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Atirador do RJ jogava games violentos – jogos podem ter influência negativa?

O atirador Wellington Menezes de Oliveira chocou o Brasil e o mundo, quando na última quinta-feira (7) assassinou a sangue-frio 12 crianças em uma escola em Realengo, Rio de Janeiro. Agora documentos e cartas encontrados pela perícia da polícia na casa do criminoso, assim como e-mails, blogs e informações usados por ele na internet, indicam que Wellington tinha fixação por terrorismo, religião e jogos violentos como GTA e Counter Strike.

Os escritos de Wellington, que estão sendo analisados pela equipe da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) na tentativa de levantar um perfil do assassino, revelam textos curtos e incoerentes, que misturam temas como islamismo, cristianismo, terrorismo e jogos eletrônicos, entre referências ao atentado de 11 de setembro em Nova York e ao líder do grupo terrorista Al-Qaeda, Osama Bin Laden.

Wellington Menezes de Oliveira

Aproveitando esse gancho, levantado de forma tendenciosa pelo O Globo, eu pergunto: videogames podem influenciar a violência e crimes? Pergunto pois já não é de hoje que essa questão aparece na mídia, geralmente afirmada por colegas jornalistas (ou políticos) de que os jogos eletrônicos são responsáveis por ações violentas de certos indivíduos.

Não nego que jogos violentos possam ter influência negativa em crianças, ou até em adultos com personalidade instável, mas também filmes, desenhos animados, um cartaz na rua, a pintura da casa do vizinho, o cachorro latindo, a Tartaruga Touché, qualquer coisa, possa criar algum tipo de feito negativo que desencadeia atos de loucura, mesmo em pessoas descritas como “mentalmente estáveis” ou como dizem por aí “eu nunca imaginei que ele faria uma coisa dessas”.

Vejam o filme “Um dia de fúria”, por exemplo, de 1993, uma época em que violência e jogos não eram tão relacionados (a coisa começou a crescer com o lançamento do primeiro “Mortal Kombat”). Um homem desempregado, vivido divinamente pelo ator Michael Douglas, chega ao seu limite quando está preso em um congestionamento de Los Angeles. Ele então “surta” e resolve combater a escória da sociedade por ele mesmo.

É um filme bem verdadeiro, que retrata a condição humana em que vivemos, quando há momentos que parece não haver mais nenhuma alternativa para um ser humano normal, a não ser enlouquecer. Se pessoas “normais” podem ter um lado sombrio, imaginem o que um cara mentalmente perturbado como esse assassino do Rio de Janeiro podem fazer na sociedade?

Pelas reportagens que eu li sobre o caso, Wellington parecia ter grande obsessão por terrorismo e religião. Mas claro, também não adianta nada dizer que é tudo culpa da religião islã por Wellington ter cometido os seus crimes, como algumas pessoas já estão fazendo, o chamando de terrorista fanático. O principal problema estava dentro da cabeça dele, frutos de uma mente doentia e delirante.

De “brinquedos para crianças” para “máquinas de fazer criminosos”, os videogames são taxados, por várias vezes, como responsáveis pelo aumento de criminalidade e alienação social. Sim, eles têm esse potencial negativo, assim como filmes ou outras influências midiáticas, tudo depende das pessoas que os manuseiam, ou de seus responsáveis, se forem menores de idade. Para manter o controle dos pais com os filhos, foi criado na indústria de games um sistema de classificação de faixa etária para os jogos, uma medida perfeita e excelente para os pais terem ideia do que os seus filhos estão jogando. Falar de censura e proibição de venda de jogos são temas polêmicos, alguns até já debatidos aqui no próprio site, como o caso sobre o projeto de lei que proibe a venda de jogos violentos para menores de idade no Brasil.

a mídia associou o massacre de Columbine aos videogames em 1999

Matérias sensacionalistas dão enfoque no fato do criminoso gostar de jogos violentos, e deixam de lado problemas depressivos e transtornos sociais enfrentados em casa, na escola, trabalho, ou seja lá onde for. Como esquecer o caso do Colégio Columbine, Colorado – EUA, em que dois estudantes mataram 13 pessoas em 1999, e a maioria das manchetes estampava que os dois eram obcecados por jogos de videogame violentos.

Escrevo esse texto, aproveitando a tragédia ocorrida no Rio de Janeiro e o fato de alguns sites o relacionarem aos videogames, apenas para atentar as pessoas para saberem diferenciar discursos radicais e intolerantes, sejam eles sobre videogames, religião ou violência, pois não raras vezes, encontro opiniões de pessoas (algumas até em cargos influentes da mídia) que realmente me deixam preocupado. No ano passado, o jornalista norte-americano Roger Ebert, famoso crítico de cinema, escreveu um editorial dizendo que “videogames nunca serão arte”. Ebert foi amplamente criticado pelos leitores e acabou pedindo desculpas, o que mostra o poder e a influência que os videogames exercem hoje no mercado.

Usem os comentários para discutir sobre o tema, abordem questões interessante, façam reflexão e colaborem para uma discussão saudável sobre esse caso que ainda vai dar muito o que falar, especialmente em mídias sensacionalistas. Afinal, acho que não existe ninguém melhor do que nós, jogadores, para discutir se videogames são violentos, se são obra-de-arte ou não, e o que eles têm a oferecer em nossa sociedade, que em minha opinião, têm apenas a acrescentar e a ensinar.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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