Análises

Strider

O ninja da Capcom em sua era de ouro

Se você parou por aqui ou foi movido pela nostalgia ou pela curiosidade, mas seja lá qual for o motivo, você não vai se arrepender. Esses dias enquanto eu jogava “Murasama: The Demon Blade” para Wii fiquei com uma p*&¨% vontade de jogar “Strider“, do Mega Drive. O estilão 2D de Murasama instigou minhas células nostálgicas e então fui lá relembrar meus velhos tempos de Strider. Afinal, não foram apenas Joe Musashi e Ryu Hayabusa (da série Shinobi e Ninja Gaiden respectivamente) os únicos ninjas famosos dos games. Como de praxe, vamos antes falar da produção e origem do jogo Strider.

Final dos anos 80, na minha modesta opinião a era de ouro da história dos videogames, um ano antes de fazer sua estreia nos arcades em 1989, pelas competentes mãos da Capcom (ainda sem a gloriosa fama de “Street Fighter II”), Hiryu (o personagem principal de Strider) apareceu no mangá Strider Hiryu, que mostra de maneira mais profunda a vida do ninja antes dos games. Publicado pela famosa editora Kadokawa Shoten de maio a outubro de 1988, a série foi desenhada por Tatsumi Wada e escrita por Tetsuo Shiba, artistas não muito conhecidos, em parceria com a Capcom, que estava para lançar um jogo para Nes (o nintendinho 8 bits) baseado no mangá. Porém durante o desenvolvimento do jogo, a Capcom ficou mais ambiciosa e empolgada e tomou a feliz decisão de transferir o projeto para sair em arcades e cancelou a versão nintendinho (que acabou sendo lançada mais tarde, mas o jogo é terrível). O mangá conta uma história ambientada no futuro, com uma organização de ninjas chamada Strider, que luta pelo bem do mundo.

O arcade foi lançado e se você foi um feliz gamer de “flipers” daquela época deve se lembrar do estrondoso sucesso que Strider fazia, com uma ação frenética, ótimos gráficos e vozes digitalizadas. Porém a versão arcade não era fiel ao mangá e muita coisa na história foi mudada, ficando bem menos desenvolvida, mas apresentava estágios sensacionais, como a fuga de explosivos da Sibéria, salas antigravitacionais e  pasmem, até um T-Rex tecnorgânico na Amazônia. Com o sucesso absurdo, o jogo logo ganhou várias versões para diversos videogames e computadores da época, mas a maioria tudo um lixo. O port para o computador japonês X68000 é tida como a mais perfeita, mas ficou restrito ao Japão e foi no Mega Drive que o jogo se tornou um sucesso a nível mundial.

o visual de Hiryu no mangá… bem diferente do que sairia no arcade

Certamente quem é da época lembra das propagandas de Strider para Mega Drive, um “jogo revolucionário com incríveis 8 Mb” – esse era um dos seus slogans e provavelmente foi o primeiro cartucho de 8 Mb em um videogame. E realmente o jogo era bem incrível, recebeu muitos prêmios na época e era muito próximo da versão arcade, com sprites grandes e bem definidos e uma ótima jogabilidade e músicas. A versão para Mega Drive era realmente como se tivesse o arcade em casa, ou pelo menos algo muito próximo disso. Jogos como “Strider, Altered Beast, Golden Axe” e “Shinobi” eram exemplos de ótimas conversões caseiras para um console doméstico, de famosos jogos de arcade o que foi motivo para muita gente comprar o aparelho (e motivo de festa para o pessoal de marketing da Sega).

Um tempo depois Strider recebeu uma continuação bem ordinária, que não foi produzida pela Capcom mas pela US Gold. O jogo era tão ruim que foi mal recebido e não fez sucesso algum. Em 1999 a Capcom lançaria oficialmente “Strider 2” para arcades, esse sim um jogaço que ganhou uma versão para Playstation. Este foi o último game estrelado por Strider Hiryu, mas ele também aparece como personagem jogável em jogos de luta como Marvel vs Capcom, entre outros da empresa. Então se você é fã de jogos de luta e nunca soube da onde veio o tal do Strider Hiryu, está aí toda a origem do ninja da Capcom.


esse é o design atual de Hiryu, mais parecido com o original do mangá

A História

Em 2048 um pequeno país da Europa conhecido como Kafazu está dominado por um misterioso exército, que começa a controlar toda a Europa e outros continentes. O líder desse exército é conhecido como Grandmaster Meio (uma espécie de Imperador Palpatine). Hiryu, o mais jovem e forte do grupo Strider é escolhido para deter Meio. Você começa o game nos céus de Kafazu (segundo o manual do jogo, mas na tela aparece Cazaquistão), onde o caos começou, em meio a som de alarmes e o exército atrás de você. O maligno Grandmaster Meio planeja governar o mundo de sua estação espacial Death Star, construída entre a Terra e a lua.

 

O Game

Graficamente Strider é muito belo, para os padrões da época, e quase idêntico ao arcade. Muito pouco foi perdido na conversão, como alguns trechos backgrounds que foram eliminados, as vozes digitalizadas foram removidas, uma barra preta no topo da tela, mas fora isso era como jogar a versão de arcade. Imaginem uma época que os melhores jogos eram do nintendinho 8 Bits, que nem de longe se pareciam com os jogos de arcade. Então surge um console caseiro que apresenta games com um visual muito próximo aos dos fliperamas, era alegria pura.

 

aqui começa sua aventura no futuro; o campo gravitacional era uma sensação na época

Foi uma sensação e tanto, e Strider foi um dos games percussores dessa nova geração. A Sega fez um bom trabalho no game (a Capcom tinha contrato de exclusividade com a Nintendo, por isso terceirizou Strider para a Sega), criando sprites grandes dos personagens, visualmente bem animado e bem fiel ao original. Por vezes pode aparentar um visual meio bizarro, como o design dos inimigos de Hiryu, que lembram um pouco o exército russo. Mas isso já veio do original, que na época em que foi lançado ainda havia a Guerra Fria, então basicamente você luta contra os comunistas, tem até um inimigo no game que é irmão gêmeo de Mikhail Gorbachev pra se ter ideia.

O primeiro chefe do jogo usa como armas uma foice e um martelo, símbolos do comunismo presentes na bandeira soviética. Além deles, há robôs com designs bem bacanas, alguns que até se parecem o Ed-209 (aquele robozão bacana dos filmes Robocop) e outros brinquedinhos mecânicos espalhados pelas fases. Os chefes são um espetáculo de criatividade e design, como a serpente robótica, um gorila mecânico, porém o mais impressionante de todos é o campo gravitacional, em que Hiryu fica girando em torno do núcleo.

 

um dos melhores momentos do game, correndo nas montanhas da Sibéria

Como um ninja do futuro, Hiryu é muito habilidoso e ágil, usa como arma a Cipher, uma espécie de tonfa de plasma, que durante seu caminho pode ficar mais forte com power-ups. Você também contará com a ajuda dos droides “Options“, na forma de cogumelo (na falta de algo melhor como comparação), uma águia e uma pantera, que lhe ajudarão a matar os inimigos. Mas certamente o maior barato de Strider é o de Hiryu ser praticamente o Homem-Aranha, podendo escalar paredes e teto. A jogabilidade é excelente e muito fácil de se controlar, Hiryu pode ainda dar umas rasteiras, para passar por lugares estreitos ou acertar inimigos.

Todas as 5 fases do arcade estão presentes no Mega Drive. Você começa na cidade de Kafazu, depois passa pelas montanhas gélidas da Sibéria, então voando na Fortaleza Voadora de Balrog, nas selvas da Amazônia (com belas amazonas pulando pelas árvores e dinossauros pelo caminho… os produtores deviam ter bebido muito sakê…) e por final a fortaleza no espaço de Grandmaster Meio.

 

ande pendurado pelos tetos e detone com os inimigos

A trilha sonora é muito boa e casa bem com a ação intensa de Strider e muda diversas vezes enquanto você joga uma determinada fase, dando mais atmosfera e dramaticidade ao clima do game. (a minha preferida é a da primeira fase, escute-a abaixo). Os efeitos sonoros são vários e bem produzidos, como explosões, tiros, e sirenes de alarmes, mas o som repetitivo produzido por sua arma pode não agradar depois de um tempo.

Mas nem tudo é lindo e maravilhoso em Strider, então agora vamos aos seus defeitos. Pra começar, o jogo é MUITO curto, mesmo para os padrões dos anos 80. As cinco fases passam voando, em meia hora no máximo você termina o game. Possui alguns slowdowns e umas falhas gráficas, mas nada que incomode. Fora isso, o game não apresenta muitos defeitos, se fosse mais longo ou tivesse extras, seria um jogo perfeito.

 

Strider Hiryu: the best fuckin ninja from Capcom

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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