Análises

Resident Evil 2

 

Resident Evil 2

Produzir uma sequência de um jogo nunca foi uma tarefa fácil, principalmente se for de um grande sucesso. Muita dessa dificuldade se deve ao “hipe” criado em torno desses títulos, gerando expectativas exageradas, e fatalmente, acaba virando uma grande decepção diante de seus fãs quando lançado, mesmo que o game não seja necessariamente ruim; exemplo mais clássico disso é Super Mario Bros 2, que até era divertido mas bem estranho e inferior a seu antecessor. Felizmente, esse “hipe” não afetou Shinji Mikami e sua equipe de desenvolvimento, fazendo com que Resident Evil 2 conseguisse a proeza de ser melhor em praticamente todos os aspectos se comparado com seu antecessor, tornando-se uma das continuações de maior sucesso no mundo do games e consolidando de vez a franquia como uma das melhores já criadas, com excelente número de vendas e uma legião de fãs pelo mundo todo.

 

Welcome to Raccoon City

Após o incidente na Mansão Spencer, os sobreviventes Chris e Jill tentam provar o envolvimento da Umbrella Corporation em experimentos com vírus na criação de armas biológicas (B.O.W. – Biologic Organic Weapons), como também apontam a companhia como a principal responsável pelos assassinatos ocorridos nas montanhas Arklay. Porém, sem nenhuma prova para incriminar a gigante farmacêutica, ninguém acredita em nossos dois heróis o que acaba obrigando a Chris ir até a Europa em buscas de provas – Jill iria encontrar-se com ele depois. Dois meses após o primeiro game, um acidente ocorre em um dos laboratórios secretos da Umbrella em Raccoon City, espalhando o T-Vírus por toda a cidade e transformando a famosa cidade em um local de morte e desespero. Um dia após a infestação do vírus na cidade, Claire Redfield, à procura de seu irmão Chris e Leon S. Kennedy, um policial novato em seu primeiro dia de trabalho, chegam à cidade condenada sem nem saberem o horror que os esperam. 

Ótima história e enredo

Resident Evil 2 é uma continuação direta de Resident Evil 1, não somente por trazer os elementos de seu antecessor mas por dar continuidade a sua história. Durante a jogatina será presenteado ao jogador muitos mistérios sobre a temerosa empresa farmacêutica, como a companhia Umbrella adentrou profundamente nas raízes de Raccoon City para fazer seus experimentos com um novo tipo de vírus – o G-Virus  uma variação do T-Vírus criado por William Birkin. Mostrará também o processo de queima de arquivos, as pessoas importantes na folha de pagamento da companhia para facilitar e esconder suas atividades obscuras além das brigas internas entre seus “funcionários” e a companhia. Tudo isso será passado ao jogador em um processo de conta-gotas, ou seja, nada é mostrado logo de cara ou explicado nos mínimos detalhes.

Apesar de ter muitos mistérios e suspense, a história de Resident Evil não é genial nem digna dos mirabolantes quebra-cabeças de Sherlock Holmes, mas Shinji Mikami sabe como ninguém passa-la ao jogador de maneira brilhante, dando pistas e semeando pouco a pouco a nossa imaginação até que as peças comecem a se encaixar e fazerem sentido para então tomar a frente e dar as devidas explicações, sempre de uma maneira charmosa e deixando pontas para enganchar novos eventos. Muito desse ótimo trabalho e “charme” se deve a dois fatores fundamentais, o primeiro aos personagens carismáticos e o segundo aos Files. 

Sem saudades de Chris e Jill

Leon e Claire são considerados por muitos como a melhor dupla da série, tanto que seus aparecimentos em games futuros renderam muitos elogios e ainda reeditaram a parceria em um filme produzido pela própria Capcom em parceria com a Sony. Ambos os personagens possuem motivos distintos para estarem em Raccoon City e ideais diferentes, assim como tem seus próprios papéis na trama do game, um complementando o outro, ou seja, para entender perfeitamente a história é preciso estar atento à campanha dos dois personagens já que elas estão entrelaçadas; essa jogada é simplesmente fantástica e evoluiu muito o que foi visto de forma tímida no primeiro game da série. Isso se deve a um sistema adotado pela equipe onde os personagens possuem dois tipos de cenários cada, A e B. Com isso em mente, o jogador terá quatro maneiras diferentes de encarar a aventura do game, com eventos acontecendo em ordem diferente, de maneiras diferentes e em locais distintos, sendo que cada personagem possui seus próprios eventos e explicações sobre a história na sua perspectiva, conferindo um ar diferente ao game e incentivando o jogador a revisitar as campanhas de Leon e Claire tanto no cenário A quanto no cenário B.

Somente dois personagens principais carismáticos não seria o suficiente se seus coadjuvantes não fossem tão bons quanto eles, e nesse quesito Shinji Mikami mostra que sabe criar personagens. Apesar de não serem muitos e alguns aparecerem em poucas cenas, a maioria dos personagens secundários é lembrada com muito carinho pelos fãs da série, passando pela bela e enigmática espiã Ada Wong que rende várias cenas emocionantes com nosso querido protagonista Leon, a esposa e filha de Willian Birkin, todos tendo suas aparições em momentos importantes da trama, sempre adicionando algo a mais ao game; é difícil você ter a sensação de que algum personagem de Resident Evil 2 esta lá só para preencher espaço e tempo no game, algo comum em tantos outros games que vemos por ai. Só para terem uma ideia de como o trabalho feito com os personagens é tão bom, que mesmo Hunk, um agente da Umbrella que aparece em praticamente uma cena na campanha principal além de protagonizar um mini-game é lembrado com muito carinho pelos fãs do game; o frio e implacável agente de poucas palavras que nunca deixa de completar sua missão e nunca morre, o que o levou a ganhar o apelido de “Sr. Morte”, já que é sempre o único a voltar vivo das missões. Se até um personagem que fala algumas poucas palavras durante todo o game é lembrado com tanto carinho, é impossível não criar laços com os demais personagens da série, principalmente com Leon, Claire e Ada.

Mais uma vez os Files mostrando sua importância!

Resident Evil 2 possui suas cenas de corte, além de algumas CG’s (cenas em computação gráfica) e todas elas são muito boas, servindo a seu proposito dentro do game que é explicar a história – seja presente ou passada – apresentar alguns inimigos e mostrar cenas de ação bem bacanas. Porém, nenhuma delas seria realmente boa ou teria o impacto necessário à ambientação e história do game se não tivessem os Files, arquivos encontrados no decorrer do game que continuam tendo grande importância para o enredo. Esses arquivos são relatos dos sobreviventes durante o caos que se sucedeu em Raccoon City após a infestação do T-Vírus, e mais uma vez mostram como os envolvidos fizeram para tentar sobreviver à situação extrema, não se limitando somente a isso, apresentando alguns monstros e explicando até os motivos mais banais do game, como do porque existe uma barricada em determinado local ou porque tem tanta munição espalhada pelos corredores do departamento de policia.

Além desses relatos, alguns explicam funcionamento de pluzzes e itens, outros acrescentam mais detalhes importantes com relevância à história, como o diário da secretária do chefe de polícia Brian Irons, e por ai vai. É recomendado ler todos eles, pois é parte fundamental na imersão do jogador e na ambientação do game – é extremamente gratificante e importante passar ao jogador o sentimento de estar em um local que foi realmente usado em atividades diárias das pessoas que lá estavam com suas próprias histórias e acontecimentos. Pegue por exemplo os relatos da luta dos policiais para manter um dos últimos locais considerados “seguro” em Raccoon City, o departamento de polícia, tendo que enfrentar tantas adversidades como falta de suprimentos e monstros inéditos atacando o local. É como disse na análise de Resident Evil 1, você esta lendo um pequeno livro, com a vantagem de estar dentro de um game.

Jogabilidade melhorada

Um dos pontos fracos de Resident Evil 1 era a jogabilidade, não pelo criticado sistema de câmeras que adotava mas pela movimentação travada e animações ruins. Nesse quesito, Resident Evil 2 deu um passo enorme com personagens mais ágeis e dinâmicos, o que permitia aos jogadores no controle dos personagens revidar com maior precisão e velocidade as ameaças do game. Além de ser muito mais confortável controlar Leon e Claire a Chris e Jill, o game já não pune o jogador em relação ao espaço no inventário, ele continua sendo limitado, porém existem mais salas com os famosos baús além de exigir que o jogador ande com menos itens do que no game anterior, isso evita a troca constante de itens e revisitação dos mesmos cenários por não ter espaço suficiente para coleta-los, o que era um tanto quanto incomodo no primeiro game.

Outro aspecto muito bem vindo é a melhora no sistema de mira do game, que agora possui uma “área de erro” maior que no jogo anterior, ou seja, mesmo que a arma não esteja alinhada 100% no inimigo você ainda poderá acerta-lo sem desperdiçar munição à toa por não conseguir mirar com precisão devido à câmera, além de oferecer ângulos melhores; isso não quer dizer que o game facilita a sua vida a ponto de corrigir erros grandes, portanto, fiquem atentos na hora de atirar. O sistema de saúde continua igual, com as ervas voltando além dos First Aid Sprays, porém houve uma adição muito bem vinda que é o personagem reagindo conforme o status da sua saúde; por exemplo, se sua vida estiver no Caution o personagem levará a mão no estômago e andará com menos agilidade, já no Danger o personagem ficará muito mais lento se arrastando pelo cenário. Uma adição muito bem vinda e que acrescenta tensão ao game – é meio desesperador ter de se esquivar de inimigos com a vida no Danger sem nenhuma erva por perto.

Os pluzzes continuam casando bem com a proposta do game, dando uma quebrada no ritmo e fazendo o jogador usar a cabeça, portanto, não se espante em ter de revisitar os cenários para solucionar os diferentes quebra-cabeças espalhados no decorrer da aventura. Outro ponto bacana é que Leon e Claire possuem algumas diferenças, além das armas e pluzzes diferentes, Claire é mais frágil ao passo que Leon é um pouco mais lento e enfrenta inimigos mais fortes, além de que as campanhas de Leon e Claire garantem controle por um breve período de um dos personagens secundários, Ada no caso de Leon e Sherry no caso de Claire.

A dificuldade no geral esta mais branda, menos proibitiva aos novatos e orienta melhor o jogador sobre o que fazer, inclusive oferecendo mais Fitas para salvar o progresso do game, e suprimentos maiores de munição e itens de cura, porém sem tirar do jogador o sentimento de poupar para não faltar; são dois modos de dificuldade, Normal e Hard, para atender aos diferentes tipos de jogadores. Jogar no Hard compensa o jogador com alguns extras, como conseguir a chave para pegar novas roupas e uma arma especial para Claire, que usa as mesmas balas da Handgun, além de mostrar desfecho de um dos sobreviventes do grupo S.T.A.R.S.

Tecnicamente superior

O game continua com mesmo sistema do anterior, câmera em terceira pessoa com ângulos de câmera já pré-definidos e cenários pré-renderizados, com os itens interativos modelados a parte, com a diferença de que tudo é melhor que no seu antecessor. Os cenários estão com texturas melhores, além de uma iluminação mais convincente e realista. Diferentemente do game anterior, os itens interativos não mais se destacam negativamente no cenário, pelo contrário, casam bem com o mesmo e o destaque fica por um brilho maior ou formato diferenciado, para que o jogador saiba que pode interagir com eles, além de terem uma modelagem muito melhor, aliás, está ai outro ponto que merece elogios, todos os itens estão bem modelados mesmo quando postos em uso, como as armas. Os personagens e inimigos ganharam uma excelente modelagem 3D também, com uma movimentação muito melhor e animações bem polidas e convincentes, desde o coice das armas ao simples fato de subir escadas ou em caixotes.

O design dos cenários esta melhor, além de ser mais divertido percorrer os corredores e laboratórios do game, alguns deles verdadeiramente marcantes, como o Departamento de Polícia de Raccoon, que inclusive abriga o escritório do grupo S.T.A.R.S. e traz alguns bônus muito bacanas, como um quadro com a foto da equipe Alpha e Bravo; diferente do que acontece no primeiro game, não é possível encontrar cenários sem inspiração, já que todos tiveram a devida atenção. Além de cenários memoráveis, continuam privilegiando os sustos, com inimigos saindo de tudo que é lugar, desde janelas a inimigos caindo do teto – um de meus maiores sustos no game foi em um dos corredores do R.P.D., e olha que nem vida o inimigo te tira nesse momento (não vou contar exatamente onde para evitar Spoiler de quem não jogou ainda, como os que iniciaram em RE4). Vale destaque também para as cenas em CG – Graphic Computer ou Computação Gráfica – já que são muito bem feitas e pontuam momentos importantes da aventura, como a introdução do game a explicação de eventos passados.

A parte sonora evoluiu também, os efeitos sonoros das armas ficaram mais reais, os inimigos continuam com um ótimo trabalho em seus ruídos, principalmente os zumbis que agora são bem mais característicos, além dos sons de ambientes serem melhores retratados, como passos dos personagens que mudam conforme o piso e dimensão do local. A trilha sonora é simplesmente sensacional, com faixas que se adequam exatamente ao momento e ambiente, com trilhas mais agitadas, outras mais sinistras e as calmas e reconfortantes das salas do baú. Uma das músicas que mais gosto é as que tocam enquanto se esta dentro da delegacia, que são marcantes e basta alguns segundos para que todos que jogaram RE2 reconheçam. 

Extras bem vindos

Além dos dois cenários, Resident Evil 2 possui alguns extras que são desbloqueados conforme se atinge determinadas condições, como zerar o game em menos de duas horas e obter rank S, ou não pegar nenhum item até chegar no R.P.D. na dificuldade Hard. Esses extras são três armas especiais – além de uma especialmente para Claire -, roupas extras e mini-games, que divertem bastante, sendo um deles protagonizado pelo querido e calado Hunk. Ao todo, os mini-games são três:

– The 4th Survivor: Protagonizado por Hunk, além de dar uma explicação definitiva do porque ocorreu à infestação com T-Vírus na cidade de Raccoon City. Com Hunk em mãos o jogador deve voltar dos esgotos de Raccoon City até o heliporto do R.P.D. (Raccoon Police Department – Departamento de Policia de Raccoon).

– The Tofu Survivor: Por mais incrível que pareça, trata-se de um grande pedaço de queijo chinês a base de soja, e a sua missão é igual à de Hunk, chegar ao heliporto do R.P.D. A diferença é que Tofu só tem uma faca e consegue aguentar mais danos; é um modo de jogo bem hilário na primeira vez.

– Extreme Battle: Como de praxe da Capcom, Resident Evil 2 teve várias versões para várias plataformas diferentes, e nas últimas versões ganhou esse mini-game como incentivo a compra, além do Modo Arrange que garantia as três armas liberadas no final do game com munição infinita e dificuldade menor. Esse mini-game acompanhou o pacote, onde você controla quatro personagens diferentes em três estágios distintos da campanha principal. O objetivo é desarmar as bombas espalhadas pelos cenários e a posição delas muda conforme se inicia uma nova partida.

Curiosidade à parte

Tomei a liberdade para relatar um fato curioso que ocorreu comigo. No início do game, no cenário A de Leon, ao entrar no ônibus nas ruas de Raccoon City (onde tem um zumbi mulher rastejando e outro em pé), presenciei algo incomum. Matei a mulher rastejando, peguei a munição na sacola, recarreguei a arma e fui atirar no outro zumbi, porém, foram precisos três pentes inteiros para matar o zumbi! Nem mesmo os zumbis sem pele são tão resistentes e deve-se levar em consideração que a Handgun de Leon é mais forte e tem 18 balas em cada pente. Seria um bug ou algo que o zumbi comeu”? xD Caso já tenha acontecido com alguém fato similar, por favor, partilhem com todos nós nos comentários; sintam-se livres e incentivados a compartilhar também momentos marcantes de suas experiências com o game.

 

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