Análises

Shadow Dancer: The Secret of Shinobi

Shurikens, ninjas assassinos e um cachorro como parceiro!

Acabei de assistir a um filme de ninjas (Marcado Para Morrer/The Hunted, com Christopher “Highlander-Raiden-Tarzan” Lambert, se você quiser conferir, eu recomendo) e me deu uma baita vontade de escrever algo sobre o tema, e escolhi para tal um dos maiores clássicos dos 16 Bits e do Mega Drive: “Shadow Dancer“.

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Se você jogador geração “justin biba” tem como referência apenas Ryu Hayabusa quando se fala em games de ninjas, saiba que nos anos 80/90 quem ruleava no manejo da katana, shurikens e ninjitsus era o ninja Joe Musashi, da antológica série “Shinobi” (e também não é totalmente culpa de vocês, a Sega deixou a franquia meio esquecida mesmo –  o último título, que não fez muito sucesso, foi “Kunoichi”, de 2003).

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 Shadow Dancer em sua versão arcade

Mas antes de falar sobre “Shadow Dancer“, que é uma sequência direta do também mega-ultra-clássicoThe Revenge of Shinobi“, vamos relembrar o que aconteceu antes disso. O primeiro game da série foi lançado para arcades em 1987, batizado simplesmente de “Shinobi“, e já tinha como protagonista Joe Musashi (originalmente era para o game se chamar “Musashi”, mas a Sega achou que a pronúncia de “Shinobi” para os norte-americanos seria mais fácil), um ninja enfrentando os perigos de um Japão moderno. Sua missão era combater a organização criminosa Zeed, que está raptando crianças para treiná-las como ninjas aos seus serviços. Já nesse primeiro game, Shinobi ganhou enorme status e popularidade, recebendo uma versão para Master System igualmente popular, e para vários computadores da época (inclusive uma versão pirata horrível para nintendinho), e assim logo veio uma continuação: “The Revenge of Shinobi“.

A Sega acabava de lançar o seu 16 Bits, e para mostrar do que o bichão era capaz, criou um jogo totalmente novo de um de seus mais famosos arcades da época. O resultado: sucesso absoluto! Ele não só trazia a fórmula que fez do seu antecessor um sucesso: jogo de plataforma com ninjas, demônios japoneses mitológicos, monstros, robôs e situado nos tempos modernos; mas também ia além, trazendo cenários maiores e mais complexos. Joe Musashi ganhou uma nova aparência, e ficou muito mais estiloso (e parecendo mais com um ninja agora). Três anos se passaram e organização criminosa ressurgiu sob um novo comando, agora batizada de Neo Zeed, e sedenta por vingança pelo ninja que os destruiu antes. Assim, eles matam o mestre de Shinobi e raptam sua namorada, e uma nova jornada sangrenta se inicia para o nosso ninja vingador.

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 luta mortal sob os olhos da estátua da liberdade

O Dançarino das Sombras

E acredite, a única coisa mais legal de se controlar um ninja em um game, é controlar um ninja E um cão assassino sob seus comandos! Bem antes de “Dead to Rights: Retribution” ou “Call of Duty: Ghosts” aparecerem, a Sega já inovava o mercado ao oferecer para o jogador o controle de um cão sanguinário para matar os inimigos.  O game oferecia quatro estágios, divididos em quatro capítulos, e tinha uma dificuldade acima da média.

Curiosamente, o jogo não possui nenhum tipo de história ou introdução, e a identidade do ninja é desconhecida, sendo que seu nome (ou do cachorro) não é citado em nenhuma parte da aventura. Apenas parta com o seu amigo canino e mate os ninjas-terroristas na cidade. Essa versão ganhou conversões para Master System e computadores, e em 1990 o Mega Drive ganhava um remake – com o subtítulo “The Secret of Shinobi – que pasmen, era mais arrojado e melhor que a versão arcade (ah Sega, bons tempos os seus que não voltam mais)!

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 desça a Katana nesses ninjas saltitantes!

Malditos ninjas, mal posso ver os seus movimentos!

Assim como em “Revenge”, a Sega não fez uma mera conversão do arcade para o seu 16 Bits, mas o reformulou totalmente, e o resultado ficou ainda melhor. O jogo agora possui cinco fases, divididas em três capítulos (sendo o terceiro o chefão), com algumas delas inspiradas na versão arcade (com várias modificações), e outras totalmente novas e fresquinhas (como o belo cenário da estátua da liberdade). E o melhor, o game ganhou uma história! Duas na verdade: o manual da versão japonesa diz que o ninja é Hayate, filho de Joe Musashi, enquanto o manual americano diz que é o próprio Musashi, que voltou depois da aposentadoria. Como eu gosto mais da versão americana, vamos a ela:

Vingança na Grande Maçã

O jovem morreu pelas mãos de ninjas do clã Union Lizard, um vasto e poderoso grupo que recebem ordens de um “demônio lagarto”. Eles já dominaram as ruas de Nova York, e pretendem estender o seu território ainda mais, espalhando destruição e capturando pessoas inocentes. A única esperança agora reside no ninja das sombras Shinobi e o seu ninja-dog, Yamato, para pôr abaixo mais um sindicato criminoso (o que para Shinobi, já virou rotina).

A Sega já acertou ao inserir uma narrativa bem bacana ao game, colocando “nome aos bois” e adicionando aquela pitada de mitologia japonesa, bastante comum nas histórias ninjas, na forma do “demônio lagarto” e a sua gangue nos tempos modernos. A primeira fase já impressiona, com a cidade sendo queimada (com um efeito de fogo muito legal ao fundo) e sofrendo terremotos, além claro de estar infestada de inimigos pelo caminho.

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 salve as garotas e garante power-ups para seus shurikens

Em comparação ao arcade, os personagens estão menores na tela, mas mantém um excelente design de arte, até mais bonito que nos fliperamas. Shinobi mudou seu guarda-roupa ninjístico, e agora sua vestimenta lembra mais uma armadura, sem esquecer a máscara e a katana nas costas, o que lhe confere um visual bacaníssimo na tela. E ter um cão como parceiro ajuda ainda mais neste quesito.

Os cenários em si não traziam grandes novidades para a época, seguindo a fórmula de jogos de plataforma 2D, mas eram muito bem feitos e detalhados, contando inclusive com alguns efeitos especiais, como quando se usa as magias, ou efeitos parallax de nuvens e água se movendo em planos diferentes, criando mais movimentos/animações e deixando as áreas mais belas. O jogo está mais colorido, com contrastes mais fortes, no arcade as cores eram mais claras e brandas, aqui estão mais escuras e sombrias, também uma melhora significativa.

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 o game conta com belos cenários ao fundo

Shadow Dancer” tem uma dinâmica diferente de “Revenge”, apesar de ambos serem games de plataforma 2D. Aqui você precisa salvar reféns durante o caminho (que dão bônus e power ups), e os cenários não são tão complexos também. Basicamente vá andando para frente e matando inimigos, de vez em quando é preciso subir ou descer. É possível subir em plataformas ou passar para o outro lado de uma cerca, por exemplo, apertando para cima mais pulo. Shinobi pode usar como armas shurikens (as famosas estrelas mortais de ferro) infinitos, sua espada quando próximo de inimigos e três tipos de de magia Ninjitsu que mata todos os inimigos da tela – que só pode ser usada uma única vez a cada estágio, muito boas para os chefões também. São elas:

Fire Magic: Pilares de fogo surgem para torrar seus oponentes.
Meteor Magic: Rochas flamejantes caem do céu para esmagar todo mundo.
Wind Magic: Tornados avassaladores destroem o que encontram pelo caminho.

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duas das magias que podem ser utilizadas

A fórmula é simples, mas o resultado é diversão garantida, especialmente pelo uso do cão Yamato, uma novidade para o estilo do jogo. Ele não está lá só de bonito não, Yamato realmente ajuda em trechos mais complicados ou inacessíveis para o ninja. Basta manter pressionado o botão de ataque até o ícone no meio da tela estar cheio, então soltar o botão para a fera “morder o biscoito” (alguém aí já assistiu “K-9 – Um Policial Bom pra Cachorro“?) do inimigo mais próximo. Enquanto o cara tenta se livrar do bicho, você vai lá e corta o mané no meio ou tasca uma estrela mortal na cabeça do fulano, abrindo caminho. Mas cuidado, se você demorar muito quando Yamato estiver mordendo o inimigo, ele vai levar uma “bicuda” e vai se transformar num adorável e inofensivo filhotinho, até que você encontre um refém e ele possa voltar ao seu tamanho normal.

Apesar dessa grande ajuda canina, a dificuldade do jogo está um pouco acima da média, Shinobi pode ser um ninja poderoso, mas se você levar um único tiro, uma porrada, uma espadada, ou sei lá o quê, já era uma vida. Não há barras de energia e as fases têm limite de tempo, então não se enrole muito. Caso um inimigo esbarrar ou cair em cima de Shinobi, ele será apenas empurrado para trás. Os inimigos se posicionam em lugares estratégicos, ou se defendem de seus ataques, o que vai exigir que você busque por proteção atrás de caixas/pilares e espere o momento oportuno para atacar silenciosamente e mortalmente, ou então que use o seu estiloso dog para limpar a barra. Não chega a ser um bicho de sete cabeças, mas os novatos certamente vão encontrar alguma dificuldade. Há inclusive um modo para se tirar os shurikens e ir apenas com a katana, chutes, a cara e a coragem (realmente um desafio somente para ninjas)!

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 maldito ninja-dog, mal posso ver os seus movimentos!

Os chefões são criaturas/monstros demoníacos, bastando apenas decorar o padrão de ataque e acertar shurikens na cabeça. Os inimigos, apesar de terem designs bacanas, não são  muito variados, e já nos dois primeiros estágios você deve encontrar toda a galera que irá surgir até o fim do game. Ah sim, entre as fases há os Bonus Stages muito divertidos, em que Shinobi está em plena queda livre entre dois prédios e tem que matar todos os ninjas que surgem.

Por fim, a ausência do lendário Yuzo Koshiro na trilha sonora realmente fez MUITA falta (segundo o próprio, a Sega tinha equipes diferentes para cada jogo Shinobi lançado), não repetindo as maravilhosas composições de “Revenge of Shinobi”. Mas os temas musicais em “Shadow Dancer” não chegam a ser ruins, são razoavelmente boas e combinam com a ação da tela, algumas delas originadas da versão arcade (e até melhores no Mega Drive). Os efeitos sonoros também estão bem utilizados, e estão até em maior número do que o jogo original, o que também é um ponto positivo.

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as divertidas fases bônus

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Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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