor.

Sense8 - Sun - Coreana

De maneira geral a série é razoável, e para quem tem o Netflix e não tem muito o que assistir, você pode pegar e assistir diversos episódios. Claro que a série demora bastante pra engrenar, e se você for daqueles que avaliam uma série só pelo primeiro episódio, você ficará meio perdido e pode nem querer acompanhar tudo. Mais a partir do terceiro e quarto episódios que começa a ficar melhor, mas apesar deles terem explorado bastante todas as plots e desdobramentos dos personagens ao redor (e de outras pessoas próximas), ao terminar de ver a temporada percebi que nem todas as plots foram muito exploradas individualmente. Caso a série tenha uma nova temporada e continue o enredo atual, será interessante ver os desdobramentos futuros de cada pessoa, por conta do final aberto e deles não tem mostrado o final dos enredos de todo mundo.

Rodrigo Flausino

Editor de conteúdo do GameHall e do Select Game e desenvolvedor de softwares nas horas vagas. Meio ranzinza de vez em quando, mas é gente boa. Vivia reclamando. Gamer quase hardcore. Tem um PS3, um PlayStation 4 e um PC razoável que roda a maioria dos games atuais!

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