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A relevância da Nintendo na indústria dos games

por Rafael Marques do Game Sênior 

O presidente da Nintendo, Satoru Iwata, veio a público anunciar uma drástica redução das expectativas de venda de ambos os produtos da empresa, porém o maior corte veio em relação ao Wii U que possuía uma projeção alardeada por ele em chegar a 9 milhões de unidades vendidas apenas no ano fiscal de 2013 (termina em 31 de março de 2014) e agora tem 2,8 milhões como projeção, totalizando uma queda de mais de 70% do prometido a investidores e acionistas.

O Nintendo 3DS mesmo sendo um sucesso de crítica e de jogos não escapou da redução, que tinha como meta atingir 18 milhões de portáteis vendidos e agora reduziu esse número para 13,5 milhões de unidades. Esse anuncio repercutiu no mundo todo de forma negativa, trazendo uma severa queda no valor das ações da Big N no mercado especulatório, muitos investidores, acionistas e especialistas encorajam a Nintendo a abrir horizontes lançando seus produtos em outras mídias (leia-se smartphones), porém Iwata em seu pronunciamento rechaçou essa possibilidade a curto prazo, dizendo que isso não “salvaria” a empresa do tal prejuízo. O que mais chama a atenção é que pelo terceiro ano consecutivo a empresa de Kyoto fechará no vermelho, as perdas esperadas chegam na casa dos U$$335,76 milhões de dólares, tendo o Wii U como a grande causa desse rombo.

Em meio a essa onda de “más noticias” para a Nintendo, faço um paralelo da indústria de antes, onde vivíamos numa época em que tínhamos basicamente duas escolhas, ou você ia de Sega ou Nintendo, as duas empresas protagonizaram a dita “maior guerra das gerações” envolvendo o Mega Drive e o Super Nes, onde ambas se valeram do que tinham de melhor para atrair os consumidores. Analisando o embate 20 anos mais tarde, posso observar que ambas possuíam sua cartela de jogos exclusivos e isso era mais que suficiente para que os gamers da época optassem por uma em detrimento da outra (poucas pessoas tinham condições de ter os dois em casa, geralmente era necessário escolher e essa escolha se baseava nos jogos), a Sega por sua única e exclusiva culpa “meteu” os pés pelas mãos em planejamentos falhos no decorrer dos anos e das gerações seguintes que culminaram na sua retirada do mercado de hardwares de videogames no inicio dos anos 2000. Entretanto, a Nintendo mesmo cometendo erros igualmente fatais de planejamento (cartuchos do Nintendo 64), conseguiu se manter competitiva no mercado graças ao seu portátil GameBoy e a franquia Pokemon especificamente, que seguraram a onda nas gerações do Nintendo 64 e principalmente do GameCube, onde as vendas foram muito menores que nas gerações anteriores.

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Muitos argumentarão que nesses anos de maré baixa a empresa nunca fechou um ano fiscal no vermelho, mas a discussão que proponho aqui é de entender onde a Nintendo deixou de ser relevante para os gamers de uma forma geral e de público também. As franquias principais conseguiram manter a Nintendo viva, porém cada vez mais com um público mais restrito.

A Sony na época conseguiu aliar um planejamento exemplar, onde ela dava possibilidades quase irrecusáveis às third-parties que começaram a desenvolver quase que exclusivamente para o PlayStation. Observo que as crianças que cresceram jogando Sega e Nintendo, se valeram da escolha e escolheram o PlayStation como sua plataforma de games e com isso a própria Sony possibilitou o amadurecimento da indústria, criando um console com jogos tidos como maduros, ou seja, as softhouses tiveram a liberdade de ousar no conteúdo dos games, antes a Nintendo sempre determinava através de censuras alguma temática mais controversa, algo que a Sony conseguiu extinguir criando assim o amadurecimento da indústria como um todo.

Mas nem todos os jogadores precisavam desse amadurecimento, e as crianças dessa época, o que elas jogariam, já que entender enredos mais complexos seria um pouco demais para a idade em questão? – Imagino que a Nintendo acabou sendo o lar desse público com suas franquias voltadas a imaginação e a fantasia. Isso se tornou um processo natural, onde o próprio mercado definiu a Nintendo e seus jogos como “jogos de crianças”. Os jovens que cresceram e que eram fãs continuavam a comprar os produtos da Big N, mas era evidente que a ampla maioria havia migrado para a concorrência.

A Nintendo entendeu que não poderia mais competir com a Sony de forma direta na corrida tecnológica (os custos aumentavam de forma proibitiva) e dentro das possibilidades ela lançou mão de uma última cartada, ou duas no caso, o Nintendo DS que viria com uma proposta de duas telas, sendo uma delas táteis como inovação a jogabilidade, mesmo sem um poder de hardware a altura para enfrentar o monstruoso PSP que possuía uma expectativa enorme antes do lançamento e o Nintendo Wii que vinha como opção clara de ser o segundo console dos gamers da 7º geração. O planejamento não poderia ter dado mais certo, pois o Nintendo DS conseguiu manter a relevância da Nintendo nos portáteis, levando o portátil ao recorde de vendas com jogos clássicos e cultuados e o Nintendo Wii com sua inovação nos sensores de movimento que acabou trazendo ao universo gamer muitos curiosos (os ditos jogadores casuais) ao mercado dos games, com jogos educativos, jogos de dança, jogos de ginástica, jogos de treinamento cerebral,  entre outras atividades que funcionavam muito bem para a proposta de ser o segundo console dos gamers que queriam jogar as franquias clássicas e a grande opção dos não gamers que buscavam games simples e divertidos fugindo da “complexidade” dos concorrentes.

O tempo passou e chegamos a mais uma geração de consoles. A Nintendo mais uma vez optou por criar um mecanismo que inovasse na jogabilidade, a exemplo do que ela conseguiu com o Wii Remote, a ideia pode ser questionável e foi muito na época da apresentação, mas possuía grande expectativa antes do seu lançamento devido à expectativa do poder de hardware. Com isso, o controle denominado GamePad veio como a grande cartada da Nintendo em relação às concorrentes, trazendo um hardware de poder modesto equiparável a geração atual apenas. Somando a isso, o planejamento adotado para “vender” o novo console não foi dos melhores, e o Nintendo Wii U  amarga uma fase de baixas vendas e muitas criticas em relação a sua longevidade. Muitos jogos alardeados foram cancelados e muitos projetos atuais nem foram cotados para sair no novo console da Nintendo. O que não poderia ficar pior ficou, pois com os lançamentos do Playstation 4 e XboxOne o que se viu foi a rápida penetração com que esses consoles chegaram ao público gamer, ou seja, simplesmente o marasmo das vendas do Nintendo WiiU eram uma resposta do público ao console diretamente que não agradou os entusiastas e nem despertou o interesse dos casuais.

Cresci jogando Nintendo e posso me considerar um velho nintendista, mas consigo enxergar alguns erros na criação e na divulgação do Nintendo WiiU, muitos acreditam que o console se trata de um add-on (um acessório do Nintendo Wii) e assim se afasta o interesse do público casual que levou o Wii as alturas, mas, mesmo assim, é possível analisar que o apelo dos sensores de movimento na época causou um grande furor em busca do Wii, colocando o assim recém-chegado console da Nintendo na “boca do povo” como era na geração 16 bits, muitas pessoas esqueceram o PlayStation como sinônimo de videogame e colocaram um console da Nintendo novamente neste posto, mas o Wii U não manteve e  nem manterá a fama de seu predecessor.

Deixo agora algumas pontuações para a discussão.

Para a Nintendo restou se vangloriar de sua alta capacidade em criar jogos cativantes ou ainda se pode esperar uma nova revolução em termos de hardware diante do eminente fracasso de vendas do Wii U? – Percebo que nessa geração ela irá se arrastar buscando um milagre a exemplo do que ela conseguiu com o Nintendo 3DS, mas o grande problema é que o PSVita também vem mal, o que não é caso do PS4 e do X1, ou seja, conseguir seu espaço em meio ao sucesso inicial dos concorrentes será muito difícil e pode definir o futuro da Nintendo como fabricante de hardware.

Os ditos hardcore gamers acusam a Nintendo de não ousar e sempre manter seus jogos principais em suas franquias mais famosas (leia-se Mario, Zelda e Metroid) e sempre “da mesma forma”, em detrimento de outras franquias do passado que parecem permanecer esquecidas no limbo. A fama que a Nintendo atraiu será difícil de extinguir e percebo que ela terá que voltar a lutar pelo mercado dos jogadores casuais para sobreviver criando jogos com esse apelo as massas.

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Aos que criticam os jogos tidos como infantis ou “mais do mesmo”, deixo uma reflexão pessoal de um mundo onde não existisse a Nintendo e suas criações maravilhosas para ser uma contraparte ao modelo de indústria existente, onde eu acredito que ela consiga suprir um mercado que carece da sua proposta mantendo os casuais, as crianças com jogos mais simples e a sua base de fãs com seus jogos a exemplo recente do Super Mario 3D World que denota de qualidade primorosa em sua concepção de jogo, vindo num futuro próximo Mario Kart 8 e Super Smash Bros prometendo qualidade ímpar.

Os jogadores que optarem por outros gêneros de jogo e temática possuem a opção da Sony e da Microsoft (ambos se valem dos mesmos jogos, se diferenciando os exclusivos e os serviços online que cada empresa dispõe aos usuários) com jogos naturalmente com teor mais adulto, mas que a mim especificamente não “mexe” como os jogos da Nintendo e não por isso me sinto menos jogador que os outros, nisso precisamos tomar cuidado, pois o desafio existe desde um Super Mario até um The Last of Us, tudo depende daquilo que você se propõe a fazer como jogador dentro do jogo, cumprindo os desafios e objetivos propostos.

Diante do expressivo número de vendas (ou a falta dele), é possível a Nintendo reverter esse quadro terrível para o seu console de mesa? – ou já devemos nos preparar para o inevitável anúncio “Mario only PS4” num futuro próximo? – são questões inquietantes que me deixam realmente triste, lá trás por ter visto a Sega nessa situação (lembro até hoje quando vi na capa da SGP que a Sega se retiraria do mercado) e agora a eminente decisão que a Nintendo terá que tomar para não sumir de vez do mercado. Estou exagerando, mas o tema “ser relevante” é justamente isso, ela pode ter grana em caixa, mas não ser mais relevante.

Logo, quero finalizar ressaltando a importância dessa empresa para a indústria de uma forma geral, cada um de nós (ou pelo menos metade) cresceu jogando algo da Nintendo e agora queremos mais, certo? – Muitas pessoas sim, diria que até a maioria, e estão certas em buscar seu gênero de jogos favoritos em outro console, caso vejam as franquias da Nintendo como sendo infantis ou irrelevantes, mas outros (eu me incluo) preferem também continuar seguindo os jogos da Nintendo sem desmerecer de forma alguma os outros, cada um com seu gosto e seus jogos favoritos. A Nintendo não pode morrer e eu espero que ela esteja sempre viva trazendo games fantásticos para nós, os seus fãs.

Sammy Anderson

Fundador do GameHall e produtor do programa Versus.

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