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O Mundo Antes da Internet: Revistas de Games

A internet é mesmo algo fascinante. Informações do outro lado do mundo chegam até nós em questão de minutos, serviços de stream não nos deixam sem que tenhamos imediato acesso a nossos programas e filmes favoritos instantaneamente, jogar com amigos que não podem estar conosco é simples e funcional. Mesmo acompanhar eventos ao vivo é algo absolutamente cômodo e natural atualmente.

Muitos dos leitores que aqui estão nesse momento por certo não puderam ter a experiência de viver em um mundo em que a internet não era tão difundida, em especial no Brasil. Em nosso país, mesmo a internet discada demorou a chegar e não era de boa qualidade a priori. Fora as limitações de uso da própria tecnologia, que fazia os entusiastas do Word Wide Web aguardarem ansiosos o sábado pós 14h para acessarem em um horário decente, mesmo que em detrimento do uso do telefone.

Vivi por muitos anos em um mundo antes mesmo da internet discada existir por aqui (pelo menos para uso do público). O meio mais ágil de recebimento de informação era a televisão e como devem imaginar, o videogame ainda não era algo tão popular o quando o é hoje. Na verdade o ato de se jogar era até relativamente marginalizado, em especial se você não fosse uma criança.

A pessoa adepta ao mundo dos games até boa parte dos anos 90 tinha somente um refúgio para se inteirar das novidades de sua paixão, as famosas revistas de games.

Hoje consideradas ultrapassadas e por grande parcela gamer ignoradas (tem gente que nem sabe que existem ainda), revistas de videogames possuem uma inenarrável importância na história da difusão da cultura do entretenimento eletrônico em nosso país.

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Em edições mensais, as revistas de games traziam basicamente o mesmo tipo de conteúdo textual que um grande portal de games atual possui. Basicamente eram compostas de seções de leitura e respostas de cartas, previews, reviews, artigos especiais, detonados e dicas de jogos.

Cada uma tratava de maneira bem particular cada uma dessas seções, bem como possuíam estéticas visuais bem únicas. Destaco aqui a seção de cartas, que basicamente ocupava os comentários em tempo real que hoje os portais possuem em cada um de seus textos. A vantagem aqui é que a “moderação” realmente era funcional e coisas como picuinhas sem sentido e ofensas não eram direcionadas para a edição final.

Como era muito assunto para tratar por edição, os reviews eram muito mais objetivos, até mesmo superficiais. Cada qual, regularmente, ocupando no máximo uma página de cada edição, incluindo fotos, ficha técnica e ficha de avaliação.

Com o tempo e o aprendizado acerca do mundo dos videogames, tanto por parte do público, quanto por parte das próprias equipes por trás das revistas, foi-se dando maiores destaques para jogos e eventos mais importantes, fazendo-os ocupar maior parte das edições. Com isso chegaram artigos maiores e mais informativos, previews com mais foco no que era mais importante e reviews mais trabalhados para alguns jogos.

Foi com as revistas de games que conhecemos a E3, ainda em estágios embrionários. Todo ano aguardávamos ansiosos a edição de nossa revista favorita que traria o artigo especial sobre a E3.

Para quem está acostumado com as facilidades de hoje, em que é possível acompanhar todas as novidades em tempo real, pasme ao saber que no passado as informações sobre a feira chegavam até nós com média dois meses depois da feira ter acontecido.

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Isso mesmo, um gap de tempo de dois meses dependendo da data do evento e da data de fechamento da edição da revista.

Por mais penoso que possa parecer para alguém que entrou no mundo dos games mais recentemente ter de aguardar a data prevista de recebimento da edição do mês nas bancas, se deslocar até a banca para adquirir a revista e ainda se deparar com informações atrasadas, para quem viveu esse período isso tudo é muito nostálgico.

Na verdade muitos de nós sequer sabíamos de todo esse atraso, afinal de contas não tínhamos como saber mesmo. As revistas eram literalmente nossa fonte exclusiva de informações gamer.

Ademais, alguns pequenos prazeres de outrora são insubstituíveis. Pessoalmente sempre ficava fascinado pelas artes das capas e as competições de desenhos, que inclusive me incentivaram a aprender a desenhar. Além de me manter informado sobre uma de minhas paixões, por intermédio das revistas ganhei incentivo para obter uma nova habilidade que se tornaria, por muitos anos, uma outra de minhas paixões.

Com a advento da internet e sua ascensão em qualidade, disponibilidade e acessibilidade, as revistas de games foram caindo uma após a outra. As duas maiores representantes de uma era, a Super Game Power (fusão de outra duas revistas da época) e a Ação Games, hoje existem somente em caixas de revistas antigas de pessoas que viveram o período de sua relevância, ou em sebos. Resquícios daquilo que chamo de “período romântico dos games no Brasil”.

Caso você não tenha conhecido nenhuma revista de games dos anos 90, recomendo que vá a um sebo e adquira algumas que mais lhe chamar a atenção. A experiência de ter o contato com uma revista mais antiga é diferente da que terá com uma revista de circulação atual. A revista é um direto reflexo de o como se trata um assunto no momento em que ela é lançada, assim sendo, lendo revistas antigas será evidente o como o assunto era tratado na época e o como se deu gradualmente a evolução jornalística do mundo do entretenimento eletrônico no país.

Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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