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Análise | The Last of Us Part I tem adições tímidas, focando mais nos gráficos

Quase dez anos após o lançamento triunfal de The Last of Us, considerado até hoje como um dos melhores jogos de todos os tempos, a Sony entendeu que havia chegado a hora de dar a ele o tratamento de remake, permitindo que a primeira aventura de Joel e Ellie fosse introduzida para mais jogadores ao redor do mundo.

Com foco no potencial do PS5 e nas melhorias feitas no motor gráfico da Naughty Dog ao longo deste período, a promessa foi aprimorar o clássico em todas as frentes possíveis, principalmente no que diz respeito a gráficos e animações.

Mais realismo

Algumas das diferenças são palpáveis já no prólogo do jogo. As cutscenes agora são renderizadas em tempo real, ao contrário do que acontecia no PS3. Se por um lado isso faz com que as comparações entre ambas versões mostrem menos diferenças gráficas do que se espera, por outro permite que o remake aproveite as tecnologias mais recentes do motor gráfico e deixe que os animadores façam a sua parte. O resultado são expressões faciais muito mais convincentes e bem trabalhadas, que levam a cenas mais imersivas e, claro, emocionantes.

Os gráficos na parte jogável mostram ainda mais evolução. Os modelos dos personagens estão muito mais detalhados e bem animados. Os cenários saltam aos olhos com texturas em alta resolução, iluminação mais realista e detalhada, além de uma presença muito maior de detalhes micro, de maior densidade na vegetação, e até mais objetos espalhados pelo mundo. A direção de arte, no geral, seguiu o que foi alcançado em The Last of Us Part 2. É possível notar que tudo é menos estilizado e mais voltado para o realismo cru, o que pode desagradar os mais puristas e deixar uma impressão de “menos bonito” em várias cenas.

As animações dos personagens na parte jogável também estão mais convincentes. No momento icônico onde Ellie aprende a assobiar enquanto Joel explora o cenário, por exemplo, é possível vê-la fazendo o movimento facial perfeitamente, com uma proximidade maior dos gráficos das cutscenes, algo inexistente no PS3 e PS4. O uso do Motion Matching, técnica de animação que foi introduzida na Part 2 com maestria, faz com que as reações físicas a impactos e nas interações com os cenários fiquem extremamente mais realistas e permita recriar aquela violência crua durante explosões ou tiros feitos com calibres mais pesados. Há uma série de novas animações de desmembramento, ou seja, dar um tiro na cabeça de um inimigo é perturbadoramente gratificante.

O problema é que toda essa parte mais “cosmética” do jogo é a que menos mostrava necessidade de melhorias. Embora bem vindas, ainda ficam quase como uma versão 1.5 do jogo, já que não chegam a alcançar o nível da sequência em muitos aspectos. Já o gameplay, que mostrou mais sinais de envelhecimento, exibe uma evolução bem mais comedida.

Gameplay continua datado

Eu nunca fui muito fã da jogabilidade de The Last of Us e tinha a esperança que boa parte das melhorias apresentadas na sequência fossem implementadas aqui, o que justificaria mais a existência do remake. No entanto, a sensação geral é de uma leve camada de tinta onde era necessário refazer.

É bem verdade que mudanças profundas, como a adição de rastejar ou esquiva, como na Part 2, implicariam em mudanças de cenário para aproveitá-las e poderiam fazer o resultado ser bem diferente do jogo original, o que definitivamente não é o foco da Naughty Dog aqui. No entanto, mesmo questões menos agudas, como a inteligência artificial, passam longe de empolgar.

A furtividade continua sendo o mesmo jogar um tijolo para lá e andar para cá de sempre. Os inimigos agora são um pouco mais inteligentes em combate, com novas abordagens para te enganar e cercar, mas continuam guiados por um sistema simples de manada, sem a comunicação individual tão legal presente na Part 2. Quando um deles te vê, todos os outros correm até a sua posição. A Ellie e demais acompanhantes continuam passando na frente dos inimigos sem detectá-los e raramente fazem algo interessante em combate, sendo esta uma coisa que também tinha sido resolvida na Part 2. O controle do Joel entre as coberturas continua meio duro, longe daquele entrar e sair de forma fluida da sequência.

A progressão entre cenários também continua monótona. Aquele arrastar constante de caixas e tábuas para navegar, enquanto o analógico parece sempre empurrado para frente em corredores e mais corredores com uma sequência de inimigos repetitivos.

Talvez a expectativa gerada pelo remake seja maior do que ele realmente almeja, que é claramente apresentar o jogo da melhor forma possível aos novos jogadores, especialmente no PC, onde será lançado mais tarde, e para aqueles que o jogarão graças ao sucesso que a série live action da HBO certamente fará. A Naugthy Dog focou em mudar o mínimo necessário da essência e oferecer a experiência da forma mais original possível, o que implica trazer o que envelheceu mais no pacote, deixando o preço de R$ 350 injustificável.

Espere uma promoção

É impossível não associar a parte comercial do jogo ao conjunto da obra. O remake de The Last of Us está sendo vendido a preço cheio na PSN, sem nenhum caminho de upgrade para quem já tinha o remaster para PS4, e está indisponível nas três camadas do serviço de assinatura da PS Plus.

Comparado ao original, há menos conteúdo no pacote, uma vez que o modo multiplayer não vem incluso nesta versão. Todo o fator replay fica por conta dos troféus, novos itens, e modos disponíveis após zerar o jogo, como roupinhas para os personagens, artes conceituais e modificadores que alteram o funcionamento do jogo: como munição infinita ou dano dobrado.

Neste contexto, as mudanças adicionadas se tornam insuficientes e até irrelevantes. Com o remaster disponível na PS Plus Collection e Extra, e encontrado baratinho em mídia física, fica ainda mais difícil recomendar encarar o preço cheio para jogar a mesma aventura com algumas melhorias gráficas e de jogabilidade, mesmo para quem nunca jogou antes. O ideal é mesmo esperar uma promoção ou um preço mais acessível.

Acessibilidade é o maior acerto

Antes de finalizar, vale deixar os parabéns para os esforços na frente de acessibilidade. A narração dos momentos que rolam na tela, um novo sistema de leitura utilizando vibrações do DualSense e uma série de outras possibilidades de customização que vieram da parte dois estão disponíveis neste remake.

O preço do jogo uma hora vai cair e ele também estará disponível para PC posteriormente. Ter esse cuidado a mais para deixá-lo acessível para mais pessoas é louvável e, ainda bem, uma tendência cada vez maior na indústria.

Conclusão

The Last of Us Part I é um remake que se justifica comercialmente, uma vez que será lançado futuramente também para PC e se aproveitará do hype gerado pela série da HBO. No conteúdo, no entanto, apresenta adições tímidas focadas nos gráficos e passa longe de justificar o preço cheio cobrado no lançamento. Boa parte da jogabilidade continua datada e a indicação fica apenas para quem nunca jogou a primeira aventura de Joel e Ellie.

Prós

  • Animações faciais aprimoradas trazem mais emoção às cutscenes
  • Parte jogável tem animações mais convincentes
  • Gráficos, no geral, evoluíram bem
  • Mudanças tímidas na inteligência artificial nos combates
  • Conteúdo extra após terminar o jogo

Contras

  • Furtividade continua simplista
  • Menos conteúdo do que o jogo original, já que não existe multiplayer
  • Progressão pelos cenários é monótona e ultrapassada

Nota: 8,0/10,0

Uma cópia do jogo foi fornecida pela Sony para a elaboração desta análise.

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