Análises

Call of Duty: WWII

Lembro-me da experiência inesquecível que tive quando joguei o primeiro Call of Duty. Gostei tanto que o zerei repetidas vezes. A franquia veio, depois disso, a se tornar uma das mais renomadas do gênero de jogos de tiro em primeira pessoa, principalmente após o lançamento de Modern Warfare, que trouxe uma verdadeira revolução com seu modo multiplayer.

Embora a grande maioria dos jogadores hoje compre Call of Duty pelo que ele fornece online, há aqueles, como eu, que também querem jogar a campanha single player. A franquia, antes de inovar na jogatina online, ficou famosa justamente por contar histórias emocionantes, com narrativas fortes e personagens memoráveis. Quando eu soube que o novo game seria justamente em volta da 2ª Guerra Mundial e que teria aspectos de jogabilidade similares aos dos jogos de tiro mais antigos, fiquei muito ansioso em poder jogar o quanto antes este novo capítulo desta série tão importante.

A campanha de Call of Duty: WWII tem seus altos e baixos, sendo que os melhores momentos ocorrem quando ela justamente foge da linearidade, o que acontece pouco. Você controla um soldado texano chamado Daniels que, junto com seu pelotão, invade a Europa pelas praias da Normandia no Dia D, e precisa avançar pelo continente, passando pela França até chegar na batalha na ponte de Remagen, no rio Reno. Há também ocasiões ao longo da trama onde você fica na pele de outros personagens.

A maior parte do tempo, infelizmente, tudo parece um tanto genérico, especialmente os personagens. Aparentam terem sido fortemente inspirados pelo filme “O Resgate do Soldado Ryan”, mas sem a adição de nada que os destaque. Se você viu o longa, muito provavelmente também terá essa sensação. Na verdade, o personagem mais interessante é uma espiã da resistência francesa, que nem sequer faz parte do seu esquadrão e você controla somente durante um pedaço da única missão verdadeiramente inovadora do jogo na minha opinião, onde inclusive é necessário decorar alguns textos para responder corretamente os questionamentos dos guardas. O restante do tempo, trata-se de você atirando em legiões de nazistas desconhecidos, seja a pé, num tanque, jipe ou avião. Podiam ao menos terem apresentado outros lados da guerra, como foi feito de maneira quase impecável em Call of Duty: World at War, ou criado um antagonista para deixar as coisas mais interessantes como fizeram em Modern Warfare e Advanced Warfare.

A história com narrativa fraca, trama previsível e personagens pouco desenvolvidos mostram claramente que a campanha existe em Call of Duty: WWII apenas como um tapa buraco. Sua curtíssima duração, de cerca de 5 horas, também deixa isso claro. A impressão é que a Sledgehammer realmente não estava a fim de desenvolver algo em volta da 2ª Guerra, e o fez apenas porque a Activision decidiu, corretamente, que havia chegado a hora de uma mudança. Sem dúvida alguma eu adorei o fato de pararmos de atirar com armas laser, usar exoesqueletos e andar pelas paredes, e o single player diverte em alguns momentos, mas é uma pena que a temática da 2ª Guerra tenha sido utilizada de maneira tão pobre e pouco inspirada na campanha, por uma franquia que já fez isso de modo muitíssimo melhor no passado.

É importante ressaltar, no entanto, que a campanha traz algumas mudanças bem vindas na jogabilidade. Nada mais de cura automática, você realmente só pode recuperar sua saúde se tiver kits médicos. Há uma barra de vida na tela para te indicar quanta vida você ainda tem. Dá para segurar até quatro kits e basta apertar Direita no d-pad para usá-los. Esses kits médicos devem ser achados pelos cenários ou pegos com um membro do pelotão que os tenha. Teoricamente isso deveria supor que você jogasse com mais cautela, só que eu quase nunca fiquei sem kits médicos, já que não existe muita dificuldade em consegui-los.

Há também um membro do pelotão para te dar munição, outro para granadas, outro que lhe dá um sinalizador para marcar um local onde morteiros irão atacar e um último que lhe permite saber a posição exata de cada inimigo no cenário por alguns segundos. O legal desse sistema é que habilita você a administrar melhor seus recursos, podendo pegar uma arma com munição diferenciada, como lança foguetes, usá-la à vontade e em seguida pedir por mais munição para o cara do pelotão que cuida disso. Também lhe incentiva a nunca sair de perto dos seus companheiros.

Assim como no caso dos kits médicos, quase nunca fiquei sem munição, pois além de você poder pedir mais para seu colega de farda, dá para usar as armas derrubadas pelos inimigos e se reabastecer com caixas de munição infinita que você encontra em certos pontos dentro das fases. Por último, é necessário preencher um medidor para conseguir utilizar esse sistema de ajuda dos seus irmãos de armas, o qual vai enchendo a medida que você mata inimigos.

Chegou a hora de parar de falar da campanha e começar a discutir a respeito do multiplayer. Afinal de contas, a grande maioria dos usuários atualmente compra Call of Duty no lançamento justamente por causa disso. De início, você precisa escolher uma das cinco divisões disponíveis – Infantaria, Aviador, Blindado, Montanha e Expedicionário – cada uma com suas armas e equipamentos iniciais distintos. Um jeito diferente de selecionar sua classe. Feito isso, você é introduzido ao quartel-general. Trata-se de um lugar onde você controla seu personagem em terceira pessoa, interage com outros jogadores e aceita missões que devem ser concluídas nas partidas online, como por exemplo, efetuar 15 mortes com submetralhadora, e assim por diante. Concluir essas missões lhe dá experiência para aumentar seu nível, créditos que você pode utilizar para desbloquear diversos itens cosméticos na forma de emotes, skins de armas, entre outros, e também caixas de loot, que destravam recompensas aleatórias. Se desejar adquirir armas novas, precisará subir seu nível, o que lhe dará tokens que servem justamente para isso, e também habilitam as outras quatro divisões que você não escolheu, para que possam ser utilizadas.

O quartel-general foi uma ideia muito interessante para um lobby. Há até mesmo a possibilidade de jogar games clássicos da Activision como Pitfall 2 ou Enduro em um local dentro dele. Um ótimo extra, que embora não melhore em nada o game em si, serve para matarmos saudade desses títulos memoráveis do Atari 2600.

Infelizmente, nem tudo são flores. No lançamento, o quartel-general deu muita dor de cabeça aos jogadores. Os servidores simplesmente não conseguiram dar conta da quantidade de pessoas. A Sledgehammer Games, então, desligou as funções sociais do quartel para solucionar temporariamente o problema, e recentemente trocou em caráter provisório a conectividade via servidores dedicados para Peer-to-Peer, permitindo que os jogadores finalmente pudessem voltar a jogar. Tudo isso, na prática, deixa você sozinho no quartel e impossibilitado de interagir nele com outros usuários, o que lhe impede de obter recompensas via evolução da barra de experiência social. Ao menos, dá para jogar online. Nota-se com isso que o quartel, embora seja uma ideia muito boa, foi pessimamente implementada.

Os problemas entretanto não param por aí, pois em algumas das partidas que joguei, logo após a vitória aparecia a mensagem de que eu havia sido desconectado. Quando isso acontece, a vitória não é marcada e a experiência adicional obtida com ela não é contabilizada. Não tenho ideia de quando a desenvolvedora consertará estas dificuldades técnicas, que afetam negativamente uma experiência multiplayer que diverte quando funciona direito.

Os modos disponíveis no multiplayer são velhos conhecidos de quem está habituado a jogar Call of Duty, mas sem aquela jogabilidade futurista que permitia voar e andar pelas paredes, o que para mim é ótimo, já que não aguentava mais aquilo. O novo Modo de Guerra é uma adição muito bem vinda. Nele os jogadores tem de trabalhar em conjunto para derrotar a equipe adversária em batalhas icônicas da 2ª Guerra Mundial, seja defendendo ou atacando um objetivo. O mapa, inclusive, vai mudando de acordo com o desenrolar do combate, obrigando os jogadores a mudarem suas estratégias.

No geral, o multiplayer competitivo não é ruim, e sua jogabilidade funciona da maneira que você provavelmente esperaria de um título da franquia Call of Duty. Se você não gostava daquela mobilidade ensandecida dos jogos futuristas da série ou enjoou dela, provavelmente irá se divertir com a porção online de WWII, pelo menos até ser desconectado das partidas.

Trocando o assunto novamente, é hora de comentar a respeito do modo zumbi. Nele você precisa escolher um dos quatro personagens jogáveis interpretados pelos famosos atores Ving Rhames (Pulp Fiction: Tempo de Violência), David Tennant (Doctor Who), Katheryn Winnick (Vikings) e Élodie Yung (Os Defensores). Ao contrário da ideia vista em versões anteriores deste modo, onde você tinha de barricar as janelas para sobreviver o maior tempo possível, em WWII existe uma série de objetivos a serem completados, havendo itens que você pode consumir que dão algum benefício para você e/ou para a equipe. Dá também para subir de nível, o que lhe dá acesso a melhorias para serem colocadas nas armas que você compra nas partidas usando a moeda obtida matando os mortos-vivos. Por falar nos zumbis, a Sledgehammer caprichou no design deles, dando-lhes uma aparência verdadeiramente intimidadora. Há até mesmo momentos onde isso ajuda você a tomar alguns sustos.

O modo zumbi de WWII é claramente voltado para você jogar com seus amigos, pois a comunicação ajuda e muito na hora de completar os objetivos até eventualmente matar o chefe. Sem isso, em muitas ocasiões onde os jogadores que não souberem o que precisa ser feito ficarão apenas vagando pelo mapa, matando os inimigos sem nenhuma objetividade.

Após algumas partidas, tive a sensação de estar fazendo as mesmas coisas repetidamente, o que contribuiu para que eu ficasse entediado, algo que não aconteceu no multiplayer competitivo. Os problemas de desconexão também estão presentes aqui e de maneira ainda pior, já que se for desconectado no meio da partida, tudo que você atingiu nela é perdido, incluindo experiência para subir de nível, acessórios desbloqueados para usar nas armas e caixas de loot. Minha primeira partida, aliás, durou mais de duas horas e foi encerrada justamente desta forma, depois do grupo ter conseguido aguentar 28 ondas de inimigos. Imagine você ter chegado no nível 6 em uma única partida e perceber que foi tudo em vão.

Embora tenham havido mudanças interessantes no modo de jogo dos zumbis, ainda não foi dessa vez que ele tornou-se algo que lhe dá vontade de focar seu tempo e esforço.

No aspecto gráfico, trata-se facilmente do game mais bonito da série. Iluminação e texturas de altíssima qualidade, complementadas por cutscenes de cair o queixo. No PS4 Pro não tive problemas no que diz respeito ao desempenho. A taxa de quadros por segundo dava a impressão de estar constantemente na casa dos 60 fps, em todos os modos de jogo. No caso do PC, onde também tive a oportunidade de jogar, o game mostrou-se bastante leve na minha máquina equipada com i7-4790K, 16GB e GTX 970.

Uma cópia digital do game para PS4 foi fornecida pela Activision para análise.

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