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Ninja Gaiden 3: Razor´s Edge

O formal e tardio pedido de desculpas da Team Ninja ao fã de Hayabusa.

Lançado em 2012 para Playstation 3 e Xbox 360, “Ninja Gaiden 3” fez os fãs mais ardorosos da franquia entrarem em um fervoroso círculo de decepção e ódio sem igual. O mal concebido game obteve médias ridículas nas análises de sites especializados, não passando também pelo crivo dos exigentes fãs. Pior que isso, o game conseguiu também não angariar novos fãs, não agradando a ninguém no final das contas. Dentre as principais reclamações, as de que o game era muito fácil, a história muito idiota, o conteúdo pífio do game e o gameplay muito impreciso e que favorecia o “mash-button”, estavam no topo de todas as listas.

Visando apagar a má imagem deixada por Ninja Gaiden 3, a Tecmo e o Team Ninja reformularam muito do que já estava pronto para o lançamento do game para o WiiU. Tantas foram as reformulações que mesmo o nome do game foi alterado, ganhando o subtítulo “Razor´s Edge”. Basicamente era uma versão “Sigma” do game.

Como em muitos dos casos de exclusividade de games para o WiiU, Ninja Gaiden 3: Razor´s Edge no ano de 2013 perde sua exclusividade para com o console da Nintendo e ganha versões para PS3 e X360.

Se Razor´s Edge consegue fazer jus ao nome que carrega e se consegue apagar a péssima impressão que o Ninja Gaiden 3 “original” deixou é o que veremos ao longo dessa análise.

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A primeira, mais necessária e mais importante melhoria de Razor´s Edge é seu gameplay. Desde que a Team Ninja revitalizou a série no Xbox, nenhum fator jamais teve maior importância.

Os upgrades de armas, Ninpos (magias) e habilidades voltaram à série, fazendo que com jogar Razor´s Edge seja uma experiência evolutiva. Cada nova arma e cada Ninpo possuem níveis de upgrades que liberam novos combos e/ou aumentam os danos causados. É possível também aprender novas habilidades que independem da arma selecionada, mas tão somente do personagem.

Por falar em armas, a lista de seleção se ampliou, dando ao jogador uma lista de cinco diferentes armas para escolha (Lunar Staff, seja bem vinda!). Com relação aos Ninpos, são três, sendo o “Ultimate Inferno”, Ninpo único do game lançado em 2012, a última evolução do Ninpo Inferno.

Aumentou também a lista de personagens à escolha. Seguindo o modo de história joga-se em 85% do tempo com Hayabusa e o restante com Ayane. Nos outros modos é possível selecionar ainda Momiji e pela primeira vez na série Ninja Gaiden, Kasumi. Todas as Kunoiches (feminino de Ninja para quem não sabe) possuem somente uma arma e um Ninpo a escolha, mas possuem também upgrades para suas armas e Ninpos, bem como ganham novas habilidades de batalha.

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No game de 2012 era impossível saber ao certo em que momento o Steel on Bones (que será tratado ao longo dessa análise como SOB) seria aplicado, o que deixava o game muito randômico nessa questão. Ademais, Ninja Gaiden 3 era absurdamente fácil em seu modo campanha, pelo menos aos já iniciados a série, motivo esse de muita decepção.

Razor´s Edge resolve esses dois problemas. Agora o SOB é parte chave da estratégia do game. Sempre que um inimigo tentar lhe aplicar um throw move sua arma emitirá um brilho vermelho. Nesse momento, na pequena janela que antecede a aplicação do golpe do inimigo, ou (em alguns casos) na pequena janela que a precede, basta pressionar o botão referente ao “ataque forte” para aplicar um SOB. O tempo de execução deve ser perfeito. Dependendo do nível da arma que o jogador esteja usando é possível eliminar quatro inimigos de uma só vez com o SOB, fora o efeito de sangue e pedaços humanos voando pela tela, o que é sempre bem-vindo. Sim, Razor´s Edge volta com a sanguinolência e desmembramentos que Ninja Gaiden 2 para Xbox continha, mas elevados à décima potência. Um inimigo com um membro decepado, mas ainda não morto, tem maiores chances de tentar executar um throw move, isso permite controlar bem quando executar um SOB para dilacerar vários inimigos da tela com um só movimento. Controlar o posicionamento de um grupo de inimigos, se aproveitando de um com um membro decepado, para aplicar um SOB na hora certa é mais do que fundamental para se dar bem nos modos mais difíceis de jogo.

Falando em dificuldade, Ninja Gaiden 3: Razor´s Edge volta a ser verdadeiramente difícil em seu modo de campanha. Estão de volta todos os modos de dificuldade que o Ninja Gaiden 3 “original” trazia, entretanto os inimigos agora estão muito mais agressivos e causam maior dano. Ademais, não se começa mais o game com todas as habilidades que Hayabusa pode possuir, assim sendo, o começo do game, antes extremamente fácil, pode tornar-se problemático em níveis mais difíceis de jogo.

O modo Hero é dispensável e continua a defender automaticamente quando o life de Hayabusa está abaixo de 25% do total. Se jogar nessa dificuldade, “shame on you!”. O modo Normal é o recomendado para quem está iniciando sua vida de na série, pois apresenta dificuldade equilibrada. O modo Hard, para quem está começando e bateu o modo Normal pode começar a apresentar alguma dificuldade maior ao jogador, mas não serve nem de cócegas para o já iniciado à franquia.

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Finalizando um dos modos citados, é disponibilizado o Master Ninja. Aqui sim a coisa começa a ficar difícil e divertida, afinal de contas o fã de Ninja Gaiden é masoquista e gosta mesmo é de frustração e dificuldade hardcore. Batendo o modo Master Ninja é disponibilizado o modo Ultimate Ninja, modo mais difícil e insano de Razor´s Edge.

Apesar de a alta dificuldade ter voltado é inegável afirmar que esse é o game mais fácil da série, mas isso não quer dizer, nem de perto, que é um game acessível a todo tipo de jogador. Especialmente nos dois modos mais difíceis de jogo.

Outro atrativo que retornou a série são os colecionáveis. Ao todo podem ser encontrados 50 Escaravelhos Dourados e 10 Caveiras de Cristal.

Os Escaravelhos dão, cada um, o total de 5000 pontos de Karma, que é a “moeda de troca” do game para comprar os upgrades para armas, Ninpos e habilidades já mencionados. Uma vez coletados, podem ser pegos novamente quando a fase for revisitada, mas se tornarão prateados. A cada quantidade pega, enquanto dourados, habilidades diferentes são liberadas para compra, bem como roupas diferentes para Hayabusa e Ayane.

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As Caveiras de Cristal são 10 ao todo, uma escondida em cada fase do game. Não somente é necessário encontra-las, mas também é preciso passar por um desafio para obtê-las. Todos os desafios possuem as mesmas diretrizes. O jogador será enviado a uma arena tendo de enfrentar três hordas de inimigos e ao final enfrentar um chefe de fase dos games anteriores. Caso o jogador seja derrotado em algum momento ao longo do processo ele poderá voltar à campanha principal, ou então recomeçar o desafio. É importante finalizar todos, em todas as fases, pois o ganho de Karma ao se completar cada um desses desafios é compensador.

Finalizando o modo campanha é possível acessar todas as fases para jogá-las novamente o quanto quiser, podendo usufruir de todas as habilidades e upgrades comprados ao longo da campanha principal, bem como acumular mais Karma para continuar e evoluir os personagens. É possível também escolher qualquer personagem para jogar a fase desejada. O único “porém” aqui é o fato de somente poder se escolher as fases na dificuldade em que se foi fechado o game no modo campanha.

Melhorias também no modo multiplayer, que se manteve com os mesmos modos de jogo que na versão lançada em 2012. É possível entrar em batalhas, em times ou não, contra outros jogadores ao redor do mundo. Modo esse que particularmente achei bem bagunçado e pouco divertido. A diversão online em Ninja Gaiden 3: Razor´s Edge está no modo exclusivamente cooperativo.

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Nesse modo entramos em diversos desafios em arenas de combate, sozinho ou com um amigo, para derrotar hordas de inimigos. São várias as dificuldades e vários os desafios em cada uma das dificuldades. Esse modo sim separará os “meninos dos homens”. Bem como em Sigma 2, os níveis mais difíceis proporcionam um desafio quase sobre-humano, exigindo que você e seu companheiro de batalha estejam muito bem afiados. Com certeza os troféus (PS3) / conquistas (X360) mais difíceis do game sairão desse modo.

Importante frisar que a quantidade de upgrades que se pode dar em seu ninja “criado do zero” nesse modo (caso não esteja jogando somente com os personagens principais do) se ampliaram exponencialmente.

Quando ao netcode, aparentemente não houveram grandes melhorias, o que não é ruim pois normalmente a jogatina rola suave quando se joga com outra pessoa de mesma região. Caso se jogue com “gringos” o resultado não é tão bom, especialmente em um game que exige reflexos rápidos e cálculos com precisão de milésimos de segundo.

No quesito sonoro são quase só alegrias, em especial quando consideramos a fabulosa trilha sonora que o game de 2012 continha. Some isso a algumas músicas vindas direto de Sigma 2 e o pacote se fecha de maneira extremamente satisfatória.

Os efeitos sonoros também continuam ótimos, em especial tendo a equipe de produção o cuidado de remover as súplicas pela vida que os inimigos faziam o tempo inteiro (era um porre!). Agora somente gritos de dor, ameaças de morte e o som da carne dos inimigos sendo cortada pelas lâminas de Hayabusa são ouvidas em campo de batalha. A única chateação aqui é Mizuki enchendo o saco de Hayabusa o tempo inteiro pelo H7 durante o modo de campanha de Razor´s Edge. Um ninja com H7 é ou não é chique demais?

O visual de Razor´s Edge não sofreu nenhuma alteração dada comparação com Ninja Gaiden 3. Se por um lado ele continua sendo o game da série mais belo, por outro perde a chance de impressionar como a franquia sempre o fez. Os games de Ninja Gaiden, desde seu retorno ao mundo dos games no Xbox, sempre foram conhecidos por sua beleza, o que infelizmente não pode ser considerado em Ninja Gaiden 3: Razor´s Edge. Artisticamente Ninja Gaiden Sigma 2 é até mais atrativo do que Razor´s Edge, apesar de não conter toda a violência que o atual game e que Ninja Gaiden 2 possuem. De qualquer maneira, pelo menos o frame-rate de Razor´s Edge é mais estável do que o game lançado em 2012, o que permite uma jogatina mais suave e sem muitos slowdowns, coisa que era onipotente nos níveis mais difíceis do Ninja Gaiden 3 de 2012.

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Como considerações finais, é importante destacar a câmera que normalmente conspira contra o jogador, bem como nos games anteriores da série. Nesse aspecto Razor´s Edge não é pior do que o primeiro Ninja Gaiden, mas certamente sua câmera me incomodou bem mais aqui do que em Ninja Gaiden 2 / Sigma 2.

O modo campanha do game segue a mesma história do game de 2012, que é TERRÍVEL! Os games anteriores jamais se focaram em história e ainda assim são muito melhores do que Razor´s Edge nesse quesito. Nenhum personagem é carismático, não existe nenhum momento interessante que não sejam os momentos em que Ryu desnecessariamente mostre o quão “fodão” ele é. Pior que qualquer outra coisa, a história mostra um lado mais humano de Hayabusa, o que acaba com a mística frieza do Ninja mascarado assassino. O game tenta mostra-lo não como um assassino, mas como um bom homem, um herói.

É claro que depois de matar mais de 1000 inimigos ao longo dos sete dias que contemplam o game, não há como considera-lo um assassino ninja e sangue frio, certo?

Ademais, o chefe final do modo campanha é um dos piores chefes que já enfrentei na minha vida enquanto gamer. Por sorte em nenhum outro modo de jogo temos de enfrentá-lo novamente.

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Ninja Gaiden Razor´s Edge não conta mais com suporte para o Move na versão para Playstation 3. O que não faz nenhuma diferença, uma vez que a utilização de artifícios como esse em um game da série é completamente sem sentido. Sensores de movimento NÃO combinam e JAMAIS combinarão com um game / gamer hardcore e ponto final!

A versão para WiiU conta com suporte à tela do Wii U GamePad. Com ele se pode ter acesso aos menus de evolução de habilidades, Ninpos e armas sem a necessidade de sair da tela de jogo, adicionando NADA à experiência como um todo. Na verdade, considero o Wii U GamePad a pior maneira, dentre as disponíveis, de aproveitar a contento. Se puder escolher, escolha entre as versões de PS3 e X360 para jogar Razor´s Edge, pois os controles de ambos os consoles são muito melhores para com esse tipo de game.

Apesar dos problemas apontados, não consegui parar de jogar Razor´s Edge por um bom tempo e continuo jogando-o eventualmente, mesmo tendo pego-o no lançamento. O SOB, bem como a dificuldade aumentada e a sanguinolência, fizeram com que a decepção em forma de game chamada Ninja Gaiden 3 se transformasse em Razor´s Edge, um game que se está longe de ter o primor de um Sigma 2, traz de volta a sensação de se estar jogando um game Hack´n Slash mais técnico e sem mash-buttons descerebrados. Isso já foi o suficiente para eu me afeiçoar ao jogo.

Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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