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Análise | Star Ocean: The Second Story R é aula de como fazer remake

O período de gerações entre o Super Nintendo e o PlayStation 2 é considerado por muitos como a era de ouro dos RPGs japoneses. Estúdios como a Square e a Enix, na época ainda empresas separadas, lançaram neste intervalo algumas de suas obras mais cultuadas e também diversas séries experimentais que tiveram algum sucesso, como o caso de Star Ocean.

Second Story é o segundo jogo da franquia e foi o primeiro deles a ser lançado fora do Japão, no glorioso PS1. Na época, foi desenvolvido pela Tri Ace e publicado pela Enix. Amado pelos fãs, chegou a receber um relançamento já bem legal também no PSP. Agora é a vez de um remake completo, desenvolvido pela Gemdrops para a Square Enix e, para alegria dos fãs, se trata de uma verdadeira aula de como se tratar um clássico atemporal e fazer adaptações precisas para os tempos modernos sem manchar a essência original.

Jornada interplanetária

Apesar de Second Story ser o segundo jogo da série, não é preciso jogar o primeiro para entender o que rola na aventura. A campanha narra a história de dois personagens principais: Cloude C. Kenny e Rana Lanford. O garoto é um terráqueo filho de um general famoso e busca meios de sair da sombra do pai. Já Rana é uma garota misteriosa do planeta Expel, um local que ainda não tem tecnologia para explorar o espaço e sequer sabe que há vida fora de seus limites. O detalhe é que ela tem a capacidade de curar os outros com uma magia que nenhum outro nascido ali já teve.

E a partir daí começa uma das coisas mais legais de Second Story: a capacidade do jogador de moldar a narrativa com suas ações. Já na escolha entre quem controlar como protagonista há uma mudança substancial na história, já que em momentos chave Cloude e Rana se separam por vezes e o jogador só acompanha quem ele escolheu como principal. Mas isso é só o começo, uma vez que há mais de uma dezena de companheiros para recrutar, mas só dá para escolher oito por campanha. Dependendo destas escolhas durante a jornada e do nível de amizade criado com esses companheiros, o número de finais passa de 80 variações. Ou seja, o fator replay aqui é imenso para um jogo que, só no conteúdo de campanha, passa das 40 horas, chegando a muito mais do que isso com o secundário.

A história não é mirabolante e até peca pelo simplismo por vezes. Há certos exageros nos clichês de anime, incluindo alguns já datados pelas décadas, mas, no geral, é divertida e cumpre bem o seu papel. O primeiro ato deixa o jogo muito parecido com um RPG japonês padrão, voltado para a fantasia medieval por conta da falta de tecnologia de Expel, mas logo desenrola para algo bem mais grandioso e experimental, com cidades futuristas, clã de vilões espaciais e muita conspiração.

Remake impecável

Levando em conta o que o Remake faz de certo e errado, fica impossível não constatar que o objetivo foi atingido com muita maestria. A começar pelos visuais, a Gemdrops fez um mix incrível do estilo de arte HD-2D da Square – aquele de Octopath Traveler – com cenários 3D belíssimos, uma dinâmica vista no original mas com muito mais detalhes com a tecnologia disponível atualmente. O melhor é que nada da essência é perdida, pelo contrário. As animações são melhores, mas fiéis, com o estilo pixel art encantando e cada novo local enchendo os olhos de alguma forma.

Nos menus o trabalho é ainda mais impressionante. Um dos grandes trunfos de Star Ocean: Second Story é seu sistema de habilidades, que permite customizar seus personagens para terem perícias como escrever um livro, criar músicas, domar habilidades, fazer alquimia e muito, mas muito mais. A parte triste era a navegação por todos esses menus para executar as ações e melhorar os níveis de habilidade, que agora foram resolvidos com simplicidade e eficiência na usabilidade sem deteriorar a experiência visual, sendo possível, inclusive, escolher quais as artes dos personagens nessa hora, se as originais, da versão do PSP ou as novas – que são belíssimas por sinal.

O combate também foi refinado ao extremo. Em tempo real e ainda muito sólido, com animações não só muito mais bonitas, especialmente das magias, como também encurtadas em tempo para não minar a paciência do jogador em casos extremos. Na versão original, por exemplo, magos tinham animações que paravam a batalha para algumas magias, muitas vezes bem demorada e repetitiva, algo que não se repete mais aqui. Há um novo sistema que permite chamar os aliados que não estão no grupo principal para que ataquem de tempos em tempos e também um círculo que coleta energia para garantir bônus de acordo com a formação escolhida para o grupo.

O mundo aberto também está incrível e cheio de novidades. Muito maior que as cidades, era difícil navegar e explorar tudo no original por conta da quantidade de batalhas aleatórias. Agora é possível ver os inimigos e escolher lutar ou tentar passar correndo. Inimigos muito fracos, inclusive, ficam de cor diferente e sequer perseguem o jogador. Além disso, há também novas atividades, como pescar em qualquer lago, enfrentar monstros especiais secretos, encontrar tesouros escondidos e ainda buscar pontos de interesse que contam algo da região e dão uma baita experiência para os personagens.

E ainda tem as melhorias de qualidade de vida, como dizem, que facilitam muito a jornada. É possível dar teletransporte agora para praticamente qualquer ponto chave de cidades e masmorras. Além disso, todos os eventos estão marcados no mapa, algo que no original não existia e fazia todo mundo ficar louco ao perder um deles com duração temporária. O modo New Game Plus, que permite jogar com o outro protagonista e escolher um novo grupo de aliados, também é destaque.

É tanta coisa que fica difícil citar tudo. Há tutoriais novos que são bem mais acessíveis, um novo sistema de guilda que dá missões para usar o fantástico sistema de criação de armas e itens, e muito mais. O principal ponto negativo é que todas essas novidades deixaram o jogo um pouco desbalanceado, especialmente para jogadores veteranos. Com a possibilidade de criar armas poderosas rapidamente e ganhar mais experiência, é possível deixar o jogo muito fácil já nas primeiras horas de jogo. Para alguns vai ser um ponto positivo, já que é legal buscar táticas para te deixar super poderoso, mas para outros vai acabar deixando a jornada sem desafio. Por via das dúvidas, não tenha medo de começar nas dificuldades mais altas.

Conclusão

Star Ocean: The Second Story R acerta em quase tudo e entrega uma experiência superior à original e com a mesma essência. Animações, gráficos, jogabilidade e usabilidade, tudo foi melhorado de alguma forma para entregar uma RPG de boa qualidade. Fãs do gênero e da franquia têm obrigação de dar uma chance.

Prós

  • Adições em todas as frentes entregam jogabilidade mais fluida e atual
  • Gráficos belíssimos que honram a estética original
  • Mundo cheio de novidades para explorar, como pesca e pontos de interesse
  • Sistema de criação de itens e habilidades continua incrível

Contras

  • Jornada fica muito fácil com as novidades no modo normal
  • História simples pode não fisgar novatos

Nota: 8,0/10,0

Uma cópia do jogo para PC (Steam) foi fornecida pela Square Enix para a elaboração desta análise.

 

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