Com a ascensão dos jogos indies abriu-se espaço para explorar um nicho de mercado que vem sendo muito bem aceito, os jogos com pegada “retro”, simulando gráficos e sons das eras douradas dos 8 e 16 bits. Fez, Hotline Miami e Retro City Rampage são bons exemplos, que conseguem aliar as comodidades atuais com o saudosismo de quem cresceu jogando no Nes e Master System. É nessa premissa que se apoia VVVVVV, que além dos gráficos e sons traz de volta a dificuldade mortal, que exige superação e dedicação do jogador do começo ao fim.
Captain, we lost our crew members!
Você começa o game em sua nave, onde um experimento com portais da errado e tanto seus tripulantes quanto sua nave ficam presos em uma dimensão alternativa que está bagunçada e instável.
Infelizmente para nosso destemido capitão, a nave precisa de reparos até que possa mover-se novamente e para piorar, seus tripulantes foram teletransportados para diferentes pontos dessa nova dimensão e é assim que embarcamos em uma ótima aventura com dificuldade cruel.
VVVVVV – ou V6 – é um jogo de puzzle e plataforma 2D muito competente e consegue resgatar com maestria o saudosismo dos anos 80 e 90. Os controles são basicamente as setas ou direcional do controle, que permite os movimentos básicos como de qualquer jogo de plataforma, com a exceção que não se pode “saltar” em V6, ou seja, ao pressionar a tecla para cima seu personagem saltará e “grudará” no teto, sendo que para descer é necessário apertar a tecla para baixo, isso faz que até o menor morrinho seja um grande desafio em alguns momentos.
Com a mesma premissa de antigamente, V6 é um jogo com controles simples, mas difícil de dominar. Os perigos do game incluem os saudosos espinhos, plataformas móveis, inimigos que circulam pelo cenário para dificultar o progresso do jogador, tudo feito na medida para que os desafios exijam o máximo das habilidades e raciocínio do jogador.
A jogabilidade simples é muito bem aproveitada para elaboração puzzles e desafios, contando ainda com a criatividade de seu criador na hora de brincar com a percepção de espaço e física do jogador. O game brinca e desafia o jogador a se desapegar de alguns fundamentos básicos que aprendeu na escola, como cair em um buraco e sair no teto do cenário, linhas que funcionam como elásticos e o próprio fato de andar pelo teto do cenário.
Jogar VVVVVV é diferente de Mario, cair em um buraco às vezes pode te levar a um lugar completamente distante e diferente de onde você estava e a transição dos cenários é feita com muita competência. Os cenários renovam os desafios e visual, trazendo o necessário frescor aos jogadores, pois tenha certeza, há desafios que você ficará horas na tentativa e erro até conseguir batê-lo.
Ao conseguir encontrar seus tripulantes, cada um deles trará um desafio diferente que precisará ser batido para salva-los, alguns de seus companheiros terão um portal bem próximo para leva-los de volta a sua nave, porém outros vão exigir bem mais do jogador.
A dificuldade do game é tão grande que, mesmo que as linhas de texto e história sejam pequenas, o jogador ainda sim acabará simpatizando com os estranhos tripulantes, afinal de contas, você “passou por um verdadeiro inferno” para conseguir resgata-los, logo é impossível não criar um certo laço com seus companheiros; sem contar que Terry Cavanagh, criador do game, soube dar charme e certo carisma aos personagens.
Além dos muitos desafios e puzzles o jogo esconde várias “shine trinket”, 20 ao todo espalhadas por toda dimensão do jogo – que pode ser explorada livremente – e coletar todas liberará o laboratório secreto, onde mostra registros de cientistas que fizeram pesquisas nessa dimensão no passado, além de mostrar os troféus que o jogador conseguiu como zerar o jogo uma vez, completar desafios de tempo entre outros, além do troféu máximo, que é zerar o game sem morrer uma única vez.
No mais vale citar o fator replay, que exige mais do jogador, como corrida contra o tempo ou limite de mortes, editor de levels e a opção no menu que mostra as estatísticas, mostrando o tempo de jogo e quantidade de mortes; essa última provavelmente será grande para a maioria dos jogadores.
Gráficos e Sons
Terry Cavanagh mandou muito bem aqui também, VVVVVV é um show de nostalgia e competência, trazendo cenários coloridos e cheios de personalidade. Cada novo cenário traz uma temática distinta conforme os desafios que apresenta, um complementando o outro, mostrando uma harmonia poucas vezes vista em jogos do gênero.
Também não há repetição de cenários, todos sempre tem algo de novo para mostrar, deixando o jogo dinâmico, renovador a cada novo cenário e muito bonito sem sair da premissa inicial, que é trazer de volta a glória dos 8 bits. Mesmo a simplicidade dos inimigos e personagens casa perfeitamente com o dimensão instável e “louca” criada por Terry, logo ver uma palavra “Stop” tentando impedir seu caminho não é estranho em V6, pelo contrário, é exatamente o tipo de coisa que você espera nesse jogo.
Os sons do jogo são muito bem feitos, resgatando os efeitos sonoros clássicos da era do Nintendinho e Master System, mas o destaque fica para trilha sonora composta por Magnus Pålsson, um show a parte e um dos motivos que empolgam e motivam o jogador a tentar bater aquele desafio que parece ser humanamente impossível de ser vencido. São 30 minutos de uma das melhores trilhas sonoras já vistas em jogo indie.