Análises

Driver: San Francisco

Driver: San Francisco

A série Driver (1999) nasceu no primeiro console da Sony e seu primeiro jogo era viciante, o mundo aberto e quatro cidades diferentes para explorar, além da possibilidade de sair dirigindo feito louco pelas ruas e rodovias do surpreendente ambiente 3D criado na época era muito divertido. Driver 2 (2000) foi ainda melhor e possibilitou aos jogadores a roubar outros carros ao permitir que o jogador saísse do carro. Infelizmente, a série se perdeu depois disso, com uma coletânea de jogos ruins e cheios de problemas para PS2, Xbox e portáteis. San Francisco (2011), sexto game da série, vem para acabar com a péssima imagem deixada por seus antecessores e resgata a imagem e glória da excelente série que nasceu em 1999.

Tanner e Jones

A trama do jogo gira em torno dos dois detetives, mais especificamente Jhon Tanner, que se muda para São Francisco após descobrir que o criminoso Jericho havia fugido para a cidade, conseguindo captura-lo.

A caminho de seu julgamento, dentro de uma das vans de transporte da polícia, Jericho consegue escapar e dominar os guardas. Tanner e Jones, que presenciaram tudo iniciam a perseguição ao criminoso, porém acabam sofrendo um acidente, deixando Tanner em um coma profundo.

Desse ponto em diante, praticamente 95% da trama se desenvolve na mente de Jhon Tanner, enquanto ele está em coma. O detetive tenta de todas as formas capturar Jericho em seus sonhos e acaba sendo influenciado pelo noticiário que passa na TV de seu quarto no hospital, descrevendo os atos do criminoso Jericho enquanto Tanner está inconsciente.

O plot é criativo e se assemelha muito aos filmes norte-americanos de detetives, principalmente nas cenas de cortes, com ângulos de câmeras “dramáticos”, buscando sempre o melhor posicionamento na hora de filmar o belíssimo Dodge Challenger R/T de Tanner ou na durante os diálogos, com closes e cortes de câmera esquemáticos para dar certo drama e tensão à história.

Apesar de ser criativa e conter todos os elementos necessários para virar um bom filme, quem jogou os primeiro Drivers para Playstation terá a mesma conclusão, a história é bacana, mas é um tanto quanto previsível e não se esforça para tentar sair dos clichês já vistos e revistos exaustivamente em Hollywood, ficando bem aquém das tramas dos primeiros games da série, principalmente de Driver 2. Também é difícil criar laços com os personagens ou criar tamanha aversão ao personagem Jericho tal qual Tanner tem, o que empobrece a experiência e deixa tudo meio superficial, sem que o jogador consiga se emocionar ou “mergulhar” na trama que se desenrola na cabeça de Jhon.

 

Jogabilidade consistente e divertida

Driver: San Francisco é um glorioso retorno da série no que diz respeito à jogabilidade, trazendo novamente a satisfação e diversão de controlar possantes de forma inconsequente pelas ruas e rodovias de uma cidade populosa, seja em corridas ou em fugas e perseguições.

Mais importante que isso, finalmente a série concentra-se somente em botar o jogador atrás do volante, não é necessário se preocupar em sair de seu veículo ao estilo “GTA”, tudo que o jogador tem de fazer é dirigir da forma mais insana e veloz pelas sinuosas ruas de São Francisco.

Dirigir os possantes é bem gratificante, pois além da boa lista de carros licenciados – 125 ao todo – a mecânica de jogo criada pela Ubisoft Reflections permite que qualquer jogador consiga protagonizar perseguições e fugas empolgantes, bem ao estilo dos melhores filmes de Hollywood. O mais bacana é que o jogo não precisa a apelar a vários efeitos visuais para transpor a sensação de velocidade ou adrenalina ao pisar fundo no meio do transito da cidade norte-americana, graças ao competente trabalho na jogabilidade, tornando o ato de controlar os veículos uma tarefa prazerosa e distinta conforme o carro que você está; dirigir um muscle car é diferente de dirigir um carro esportivo japonês que por sua vez é diferente de um esportivo europeu e assim por diante.

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A maior novidade da prazerosa mecânica de jogo está na habilidade especial de Tanner, “Shift” que permite a ele “sair” de seu corpo e “possuir” qualquer motorista. Essa habilidade se junta a outras, como usar nitro ou dar um impulso para atingir um carro que está perseguindo e são habilidades necessárias para avançar pelas várias missões do game.

 

São Francisco

A populosa cidade americana é um local perfeito para a proposta do game, pois tem de tudo um pouco, como as famosas ruas inclinadas do centro que permitem grandes saltos a rodovias largas e longas, local ideal para acelerar seus possantes mais velozes; há até mesmo locais para praticar um pouco de rally, inclusive com carros próprios para tal.

Além de suas ruas, rodovias, becos e estradas – ruas de terra –, a São Francisco virtual é populosa e viva, não chega a ser como Los Santos de GTA V, mas tem seu charme e competência, com pessoas andando pelas calçadas e muitos, muitos carros nas ruas, todos com o mesmo nível de detalhes do carro do jogador, ajudando ainda mais na imersão e sensação de estar em uma grande cidade.

Com um local perfeito a Ubisoft conseguiu disponibilizar uma ótima gama de missões e desafios para o jogador completar e acredite, têm de tudo um pouco, desde as perseguições ao estilo polícia e ladrão, corridas ilegais com interferência dos homens da lei em dados momentos, escoltar veículos tendo de lidar com inúmeras ameaças e muito mais.

Algumas missões ainda contam com pequenas histórias paralelas, como os irmãos asiáticos envolvidos no perigoso mundo das corridas ilegais ou os policiais demitidos por destruírem falsos medicamentos de uma grande empresa farmacêutica. Tanner acaba se envolvendo com todos eles, inclusive esses momentos são mais divertidos e enriquecedores que a fraca trama principal.

Há outros aspectos importantes da mecânica de jogo para citar, como os diferentes “dares”, desafios loucos como saltar por cima de outros carros, passar por baixo de carretas de caminhões em meio ao trânsito, fazer drifts, além da grande variedade de missões secundárias como apagar incêndios com os caminhões de bombeiros, capturar criminosos, capturar corredores de rua, destruir determinados objetos do cenário e assim por diante.

As missões mais divertidas são àquelas baseadas em filmes clássicos do cinema norte-americano, como o clássico Gone in 60 Seconds de 1974 (60 Segundos, no Brasil) ou a famosa e considerada por muitos como a melhor cena de perseguição dos cinemas presente no filme Bullit (1968). São ao todo 13 “filmes” liberados para o jogador que irá desbloqueando-os conforme coletar os itens demarcados no mapa, alguns exigindo saltos ou acrobacias insanas para conseguir pegar. Esses eventos são, disparadamente, as missões mais divertidas e empolgantes de Driver; afinal de contas, quem nunca sonhou em estar na pele desses personagens nessas famosas cenas?

 

Multiplayer, Film Director e fator replay

O modo multiplayer funciona de maneira similar ao single player, com algumas adaptações, como a necessidade de carregar a barra de habilidades especiais para poder usar o “Shift”. Na prática, funciona como uma grande gincana para até 8 jogadores no modo on-line, além do modo em tela divida, com modalidades competitivas e cooperativas.

É um bom incentivo para continuar jogando Driver: San Francisco, com boa parte das atividades vista na campanha principal adaptadas ao modo multiplayer, como saltar até determinado ponto ou a variação do “Tag”, onde o jogadores devem “pegar” o alvo demarcado e fugir, quanto mais tempo conseguir ficar sem ser “pego” mais pontos ganha.

Há também uma ferramenta chamada Film Director, que permite ao jogador gravar suas partidas, edita-las e salvar ou fazer upload direto do vídeo para sua conta no Uplay, dando a chance de compartilhar suas melhores experiências em Driver com o mundo inteiro, através das redes sociais e sites especializados, como Youtube; há também possibilidade de compartilhar conteúdo diretamente do jogo com o Twitter e Facebook.

O fator replay é baixo, com uma única variação chamada “New Game Plus”, onde seu Will Power (moeda do jogo para comprar carros e upgrades para suas habilidades especiais) e carros da jogatina anterior já estarão liberados logo no início da aventura.

 

Bonito e bem polido

Driver: San Francisco conta com bons gráficos para um jogo de “mundo aberto”, levando em consideração que o destaque fica sempre para os carros, o que tira o jogo de uma possível concorrência direta com GTA, tanto nos gráficos quanto na jogabilidade.

Os carros licenciados estão muito bem feitos, com todos seus detalhes bem representados, até mesmo os frisos dos carros antigos, que são muitos, foram bem retratados sem deixar nenhum detalhe escapar. O jogo ainda conta com visão de cockpit e mostra o zelo da equipe de desenvolvimento da Ubisoft, tentando reproduzir, respeitando as limitações técnicas de sua engine gráfica, todos os detalhes dos paneis e interior dos carros, com destaque para os carros antigos mais uma vez, que possuem painéis mais “complexos”, com mais enfeites e detalhes a serem modelados.

São Francisco, como dito anteriormente, é uma cidade viva e populosa. Há muitas pessoas e carros nas ruas, todos com os mesmos níveis de detalhes que o carro do jogador, o que impressiona e, ao menos na versão para PC, caso tenha uma máquina capaz de aguentar o tranco, tudo roda de forma fluída, sem nenhum engasgo ou travamentos; os requisitos recomendados são razoáveis e realistas.

Além do bom trabalho na cidade, com boas modelagens para ruas, prédios e outros elementos do cenário, temos um sistema de danos bacana, que não chega a impressionar como aconteceu nos dois primeiros games da série, mas fazem seu papel. Alguns efeitos são bacanas, como os de sombra e luz, mas poderiam ser mais trabalhados, principalmente os de fumaça, que não possuem o volume necessário; acaba tirando a graça de “queimar borracha ao fritar os pneus” dada à pequena quantidade de fumaça que sobe.

A parte sonora também é boa, com uma seleção bacana na trilha sonora, porém bem seleta o que pode não agradar a todos; eu particularmente pausava as músicas. O destaque fica por conta dos efeitos sonoros, com sons bem fiéis de pneus derrapando no asfalto, sons de batidas, businas e sirenes, pessoas gritando nas ruas, tudo para trazer o clima de uma grande cidade.

O destaque fica para o ronco dos bólidos, sendo inclusive um dos jogos que chegou mais perto de reproduzir o ronco dos carros de forma realista, apesar de notarmos algumas repetições de áudios para carros de uma mesma classe, o que não tira o mérito da produção; ainda estou à espera de ouvir um verdadeiro e belíssimo ronco de um motor V8 ou a sinfonia de um V12 rasgando pelas rodovias nos games.

 

Defeitos

Como todo jogo do gênero, Driver não é livre de erros e bugs, com os mesmos marcando presença, ainda que de forma tímida. Por vezes as batidas não geram o devido impacto ou até mesmo são questionáveis, com o carro do jogador parecendo ser de papel, mostrando erros na simulação de física. Também é possível ver os adversários fazerem curvas fisicamente impossíveis, com aquela pequena ajuda dos desenvolvedores para deixar as corridas mais desafiadoras; presenciar isso é desanimador em alguns momentos.

Ver pessoas que somem ao jogar o carro em cima delas é um fato que pode incomodar a alguns e o bug mais “cabuloso” que presenciei foi um grave problema de colisão, onde o carro que eu estava perseguindo afundou no asfalto, impedindo que eu conseguisse atingi-lo.

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