Após dois jogos claustrofóbicos, ambientados a maior parte do tempo no subterrâneo da Rússia, a série “Metro” sai do escuro e respira novos ares. ‘Exodus’ chega seis anos depois de ‘Last Light’ e continua a saga do protagonista Artyom, agora casado e cada vez mais convicto de que a superfície se tornou habitável (e adequada para quem pretende formar uma família).
TICKET TO RIDE
A sequência inicial resume os acontecimentos após o holocausto nuclear que destruiu o mundo em 2013 e coloca o jogador 23 anos depois, no rigoroso inverno de Moscou. Equipado com sua máscara de oxigênio, pouca munição e na companhia de sua esposa Anna, Artyom descobre que sempre esteve certo: enquanto exploram a cidade, um trem tripulado passa na frente do casal, revelando ser possível viver na superfície. Essa é a deixa para que eles embarquem em uma alucinante viagem locomotiva pela Rússia em busca de respostas e de outros sobreviventes.
Com roteiro assinado por Dmitriy Glukhovskiy, o criador do romance que inspirou os jogos, Metro Exodus dá uma aula de narrativa e construção de personagens. O desenvolvimento da história é fluido, tanto no ritmo como na naturalidade com que os diálogos acontecem. A sensação é de que você está lidando com pessoas reais durante toda a campanha. Para fortalecer essa naturalidade, a equipe de Artyom é a mesma formada em Last Light e a interação entre eles está maior. É muito emocionante ouvir as histórias de seus companheiros nos “acampamentos” e descobrir seus gostos, saudades, medos e sonhos. Você quer protegê-los e proporcionar uma vida melhor para cada um depois de tanto tempo confinados nos túneis do metrô.
AS 4 ESTAÇÕES DE UM MUNDO ABERTO
Diferente da experiência linear dos jogos anteriores, Exodus cria um semi-mundo aberto para ser explorado. São 4 cenários distintos ao longo das 4 estações do ano: o inverno nuclear de Moscou na introdução, o início da primavera em Volga, o verão desértico em Caspian e o outono nas florestas de Taiga. Ao estacionar a Aurora – nome do trem que é sua casa e base de operações – é possível desbravar livremente o mapa de cada região.
Marca registrada da série, a mistura de tiro e ‘survival horror’ em ambientes fechados muda com essa nova abordagem de mundo aberto. Os cenários são enormes e precisam ser vasculhados com cuidado, pois cada inimigo pode ser mortal. É interessante perceber que o clima de medo e tensão independe do horário no jogo; seja de dia ou de noite, cada um reserva seus próprios perigos e você precisa ficar sempre alerta.
A escassez de munição continua em Exodus, mas a moeda para comprar itens e evoluir armas mudou. Adeus balas difíceis de achar! Agora é possível pegar itens mecânicos ou químicos espalhados pelos cenários e usá-los para criar munição, granadas e kits de primeiros socorros. Para ajudar na exploração, é possível desbloquear algumas “safe houses” espalhadas pelo mapa. Assim como na Aurora, nas safe houses é possível usar a bancada para criar itens, restaurar armas e dormir para passar o tempo e recuperar o life, além de ter itens únicos para reabastecer seu estoque. Sua mochila também é importante durante o gameplay: com ela você pode criar itens mais simples enquanto estiver afastado das bases. Não esqueça de vasculhar os corpos dos inimigos para pegar novos acessórios para as armas e atenção para a limpeza delas: sujas elas causam menos dano, perdem a precisão e emperram quando você menos espera!
CONTROLE (QUASE) TOTAL
Enquanto Last Light melhorou a jogabilidade e a configuração dos botões quando comparado com o Metro 2033, Exodus fica no meio termo entre os dois antecessores. Controlar Artyon é um pouco mais pesado que Last Light, mas os botões são mais intuitivos e fáceis de acessar. O tiroteio ainda é a parte problemática, principalmente em situações que precisam de agilidade para escapar de vários inimigos ao mesmo tempo. Opte por sempre carregar uma arma de curto alcance e alto dano pra te livrar das enrascadas.
As mecânicas de sobrevivência podem afastar novos jogadores que não estão acostumados a observar vários indicadores ao mesmo tempo: o relógio, a bateria da lanterna, o tempo restante do filtro de gás, o nível de degradação da máscara, o sensor de radioatividade… ufa! São muitas coisas para administrar, mas quanto mais você joga, mais fácil fica. Não existem marcações de localização e objetivos na tela, então se faz necessário acessar o mapa frequentemente para não se perder.
MISSÕES NÃO TÃO SECUNDÁRIAS
Um detalhe importante que diferencia Exodus de outros jogos de mundo aberto é o sistema de missões secundárias. Ao invés de pipocar marcadores na tela com objetivos que precisam ser cumpridos, as missões aparecem conforme você progride na história e conversa com os NPCs, de maneira realista. Converse com seus amigos e eles vão te pedir pra trazer um violão que escutaram os inimigos tocando em uma base próxima. Salve uma criança e ela vai te contar onde perdeu o brinquedo preferido que ela sente falta. A progressão é natural, encaixa no enredo e não afasta o jogador das missões principais. Para ajudar, os pontos importantes ficam marcados no mapa, mas você precisa descobrir como chegar até eles. A recompensa é voltar para a base e encontrar seus amigos fazendo um luau com o violão que você conseguiu, enquanto a criança te dá um abraço gostoso por ter recuperado seu brinquedo.
O FIM DO MUNDO MAIS BONITO QUE VOCÊ JÁ VIU!
Visualmente surpreendente, Metro Exodus entra facilmente na lista dos jogos mais bonitos dessa geração e estabelece um novo marco técnico. É ainda mais espantoso quando lembramos que é um jogo da ucraniana 4A Games, um estúdio menor com foco em apenas uma série, mas tão competente quanto as gigantes da indústria. Talvez esse seja o segredo: polir o seu produto a cada novo lançamento até alcançar a perfeição. O realismo dos gráficos faz o jogador parar em vários momento para admirar os cenários. Da iluminação a qualidade das texturas e materiais, tamanha atenção aos detalhes não é vista em muitos games “AAA” com grandes equipes e orçamentos exorbitantes.
A versão testada foi a do PlayStation 4 Pro e em poucos momentos notamos grandes quedas de frames ou encontramos bugs significativos. A única reclamação fica para o loading, bem demorado principalmente em áreas abertas. Se morrer, prepare-se para esperar mais de um minuto na tela de loading antes de jogar novamente.
CONCLUSÃO
Ao sair dos ambientes fechados das linhas de metrô que fizeram o nome da saga, a 4A Games expandiu o universo do game, ampliou as possibilidades de gameplay e evoluiu a narrativa. São diversos momentos inesquecíveis e impactantes durante essa viagem de trem pela Rússia que mostram o amor e maturidade com que a empresa cuida da marca Metro. Exodus não só é o melhor dentre os três títulos da série, como se tornou um exemplo para jogos de mundo aberto, misturando linearidade e liberdade sem cansar o jogador.
Prós:
- Um dos melhores gráficos da geração
- Sensação de tensão a todo momento
- NPCs realistas que parecem pessoas de verdade
- Progressão natural da campanha e das missões secundárias
- Evolução do sistema de criação de itens
Contras:
- Loadings demorados
- Jogabilidade um pouco travada nos tiroteios