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A Nintendo, o YouTube e o Switch

Estamos muito próximos do lançamento do Switch, o novo console da Nintendo. Até então sua proposta foi muito mais bem aceita por parte dos gamers do que o ocorrido no reveal do WiiU, apesar de o mundo dos negócios tão ter visto com os olhos mais empolgados a nova investida da Nintendo.

Dentre algumas das novidades anunciadas nessa semana, estão algumas características e serviços não antes focados pela gigante nipônica.

Agora a Nintendo terá um real dedicado serviço online e seguirá os passos de Microsoft e Sony, ou seja, terá um suporte eficiente e será pago. Ademais, finalmente um console da Nintendo não mais terá trava de região.

Se analisarmos o mencionado no parágrafo acima fica claro o quão a Nintendo até então possuía uma mentalidade corporativamente atrasada no mercado do entretenimento eletrônico. Afinal de contas ambas as “novidades” já fazem parte do hall de serviços e produtos de Sony e Microsoft há mais de uma década.

“Antes tarde do que nunca” o leitor pode retrucar e eu vou concordar. Finalmente a Nintendo, aparentemente, começa a ouvir e responder seus fãs, e os gamers no geral, a contento.

Entretanto um anuncio em específico, relacionado a mudança de postura para com os criadores de conteúdo gamer em vídeo, que era esperado por mim, não somente ficou de fora das novidades, bem como não tem previsão e já está fazendo duas vítimas: os criadores de conteúdo em geral e o próprio Switch.

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É inegável que atualmente o maior meio de alcance para criadores de conteúdo gamer em vídeo é o YouTube. Os principais criadores desse tipo de conteúdo possuem no YouTube seu principal meio de divulgação de seus trabalhos. Não para menos, pois é a maior plataforma para esse tipo de mídia no mundo.

Caso o leitor tente agora encontrar vídeos relacionados a produtos do mundo do entretenimento eletrônico de domínio de Sony ou Microsoft, a quantidade de resultados obtidos será enorme. Ao contrário, pouquíssimo conteúdo acerca de produtos relacionados à Nintendo será obtido. E isso não é coincidência.

A Nintendo atualmente trabalha de uma maneira toda própria para com criadores de conteúdo gamer em vídeo. Em resumo, um conteúdo de vídeo criado acerca de produtos da Nintendo deve primeiro passar pelo crivo da mesma. Somente caso a Nintendo aprove o material, o criador do mesmo poderá postá-lo e difundi-lo.

Para fazer parte do programa da Nintendo existem duas formas distintas.

A primeira é cadastrar o canal como um todo enquanto criador de conteúdo Nintendo, mas isso obriga que esse canal crie exclusivamente conteúdo referente Nintendo. A segunda é submeter vídeos individuais, um a um, para aprovação da gigante japonesa.

Deixando de lado minúcias sobre como o todo funciona, o importante é que caso o vídeo seja aprovado, ele poderá ser disponibilizado, mas parte da renda do mesmo (no caso de ser um vídeo monetizado) será revertido para a Nintendo. Se não for aprovado e ainda assim ser vinculado, 100% da renda desse vídeo irá para a Nintendo.

Caso seja disponibilizado um vídeo com conteúdo Nintendo sem passar pelo programa, o mesmo receberá um flag e 100% do valor que o vídeo render será direcionado para a Nintendo. Ou isso, ou o vídeo será removido.

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Importante destacar o tempo que a Nintendo se reserva para aprovar um vídeo, que é longo: 72 horas.

Não é difícil perceber o quão sanguessuga e de mentalidade retrógrada esse sistema o é. Ele basicamente deixa de incentivar, e até mesmo pune, quem quer criar conteúdo sobre produtos e jogos da Nintendo.

Até mesmo streams ao vivo de jogos da Nintendo são severamente punidos devido a forma como o qual a Nintendo resolveu trabalhar tais questões. Seja no YouTube, seja no Twitch, não se vê conteúdo de transmissão ao vivo de jogos da Nintendo em abundância.

Favor não confundir isso com Networking, assim como muito jornalista gamer o fez no passado. Uma Networking gerencia e paga pelo conteúdo criado, serviços que a Nintendo não passa perto de fazer.

Seguindo essa cartilha acima descrita, a Nintendo “flagou” muito vídeo com conteúdo relacionado a Switch de sexta-feira (13/01) para cá. Isso deixa claro que nesse aspecto não houveram alterações de políticas de serviço, mesmo com a eminência da chegada do novo console, e isso é ruim para a própria Nintendo.

Permitir que seja criado conteúdo acerca de seus jogos e produtos, além de trazer maior empatia para com a marca, garante maior visualização desses jogos e produtos ao redor do mundo. Ademais, sem esse programa ignóbil, criadores de conteúdo se sentirão motivados a criar tais conteúdos e isso faz com que a Nintendo sempre esteja “na boca do povo online”.

A Nintendo não pode sobreviver somente com seu público fiel e isso ficou claro com o fracasso do WiiU. Permitir que os criadores de conteúdo gamer em vídeo possam trabalhar livremente seria uma boa para propaganda e difusão da marca de maneira gratuita.

Atualmente não há agência de marketing no mundo que consiga o alcance que YouTubers e afins conseguem com o público alvo da Nintendo. É uma atitude com déficit de inteligência continuar com o atual sistema. Nesse caso, a melhor parceria que a Nintendo pode fazer com os criadores de conteúdo em vídeo é não meter o bedelho.

Espero que pelo menos até o lançamento oficial do Switch a Nintendo reveja e esse sistema de parceria ridículo que ela criou. Todos nós agradeceríamos.

Deixando claro que a concepção e aplicação dessa abominação é de origem da Nintendo of Japan. Previsível, eu diria.

Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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