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Porquê o Dreamcast não deu certo

O que realmente aconteceu com o Dreamcast? Um console que podia ser o sonho de consumo de qualquer gamer da geração passada? Por que parou de ser produzido sem maiores explicações pela Sega 2 anos depois de sua entrada no mercado?

Jogadores de videogame do mundo todo estariam envolvidos em uma conspiração para derrubar o console da Sega, por meio de lavagem cerebral? É isso que vamos tentar desvendar nesse artigo, mostrando o porquê do declínio de um dos melhores consoles já produzidos em todos os tempos.

O início do “sonho” foi uma maravilha. O Dreamcast surgiu como o primeiro aparelho da transição da “geração 32″ bits para o salto na era “128 bits“, tendo seu maior rival na época o pequeno gigante Playstation (Ps One). A Sega fez uma associação com a Microsoft para desenvolver uma engine de programação baseada no Windows CE, prometendo que seria muito mais fácil criar jogos para este sistema do que para o antigo console Saturn que deu uma dor de cabeça em diversas produtoras no mundo todo.

Dreamcast tinha gráficos e sons incomparáveis com seus concorrentes, além de promessas de games super interativos. Além disso foi o primeiro console a vir com um modem embutido (em alguns lugares como no Brasil foi vendido separado, é verdade), prometendo assim levar a casa de jogadores do mundo todo a internet como meio de diversão e jogatina online, além da possibilidade de baixar novas fases e muitas outras coisas. Em termos de mercado o Dreamcast vendeu muito bem quando foi lançado e apesar de não ter suporte em games de empresas terceiras, ele tinha títulos de qualidade da própria Sega. Ia tudo muito bem, só que 2 anos mais tarde a Sega anunciaria o fim do Dreamcast e sua saída do mundo dos consoles caseiros.

Existem 3 fatores principais para o fim do Dreamcast:

Pirataria

O Dreamcast tinha uma falha séria em seu sistema, que possibilitava o uso de cópias piratas, sem a necessidade de um modchip. Muitos escolheram ter sua gameteca de títulos piratas ao invés de gastar 40 ou 50 dólares por jogo. E o que é pior, a maioria dos games piratas funcionavam e muito bem na internet, como Quake 3 Arena. Ou seja como a coisa era muito nova nesse quesito online, não foi desenvolvido um sistema para barrar as cópias de entrarem nos servidores oficiais.

 

Sega não inspirava confiança mais

Alguém aí lembra do SegaCD? Que tal o 32x então? Ahh claro tem também o Saturno. Antes do Dreamcast a Sega já havia experimentado falhas terríveis e antes do Dreamcast, havia o Sega Saturno, uma falha absoluta, apesar de ser um bom console. Era comum nessa época a Sega inventar novos acessórios para seus videogames, e logo após um tempo abandonar a plataforma e largar os usuários na mão.

Muita gente não comprou o Saturno por causa disso, e esse mesmo medo foi visto no lançamento do Dreamcast. Lembro de alguns amigos que disseram “não comprarei o Dreamcast, a Sega vai acabar abandonando ele mais cedo ou mais tarde“. Dito e feito. Ou seja mesmo antes do lançamento do console a Sega já estava com o filme queimado. A confiança na marca Sega tinha ido pro beleléu. E isso não foi apenas no cliente final, as empresas preferiram apoiar o PS2 da Sony que ainda não tinha sido lançado, do que investir no videogame da Sega.

 

“Overhype” do PS2

Nunca um console foi tão “hypado” do que o Playstation 2. O campeão em vendas em 1999 era o Ps One, então naturalmente todos esperavam um super console da Sony. Muito se dizia do poderio gráfico do Ps2, as especificações técnicas que eram mostradas assim como demos e trailers pareciam algo absurdo. Não foi exatamente isso que foi mostrado na primeira leva de games: o Dreamcast e o Ps2 tinham muito em comum e fora alguns games como GTA 3, as conversões feitas para o aparelho da Sony ficaram muito a dever. E claro o PS2 ganhava obras-primas como Ico, que não duvido que rodasse no Dreamcast se fosse o caso.

 

Conclusão

 A Sega por pouco não foi a falência com o fracasso do Dreamcast, e resolveu parar a produção antes que tudo fosse pra cucuia. No dia do anúncio do fim da era Dreamcast, a Sega prometeu continuar desenvolvendo games agora como uma “third” e então pela primeira vez vimos games da Sega em consoles de empresas até então concorrentes. Jogar Sonic em um aparelho da Nintendo é realmente algo estranho para os mais antigos que presenciaram brigas feias entre as duas empresas quando estas dominavam o mercado.

Por outro ponto de vista, a Sega não fez um marketing eficaz do Dreamcast. Seu objetivo era bater Sony e Nintendo lançando um console superior com tecnologia mais nova mas não teve os cuidados
necessários pra isso. As pessoas queriam o PS2 por causa da campanha forte da Sony em torno do seu aparelho. A Sega sabia que seu console era bom, mas confiou demais em sua base instalada e nos fãs da empresa, e o que todos queriam na verdade era sem dúvida o PS2 e não o Dream. A Sony já tinha o Ps One, e foi fácil trazer os consumidores dele para a nova geração.

Alguns games que fizeram história no Dreamcast:

 Shenmue

A obra prima do Dreamcast, o game que inaugurou o sistema “FREE“, em que você se interage com qualquer objeto do cenário que esteja disponível, e claro você tem toda liberdade para andar pela cidade, falar com as pessoas, etc. Além do mais o game tem uma direção de arte fantástica, um personagem central (Ryo) muito carismático, e uma história bacana. Shenmue saiu só para o Dreamcast e os possuidores de Playstation 2 amargaram e muito, o diretor do game Yu Suzuki disse que o aparelho da Sony não tinha mínimas condições de rodar o game.

Shenmue 2

Uma das maiores continuações de todos os tempos. Se Shenmue já era uma revolução, a segunda parte veio para sacramentar. O game tirava água de pedra do Dreamcast, inclusive eram notados slowdowns em muitas partes, principalmente na abertura, em que Ryo chegava de barco a Hong Kong, o que aliás é uma das aberturas mais lindas feitas em tempo real da história dos videogames. O jogo ganhou uma versão para Xbox, sem os slowdowns e com alguns efeitos de câmera a mais, porém não tinha o mesmo charme da versão para o branquinho da Sega.

Power Stone 1 e 2

Um game bem legalzinho de luta da Capcom, uma espécie de Mario Party misturada com Smash Bros e personagens originais. Muito colorido e divertido.

 

Worms World Party e Worms Armageddon

Hoje em dia temos os Worms 3d, porém não chegam nem perto da diversão da antiga versão 2d. A versão World Party pode-se jogar de 4 pessoas cada uma com um controle, lembre-se que o Dreamcast tinha entrada pra 4 controles nativamente. Alguém ae falou em diversão e replay infinitos?

Blue Stinger

Não foi um sucesso na crítica, mas era legalzinho. Uma mistura de Resident Evil meio futurista, com gráficos muito bem feitos na época.

Resident Evil Code Veronica

Acima de qualquer crítica, um dos melhores RE de todos os tempos. Desnecessário dizer que ganhou uma versão tosca para o PS2.

Marvel Vs Capcom e Marvel vs Capcom 2

No campo de conversão de jogos de luta em 2d do Arcade, o Dreamcast era perfeito. Sem nenhuma perda de frames, gráficos maravilhosos e coloridos, e sem slowndown. O Ps One ganhou uma versão totalmente ridícula de Marvel Vs Capcom com grandes cortes nos frames e outras coisas. O PS2 também ganhou uma versão, no caso de MVSC 2, totalmente desprezível também.

Street Fighter Alpha 3

A melhor conversão do game diretamente do Arcade, e um dos jogos mais convertidos para diversas plataformas. O Saturn também tem uma versão supimpa, mas na versão Dreamcast era prometido o suporte online para jogatina. A Capcom desativou a maioria dos servidores de jogos do Dreamcast.

Street Fighter 3

Ganhou as 2 versões, Double Impact e Third Strike. Os gráficos pareciam estar em baixa resolução, inclusive quando ligados em um monitor de computador através de um acessório especial, isso ficava evidente. Mas não deixava de ser uma ótima opção para os donos do console. O PS2 só veio ganhar sua versão em 2005. 

 Ikaruga

O melhor shooter de todos os tempos sem dúvida. Além de ter efeitos maravilhosos, o jogo era desafiador. O Gamecube ganhou uma versão do game, mas ele já estava velhinho e não teve nenhum extra. Ikaruga marcou a geração shooter pra sempre.

Ferrari F355 Challenge

Yu Suzuki concebeu este game para ser um simulador perfeito para arcades, você entrava na cabine e tinha monitores por todos os lados para simular a visão de dentro do carro. A versão do Dreamcast ficou muito boa, é claro que sem o uso dos monitores auxiliares (). O PS2 ganhou um conversão horrenda, digna de vômito, é só comparar com a versão do Dream.

Virtua Striker 2000.1

Enquanto o PS2 tinha o Winning Eleven 5, a Sega tinha o Virtua Striker. Ele era absolutamente mais belo que o concorrente forte da Sony, pois as texturas dos jogadores, gramado e o estádio eram realmente de tirar o fôlego. Mas o game era puro e simples arcade, e ficava bem atrás na jogabilidade de simulação do game da Konami. Talvez esse foi um dos motivos do Dream não ter ido pra frente aqui no Brasil. Não ter um Winning Eleven foi um golpe duro ao país que ganhou versão oficial do console pela TecToy.

Quake 3 Arena

O melhor shooter da época ficou perfeito no Dreamcast, com jogatina online e tudo! O PS2 ganhou outra conversão digna de ir pro lixo. Quem jogou sabe do que estou falando.

Estes são apenas alguns exemplos de games que fizeram a história trágica do Dreamcast. Eu realmente espero que nunca mais aconteça a outros videogames o que aconteceu com o gigante branco da Sega. Foi um desperdício e tanto com uma máquina que prometia realizar o sonho de todo gamer, e por algum tempo cumpriu e muito bem o seu papel.

Sammy Anderson

Fundador do GameHall e produtor do programa Versus.

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